A Morte é Legal

A Morte é Legal Jim Anotsu




Resenhas - A Morte é Legal


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Bruna 06/01/2013

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Falar deste livro é um tanto complicado. As inúmeras referências, a carga cultural e as mensagens encontradas nas entrelinhas não são fáceis de serem apanhadas de um vez em uma primeira leitura, tão pouco expô-las em uma resenha. Já disse Jacques Barcia, no prefácio do livro:

"Você está prestes a ser enganado. Talvez tenha sido a capa, ou talvez a sinopse. Pode ter sido o primeiro parágrafo. Não importa. Este livro não é o que você pensa sobre ele."

Bem, eu concordo com ele.

Jim Anotsu é um autor brasileiro que chamou minha atenção pelas críticas positivas que recebeu de seu primeiro livro Annabel & Sara. Ele tem um estilo muito próprio, meio nonsense, algo que lembra Carrol de Alice no País das Maravilhas, mas com uma profundidade e uma bagagem cultural que livros infantis normalmente não possuem (e vamos falar a verdade, nem mesmo os adultos).

"Todo garoto apaixonado é um pouco ridículo. Esta é a história de Andrew Webley: Um garoto muito ridículo. Também é sobre como o amor, música, morte e alguma literatura se embaralham no meio da estrada." (Trecho do Capítulo 1- No tempo dos chimpanzés eu era uma ameba, lamento informar assim tão de repente.)

A história, em 3ª pessoa divide-se em 4 perspectivas: Andrew, Amber e Jonas, Astrophel e Stela, e Rayla. Inegavelmente, Andrew é o protagonista, pois todo o enredo gira em torno dele, porém aquilo que acontece com os outros tem um papel importante nesse enredo, e até mesmo Amber, que segue a maior parte do livro tendo uma história "separada" da do irmão Andrew, acaba tendo sua trama cruzada com a dele.

Andrew mora na cidade de Dresbel, junto com seu pai e Amber; sua mãe morreu anos antes de uma doença com um nome de jogar de baisebol. Ele é um garoto comum (bom, nem tanto assim), fechado no seu próprio mundo, tem um gosto musical "meio triste" e uma bagagem literária apurada. Com 19 anos, Andrew não estuda, não trabalha e tem o sonho de tornar-se escritor. Passa o tempo lendo e e escrevendo o seu livro "A violinista de Fevereiro" que é baseado em Briony, sua melhor amiga, por quem está apaixonado.

As brigas constantes com o pai por não fazer nada em relação ao seu futuro a não ser escrever, mais o fato de não conseguir declarar-se à Briony, fazem de Andrew um garoto meio deprimindo, sem uma perspectiva real do que fazer da própria vida.

Mas tudo parece mudar, quando ele conhece Ive - a filha mais nova da morte e ceifadora estagiária. A garota está atrás dos três nomes do Gato, um feiticeiro poderoso que promete conceder a realização de dois desejos a quem conseguir reuni-los, e que propõe dividir seus desejos com Andrew se este ajudá-la na empreitada. O garoto aceita, na esperança de poder desejar que Briony apaixone-se por ele. Porém eles não são os únicos atrás do nomes. Astrophel e Stella também estão nessa busca e o conflito entre eles é inevitável.

Rayla, a irmã mais velha de Ive que aparece como uma figura temida por todos, tenta impedir que tomem posse dos nomes e sai "a caça" de Andrew e da irmã.

Paralelamente temos a história de Amber e Jonas. Uma parte menos fantasiosa do livro e que concentra mais nos conflitos adolescentes dos dois e, talvez por ser algo mais perto do real, foram as passagens que mais conseguiram emocionar-me. O sonho dos dois é trabalhar como rapers e a busca por esse sonho, aliada aos anseios e conflitos próprios da idade, chega a ser tocante.

