Psychobooks 07/03/2013
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Já começo me explicando para você, leitor, que pode olhar ali embaixo as estrelas e não entender os motivos de tantos elogios que se seguirão em minha resenha. Quero deixar claro que pensei muito em como classificar o livro do Jim... Fiquei em dúvida se o classificaria dentro do seu gênero ou se o classificaria de acordo com o meu gosto. O lado pessoal venceu, esse é o motivo das 3 estrelas. Tenho consciência da qualidade de sua escrita, do primor do uso de metáforas ou por vezes frases que parecem sem sentido, mas que carregam uma poesia própria. Jim não me ganhou completamente na história, mas não por sua culpa, apenas porque o gênero não é meu preferido. Vamos aos conformes?
Andrew é um garoto de 19 anos que sonha em ser escritor. Muito tímido, segue por todo o canto Briony, uma violinista. Amigos já há algum tempo, Andrew não consegue se declarar a ela, sofre com seu amor platônico, mas a seu ver, a incerteza do sim é mais confortável do que a possibilidade de ser rechaçado por sua amada. Vive à sombra de seu pai, que não respeita sua escolha pela carreira de escritor e que pontua isso a cada olhar e frase. Esse é Andrew. A surpresa em seu núcleo familiar é Amber. A história de Amber é encantadora, terna e verdadeira. Ela canta rap, e juntamente com seu amigo Jonas, busca o estrelato.
Senti que Jim fez um contraponto entre os irmãos, deu a fantasia para um e a cruel realidade para o outro. Discorrerei.
Andrew recebe a parte de fantasia do enredo. Como se ele caísse na toca do coelho de "Alice no País das Maravilhas". Um belo dia, está andando pela cidade, lamentando-se de seus problemas que pare ele, são insolúveis, quando conhece Ive, uma garota de cabelos pretos com mechas verdes, aparência oriental e que tem uma coelha falante. Ive é a filha da Morte, e tem um proposta para ele, encontrar um gato, mais velho do que o mundo e que pode conceder dois desejos a quem descobrir seus três nomes. Ive oferece um dos desejos a Andrew, contanto que ele a ajude em sua empreitada. Andrew, cego de amor por Briony, sabe muito bem quais são seus anseios e como eles podem ser resolvidos. A jornada dele tem início a partir dessa decisão.
Com Amber a narrativa é outra. A realidade é a base de sua história. Jonas, seu melhor amigo, sofre bullying pesado. Jim foi superfeliz na construção dos dois personagens, a aparente fragilidade do menino e a revolta que emana de Amber são bem equilibradas. Os dois têm a personalidade diferente e se completam, formando uma dupla com afinação perfeita; poucas vezes me vi tão enlevada pelo relacionamento de dois amigos em um livro. A construção da realidade do livro é entremeada com referências ao Rap e as figuras de destaque do nicho. Eu conheço muito pouco do gênero musical, mas me senti bem-inserida no texto, já que as explicações de Jim acerca do assunto são feitas de maneira natural.
E óbvio, o que seria um bom livro sem um (ou mais) vilão? Há vilões para todos os gostos. Há vilões pessoais, vilões que abrangem mais pessoas, vilões que perseguem os personagens, em busca de acabar com seus sonhos e há os vilões que buscam apenas o melhor para si. Falarei então de um par que eu ADOREI: Astrophel e Stella. Stella é uma fada que exauriu todos os seus poderes para estender a vida de seu marido. Os dois também buscam os três nomes do gato para conseguirem os desejos e enfim, poderem viver seu amor em plenitude. São vilões do acaso, em nenhum momento questionei as suas escolhas nem me vi fazendo algo diferente do que eles fizeram para alcançarem seus objetivos. Acredito que se o prisma da história mudasse, eles não ganhariam o rótulo de vilões com tanta facilidade.
A narrativa de Jim é em terceira pessoa, passando pela visão de vários personagens, o que nos dá um bom entendimento de toda a trama e os seus porquês. Já falei ali em cima, mas quero reforçar para que fique claro: poucas vezes li um livro com tanta riqueza na escrita, com metáforas bem inseridas e uma poesia tão estranha e ao mesmo tempo encantadora. As frases de Ive parecem às vezes sem sentido, como se ela não conectasse o pensamento ao real; essa é a beleza da construção da personagem, já que como pode a filha da Morte - que carrega um coelha que fala, ainda por cima - ter alguma conexão com o real ou com a fala comumente usada?
Agora tentarei explicar o que me desagradou no livro.
A parte de fantasia me lembrou tanto "Alice no país das Maravilhas", que não consegui me conectar completamente. Eu tendo a me desconectar desse tipo de fantasia com a apresentação de mundos completamente diferentes, com personagens com características que beiram a loucura, onde temos que reestruturar (ou desopilar, mesmo) completamente tudo o que conhecemos como sólido. A imaginação vai tão além que me perde no caminho. Sinto que tenho um limite para a fantasia, como se houvesse uma barreira que quando fosse atingida eu falasse "Tá, agora chega, daqui eu não passo"... Não sei se estou me fazendo entender.
Foi exatamente isso que senti no livro do Jim e esse é o motivo das 3 estrelas.
Você curte o gênero? Se encantou com "Alice no país das Maravilhas" com "O Labirinto do Fauno" e outras obras que tenham esse ambientação? Esse é o livro para você. Jim sabe escrever e sabe manter o leitor curioso.
Faço um aparte para a arte gráfica do livro. A capa está maravilhosa e tem tudo a ver com o clima da história, a diagramação está perfeita, a única coisa que não curti muito foi a fonte usada, ela me incomodou um pouco.
A revisão também está falha, percebi alguns erros de digitação, gramaticais e de concordância. Espero que sejam sanados nas próximas edições.
"A garota bagunçou os cabelos dele e sorriu enquanto começava dar os primeiros passos. Andrew notou que ela ainda sentia o ataque do gubbinal e deixou que se apoiasse em seu braço. Pensou na garota e em como era fácil esquecer quem ela era de verdade. A contenda entre sua mente e seu coração: Tinha empatia por ela e talvez estivessem se tornando amigos, mas no fim ela continuava a ser a filha mais nova do maior medo do mundo."