Segundo livro que recebi através da parceria com a Companhia das Letras, “Os Gêmeos” é um livro que viaja entre os gêneros, possui elementos distópicos, uma veia épica e fechando a lista uma pitada de sobrenatural ou seria melhor dizer uma pitada de ficção científica? O livro tem um forte caráter introdutório, mas isso nem de longe é um problema. Pauline Alphen construiu um universo rico com personagens muito bons e através de uma narrativa repleta de referências literárias conquista o leitor a cada novo capítulo.
Século XXIII, a terra passou por uma grande catástrofe e o que restou foram apenas comunidades esparsas em um planeta devastado. Do “Tempo de Antes” não restou nada. As pessoas vivem sem nenhuma tecnologia e várias coisas são conceitos de um passado distante. Televisão, cinema, celular, internet, tudo isso são coisas praticamente impossíveis de acreditar. Salicanda é uma das três aldeias situadas nos vales e seu fundador Jors proibiu qualquer resquício do passado. Virou tabu falar do aconteceu. Construída em torno de um velho farol Salicanda vivia em um clima feliz e tranquilo até a noite em que Sierra, filha de Jors, esposa de Eben e mãe de Claris e Jad desapareceu sem deixar vestígio. Nove anos se passaram desde a noite que ela sumiu. Os gêmeos nunca mais foram os mesmos. As características que os uniam se dissiparam naquela noite. Claris se fechou para as lembranças da mãe e se tornou uma garota ativa, fazendo tudo o que o irmão Jad não pode. Claris acha tudo tedioso, com toda sua impaciência não nota as mudanças e os poderes que tem. Jad ao contrário da irmã desde que a mãe desapareceu assumiu com toda a calma e paciência as dificuldades que a vida lhe impôs. O problema no coração que o impede de ser ativo fez com que desenvolvesse muito mais as habilidades da mente. Jad é muito maduro para sua idade e a forma com que disciplinou a própria mente é notável.
O início do livro é um pouco lento para quem gosta de ser tragado pela história logo nas primeiras páginas, mas esse ritmo cadenciado permite degustar mais cada novidade. São poucos os livros que possuem ao mesmo tempo uma ambientação benfeita e personagens fortes. Com toques de humor, referências diversas e personagens singulares Pauline Alphen escreveu um livro único. Um livro com vários elementos da fantasia e do épico, mas no futuro. É diferente parar e pensar que ao invés de passar por uma catástrofe e seguir mais modernos podemos regredir. Casas de pedra, forjas, espadas, arco e flecha, povo das árvores, profecias, elementais, universos paralelos, dons para psíquicos e aventura. São essas algumas das palavras que posso usar para descrever o que você vai encontrar.
É nesse ambiente que conhecemos personagens fascinantes. Uma narração tão boa e repleta de descrições que fica impossível não sonhar em viver num lugar como Salicanda. A autora conseguiu construir um cenário interessante e criativo. Os personagens secundários são tão bem desenvolvidos quanto os protagonistas e todas as pequenas tramas são interessantes, todas receberam a devida atenção. Um dos personagens mais interessantes é Blaise, o professor dos gêmeos, um ancião que estava com Jors quando ele fundou Salicanda. Alternando o foco entre os gêmeos e as andanças de Blaise a narração vai ganhando contornos até o final do livro. A cada nova informação uma pergunta surgia e a forma como Claris e Jad estão relacionados a profecia e ao sumiço de Sierra só vamos descobrir no próximo livro. É curioso o modo como muitas das perguntas de Blaise são também as perguntas de quem lê. Estou ansiosa para saber como Claris e Jad vão ficar depois dos acontecimentos do final do livro.
Não posso esquecer-me das diversas citações de “O Senhor dos Anéis” e “Star Wars”. Foi engraçado demais Claris e Jad achando que Star Wars era um livro ou pior achando que no passado (séc. XXI e XXII) realmente tínhamos a Força, naves e Jedis. A análise de Blaise e Ugh de “O Senhor dos Anéis” também foi perfeita. Para quem adora livros que falam de outros livros com tanta naturalidade é perfeito. A análise de Claris das “princesas passivas” também foi ótima. O jeito que ela fala de Arwen é muito, digamos acertado.
A edição da Companhia das Letras é ótima, o livro ficou tão bom de pegar, eu sei que parece loucura ou besteira, mas é um livro macio, de toque agradável. Não encontrei erros na edição e gostei muito da diagramação. Um livro ótimo em (...)
Termine o último parágrafo em: http://cultivandoaleitura.blogspot.com.br/2012/03/resenhas-os-gemeos.html