A divisão dos pontos de vista permite que conheçamos o íntimo de cada um dos personagens, e não apenas o do protagonista. Conhecendo-os e sabendo os motivos que os levam a agir como agem, faz com que em um dado momento você perceba que todos estão certos e errados ao mesmo tempo. Que não existe "o mau" ou "o bom" da história, apenas circunstâncias da vida que os colocaram em lados diferentes.

Não há como não se emocionar com o passado de Astophel e Stella, o valor da amizade de Amber e Jonas ou com os conflitos internos de Andrew tentando encontrar ele mesmo.

Em meio a tudo isso, o romance acaba sendo colocado de lado. Não que ele não faça parte, afinal é aquilo que sente que faz com que Andrew busque os nomes do gato. Porém, as cenas de ação, as histórias paralelas, e a convivência do garoto com Ive, farão com que a história tome um novo rumo e sentimentos novos comecem a florescer.

A morte é legal, é uma daquela histórias que quando acabam deixam um vazio enorme, com um final para lá de inesperado, fora dos clichês, mas nem por isso menos realista.
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Antonio Luiz 08/10/2012

Rapaz encontra garota, uma história original. Sério.
Se há um gênero do qual ninguém espera muita novidade é a comédia romântica. Por definição, o núcleo do enredo gira em torno da busca de amor por um ou mais protagonistas e (quase) sempre acaba por unir casais improváveis depois de muitas brigas e mal-entendidos. Não que isso necessariamente resulte numa obra inferior: muitos clássicos de William Shakespeare, Jane Austen, José de Alencar e Machado de Assis se enquadram nessa moldura. Também não chega a ser uma inovação combinar essa estrutura a elementos fantásticos que nem sempre a tornam menos previsível: é uma tradição que inclui tanto "Sonhos de uma Noite de Verão" de Shakespeare quanto "Stardust" de Neil Gaiman.

É agradável, contudo, encontrar uma agridoce comédia romântica de fantasia que, sem deixar de atender aos requisitos essenciais do gênero, consegue surpreender tanto na linguagem e no cenário quanto na maneira de conduzir e concluir a trama principal e as secundárias. "A Morte é Legal", do autor mineiro que usa o pseudônimo de Jim Anotsu, é uma fantasia moderna, ambientada numa cidade imaginária chamada Dresbel (misto de LonDRES e BELo Horizonte, mas com uma torre parecida com a Eiffel) e em seus submundos fantásticos, que incluem o mundo das fadas e o mundo dos ratos.

Andrew, um candidato a escritor de 19 anos, com poucos talentos além do sarcasmo, sem rumo na vida e desavergonhadamente emo e depressivo, mas com vergonha de quase tudo o mais que se possa imaginar, conhece uma garota chamada Ive (um tanto parecida com Björk), portadora de uma coelha falante, que lhe propõe saírem juntos em busca dos três nomes de um certo gato, senhor todo-poderoso de dezenas de universos. Se forem bem-sucedidos, o gato atenderá dois desejos. Ela quer fugir ao destino de herdar o negócio da mãe, nada menos que a Morte, a dama da foice, e ele quer conquistar Briony, uma garota alegre que toca violino numa banda de folk rock. Mas têm antagonistas de grosso calibre. De um lado, o mago Astrophel, que disputam o mesmo prêmio para escapar à morte que ameaça a ele e à fada Stella – que abriu mão da imortalidade para prolongar a vida do marido – após muitos séculos de casamento. De outro, Rayla, irmã mais velha de Ive, comanda a D.I.E. – a tropa de elite da Morte– e quer impedir Ive de atingir seu objetivo e por em risco a ordem de todo o Universo. Enquanto isso, Amber, a irmã de Andrew, sonha aos quinze anos ser uma estrela do rap ao lado de seu amigo Jonas, vítima habitual do bullying de valentões.

