Mateus 08/05/2019
Após um amigo do Skoob indicar as obras de Jim Anotsu, foi grande a minha curiosidade para conferir algum de seus livros – sua carreira e a publicação em 13 países realmente é impressionante. Com “A Morte é Legal” em mãos, encontrei uma história infanto-juvenil divertida, envolvente e bastante agradável de se ler – mas também clichê, sem muito a acrescentar e, principalmente, sem personalidade.
“A Morte é Legal” segue a história de Andrew, um garoto de 19 anos, aspirante a escritor e apaixonado por sua melhor amiga (Briony), que não faz nada da vida a não ser escrever, ouvir músicas depressivas e brigar com o pai, que o afronta constantemente por não ter um emprego normal. Certo dia, Andrew conhece Ive, a filha mais nova da Morte, que o convida a iniciar uma jornada em busca dos três nomes de um gato mágico. Caso os nomes sejam encontrados, cada jovem terá direito a um desejo – e o desejo de Andrew é fazer com que Briony se apaixone por ele.
A presunção do autor no prefácio do livro, se sentindo soberano por conseguir trazer ao livro referências para pessoas de todas as idades, me trouxe certo desânimo já na primeira página (literalmente). Jim Anotsu realmente traz ótimas referências em “A Morte é Legal”, abordando livros, escritores, filmes, músicas, passagens históricas e diversos outros temas ligados à cultura clássica e pop, o que enriqueceu e muito a obra e a tornou bastante atrativa. No entanto, muitas vezes as referências estão ali apenas para dizer que existem – nesses casos, são inseridas nos capítulos de forma aleatória, às vezes fazendo pouco sentido e sem acrescentar nada ao enredo. Sim, o uso de referências é imprescindível em qualquer livro, mas é necessário saber como usá-las.
Outro ponto que me incomodou durante toda a leitura é a motivação de Andrew para iniciar a busca pelos nomes do gato com Ive. Por mais que o garoto seja tímido, não seria mais fácil se declarar para Briony do que correr o risco de morrer procurando um gato mágico? Se lembrarmos que Andrew tem 19 anos, isso continua a não fazer sentido.
Está aí outro problema de “A Morte é Legal”: a mentalidade dos personagens. Andrew tem 19 anos, mas parece ter 12. Ive, a filha da morte, aparentemente tem centenas de anos, mas também não parece ter mais do que 15. Não sei como alguém de 19 anos poderia se identificar com as infantilidades de Andrew e seus amigos, mas acredito que se eles fossem mais jovens a história seria mais crível. O comportamento estúpido dos millennials (estou incluído na lista, certamente) já basta na sociedade millennial.
Apesar das críticas, não achei o livro ruim. Os personagens, mesmo que com falhas, são interessantes (a coelha falante Prozy é um ótimo alívio cômico, enquanto Astrophel é um ótimo vilão, tendo mais personalidade que o próprio protagonista). A história, típica da jornada do herói, é feita de forma eficiente e sabe mesclar romance, comédia e fantasia, apesar de ser clichê e não ter grandes diferenciais. E a escrita de Anotsu, apesar de sem personalidade, é bem feita e cativa o leitor.
Durante toda a leitura, não foram poucas as vezes em que comparei mentalmente “A Morte é Legal” com os livros de David Levithan. Esse é um elogio e tanto para Jim Anotsu, já que Levithan é famoso no mundo todo e uma referência em histórias para jovens – apesar de eu ter pavor de seus livros e ter prometido nunca mais ler nenhum deles. No entanto, não vou me surpreender se bater uma vontade de ler algo do Anotsu no futuro, pois talvez ele se sai melhor em outras narrativas.