A partir destas premissas, quem já tem alguma experiência de comédias românticas não terá muita dificuldade em prever o rumo geral do enredo. Mas pode apostar que será surpreendido – sem ser decepcionado – tanto com as peripécias quanto com os desenlaces. Como sugere essa sinopse, a trama tem um enorme potencial de absurdo, fantasia, humor e alusões culturais populares e eruditas que, o leitor fique sossegado, será muito bem explorado. A aventura fantástica de Andrew e a pé-no-chão de Amber abrem caminho tanto para um imaginário irônico e alucinado quanto para a realidade das ruas do século XXI e a cultura da música pop na qual jovens desesperançados buscam o sentido que não encontram em suas vidas. De brinde, vêm o prefácio mais honesto e provocante na história da literatura fantástica brasileira, de autoria de Jacques Barcia, e nas vinhetas de cada capítulo, frases de A Violinista de Fevereiro, o tal romance que Andrew luta ingloriamente para escrever. O único reparo a fazer é que a revisão deixou escapar muitos pequenos erros, dos quais o mais frequente é a troca indevida de pronomes retos por oblíquos.

O que não dá para mostrar só com o resumo é que a história é, além de tudo, narrada numa linguagem ácida e divertida, com frases bem sacadas, criativas e sinceras a cada passagem.. Um exemplo:

"Ive levantou-se e encarou-o de uma forma séria. Havia um jogo nos olhos escuros dela. Um jogo de olhos capaz de fazer com que um urso faminto rolasse e fingisse de morto.

– Você realmente gosta dessa menina?

– Claro que sim.

– E se houvesse uma forma de você ficar com ela sem sofrer, você aceitaria?

– Se fosse possível… Quem não desejaria isso? Mas as coisas simplesmente não funcionam assim.

– Funcionam, Andy, garoto de pouca fé.

Andrew não entendeu de imediato o que ela queria ao se abaixar na grama e apanhar alguma coisa, mas logo viu se tratar do pássaro morto. Ela o segurava cuidadosamente e passou uma das mãos para ajeitar as penas. Sua mente não conseguia adivinhar o propósito daquilo e estava começando a pensar que a garota tinha um sério desajuste mental.

– Nunca conte isso para minha mãe, seria ruim para os negócios da família. E o mais importante… silêncio, bobinho.

– O que você…

– Não diga nada. Eu preciso de concentração.

Ficou observando sem entender o desenrolar da cena. Viu os lábios dela se moverem em silêncio. Estava começando a se sentir desconfortável. Olhou em todas as direções pra checar se mais alguma pessoa estava com os olhos postos sobre aquela situação atípica. Mas as pessoas de Dresbel não davam atenção a qualquer coisa que não fosse um obstáculo imediato ao próximo passo.

– O que você está fazendo? – perguntou, a voz esganiçando como na puberdade.

Nenhuma resposta. Talvez o melhor fosse simplesmente se despedir dessa garota esquisita e ir para casa escrever. Imaginou o que um observador casual poderia pensar ao ver aquela cena. Preocupar-se com as opiniões alheias era tão natural quanto respirar para ele. Talvez isso fosse culpa de sua garota de treze anos interior, uma drama queen cuja escala Richter de ataques ia de nada a dez num piscar de olhos.

Andrew nunca havia sido raptado por alienígenas nem enfrentado um rinoceronte faminto. Nunca se meteu em uma briga ou nadou além do que seus pés alcançavam. Nem mesmo viu um fantasma ou esteve em um tiroteio. Sua vida tinha sido um grande tédio desde o início. Mas no segundo em que viu o pássaro começar a bater asas e sair voando para o alto e mais um pouco, pensou: Ah, droga!"

P.S.: é irresistível tomar nota também destas que estão entre as frases mais originais e absurdas que um casal de personagens já trocou após o sexo na história da literatura:

"– Você está com o sorriso de uma marmota numa casa da árvore.

–Pelo menos eu não pareço uma torta de abóbora."

São frases tão bem achadas que o leitor chega a desejar que realmente rinocerontes fossem carnívoros e marmotas fizessem casas nas árvores. Para que elas fizessem mais sentido.
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Fimbrethil Call 28/09/2012

A filha da morte tem irmãs
Livro divertido e movimentado, com duas personagens centrais, que vivem tramas diferentes. Jim anotsu, essa é pra você: gatos não são dissimulados e cruéis, quem é assim são os seres humanos.
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Vilto 26/09/2012

Resenha: A Morte é Legal - Jim Anotsu
“Deixe-me esclarecer as coisas. Antes que eu mesmo as escureça...”, para já começar com um trecho do livro. A Morte é Legal, de Jim Anotsu, publicado pela Editora Draco; foi, sem dúvidas, um dos livros mais surpreendentes que eu li em 2012. Sabe quando você pega aquele monte de páginas – pois racionalmente não passa disso, mas quem disse que humanos são racionais? - e a devora as páginas, de modo que nada mais importa? Então, este é o livro de Jim Anotsu, uma lontra, segundo ele.

Andrew é um garoto normal. Na verdade, estonteantemente – para usar um adjetivo alá Douglas Adams – normal. Ouve Hard-core emocional e lê muitos livros, fica evidente que é um anglófono de plantão; e apesar dos 19 anos, não arrumou um emprego como os garotos comuns fariam, ele escreve o livro A Violinista de Fevereiro, durante a trama. O que ele não poderia esperar foi o encontro inusitado numa tarde comum da cidade de Dresbel. O gatilho da história coloca o personagem principal diante de uma escolha, ele que até o momento se escondia atrás do cachecol antes de tomar qualquer decisão. A partir daí, o leitor conhece uma das personagens mais importantes do livro, a simpática Ive, a princesa do fim inevitável (risos). Além disso, a relação de amizade de Jonas e Amber, a irmã de Andrew, é outro ponto forte e emocionante do livro.

“... Deveria estudar alguma coisa útil como engenharia ou odontologia, pensava, ou no mínimo procurar um emprego.
Tudo. Exceto escrever. O velho Platão expulsou os poetas de sua república real! – exclamava consigo. – Contudo, não seria feliz acordando de manhã e indo para um emprego entediante onde colocaria dinheiro nos bolsos de alguém provavelmente menos inteligente do que ele”. (pg. 41).

A profusão de personagens é incrível, para citar pelo menos três que me surpreenderam:
Rayla: A irmão mais velha de Ive e responsável por cumprir com toda a burocracia do mundo espiritual.
Prozzy: a coelha, pessimista ao extremo, de estimação de Ive (para não dar spoilers).
O Gato: ser mais poderoso do universo com três nomes.

Os personagens têm profundidade diante da narrativa de capítulos curtos de Anotsu. Um exemplo bem forte disso foi quando comecei a entender as motivações de Rayla, ao ser tão dura e fria. Outro exemplo, é a forma como Andrew age diante das situações, graças ao que o autor fala sobre a mãe do personagem, fica claro.

“Andrew nunca sentiu tanto medo quanto naquele instante. Para uma pessoa como ele, ter sua imaginação roubada seria o pior tipo de sofrimento possível. O pequeno conceito de felicidade que habitava a sua vida provinha da imaginação e se isso fosse tomado, não haveria muito pelo qual viver”. (pg. 55).

Para mim, algo que ficará marcado na leitura deste livro é a identificação com o personagem principal. Separei duas citações que me fizeram sentir-me “em casa”:

“Eu sei o que você sente. É como gostar de maçãs num mundo que serve apenas bananas. A gente pode ser diferente de todos e realizar os nossos sonhos”. (pg. 100)

“Não gostava de ser obrigado a dirigir. Odiava automóveis! Todo garoto da sua idade parecia pensar neles durante cada segundo, mas lhe parecia absurdamente idiota a ideia de desejar uma lata que serviria apenas para consumir seu dinheiro em impostos e combustível”. (pg. 216).

Outra detalhe a se destacar, é o trabalho de design gráfico do livro. Só pela capa e edição, já valeria a pena!

Para finalizar, afirmo que estou naquela ressaca literária de querer passar mais tempo lendo aquele livro e convivendo com aqueles personagens. Pouca coisa valeu tanto a pena como os olhares estranhos que eu recebi ao circular no terminal de ônibus com este livro de capa roxa.

Confira mais resenhas e novidades sobre literatura no blog Homo Literatus, acesse: www.homoliteratus.com
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Cristiano Rosa 21/09/2012

Diário CT: A Morte é Legal
Um garoto de 19 anos torna sua realidade mais fantástica ao aceitar uma proposta da filha mais jovem da Morte – a de ter reciprocidade em seu amor platônico. Em consequência, ambos partem em busca dos três nomes de um gato – na verdade uma criatura em forma de gato – que realiza dois desejos se uma pessoa descobrir seus nomes verdadeiros. Essa é a trama inicial de A Morte é Legal, segundo livro do jovem escritor Jim Anotsu, publicado recentemente pela Editora Draco.

A obra, de 316 páginas, conta com prefácio de Jacques Barcia e apresenta 69 capítulos divididos em três partes mais um epílogo. Com ilustrações e uma frase encabeçando cada um dos curtos capítulos, a narrativa cativa o leitor pela sua simplicidade e, ao mesmo tempo, pela sua profundidade cultural, com ótimas referências à música, à literatura, ao cinema e ao teatro.

O protagonista é Andrew, um garoto culto, moderno, apaixonado por Briony, órfão de mãe, que mora com o pai e a irmã mais nova, Amber. Certo dia Ive, uma ceifeira estagiária que tem uma coelha que fala, aparece e lhe promete sucesso no amor, então eles partem a uma missão cheia de descobertas e personagens interessantes.

A história tem como ambientação uma cidade chamada Dresbel e o seu submundo, a Cidade de Hoon – o mundo das fadas -, que é habitada por criaturas que nem mesmo a criatividade fértil do personagem central poderia supor. Nela existem duendes, fadas, magos, feiticeiras, espíritos, demônios e gubbinals – seres que se alimentam de cores, imaginação e pensamentos (e eles me lembraram muito os dementadores da Rowling).

Os personagens têm características marcantes e que são apresentadas aos poucos aos leitores. Amber é cantora de rap e com seu amigo Jonas tentam conquistar espaço na música; Astrophel, um mago, e Stella, uma fada, também estão atrás dos três nomes do gato; Rayla é outra filha da Morte que com sua raposa falante Shaitiri querem arruinar com os planos da irmã.

Alegrias, medos, fugas, despedidas, descobertas, choros, carinhos e mortes transcorrem a história com muita aventura e drama, humor e romance, suspense e muita magia. A dupla Andrew e Ive descobre onde estão os nomes, e para isso acabam em vários lugares, como um cemitério, um esgoto e um clube, e interagem com muitos animais falantes, como pássaros, ratos e gatos.

A narrativa é construída com analogias e metáforas, filosofias e críticas, sempre sob uma fantasia suave e encantadora, marca do autor que inova seu estilo singular criado em Annabel & Sarah, seu primeiro livro. Ao longo do livro temos tramas paralelas – Andrew e Ive, Amber e Jonas, Astrophel e Stella, Rayla e Shaitiri – que aos poucos se misturam e revelam muitas surpresas.

A leitura foi muito prazerosa, a história envolve de tal maneira que mesmo tudo passando tão rápido pela agilidade no ato de ler, é possível visualizar bem cada uma das cenas, sempre muito bem descritas, e se envolver com as personagens, sendo as principais carinhosamente chamadas de Docinho de Tinta e Princesa do Fim Inevitável. A Morte é Legal vai além de uma boa literatura juvenil, pois agrada a leitores de todas as idades, ultrapassando qualquer classificação etária. E se você quer saber se a Morte realmente é legal ou apenas uma impressão, só lendo!

Fonte: http://www.blogcriandotestralios.com/?p=18817
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Lucas Rocha 20/09/2012

Jim Anotsu está de volta, e isso já é motivo para comemorar. Derretendo corações juvenis com seu romance extremamente pop “Annabel e Sarah” em 2010, Jim volta para nos brindar com seu segundo romance, “A Morte é Legal” (Editora Draco, 320 pág). E, sabendo que seu primeiro livro havia sido muito bem criticado por todos, lá estava Jim com um pepino gigantesco em mãos: a crise da segunda criação. Como fazer o público continuar amando sua nova história ao mesmo tempo em que o próprio autor tenta se desafiar para criar um texto mais maduro e que dialogue com suas emoções sem que isso soe falso? Como dosar a mão entre referências, texto, pontos de vista diferentes e o tanto de coisa bacana que ele quis comprimir nas 320 páginas que duram o romance?

Posso dizer que Jim conseguiu o que todo autor do segundo romance almeja: ser melhor que seu primeiro livro.

Vamos à sinopse: a história principal gira sobre Andrew Webley, um garoto de 19 anos meio emo, aspirante a escritor e colecionador de cachecóis e música triste. Ele é secretamente apaixonado por Briony há três anos, mas não consegue se declarar. Até que, certo dia, andando pelas ruas da cidade de Dresbel, ele esbarra com Ive, uma menina de cabelos pretos com mechas verdes que possui uma coelha de estimação falante e mau humorada, e que por acaso é a filha da Morte. Ive lhe faz uma proposta que pode mudar para sempre a vida de Andrew: partir com ela em busca dos três nomes da criatura mais importante do universo, o que pode garantir a realização de qualquer desejo. Pensando no amor de Briony e em como pode ser correspondido pela primeira vez na vida – mesmo que à custa de um desejo – Andrew aceita o desafio e parte com Ive em aventuras por diversos mundos paralelos e mágicos.

Não temos apenas o desdobramento das aventuras de Andrew. Ao longo do livro, somos apresentados a mais dois pontos de vista que se desenvolvem paralelamente ao dele: o de Astrophel e Stella, outra dupla que também está atrás dos três nomes; e o de Amber, irmã mais nova de Andrew e apaixonada por hip hop. Um dos principais motivos que me fez curtir a história de Amber – que é completamente destituída de fantasia e prefere seguir por um caminho mais urbano – foi o fato de aprender enquanto lia. Acho esse fator de poder entender um universo distante de mim como o hip hop fundamental para querer me embrenhar cada vez mais no texto. Não só pela citação aos rappers e à sua história no hip hop (não que eu não me pegasse cantarolando Eminem ou Lady Souverign às vezes), mas por todo o contexto em que são feitos, pelas notas de rodapé com as explicações dos termos específicos e por toda a paixão de Amber que escorre pelas páginas.

O texto de Jim está muito mais maduro, e isso é visível a quem leu ‘Annabel e Sarah’. “A Morte é Legal” apresenta conflitos extremamente críveis e reais, que vão muito além dos problemas aventurescos de encontrar os três nomes. Temos na relação de Andrew e seu pai um panorama complexo que envolve autoritarismo por parte do pai e insatisfação por não ser aquilo que o pai espera por parte de Andrew; da saudade da mãe morta por uma doença com nome de jogador de beisebol aos olhares frios e dos discursos cada vez mais incisivos de “você tem que arrumar um emprego e parar de sonhar com coisas que não vão acontecer, Andrew”; os pensamentos de Andrew sobre amor, que são tão complexos quanto os que possui em relação ao pai, pensando no amor que sente por Briony e em como ele é frágil; os pensamentos de Amber, irmã dele, sobre ter menos reconhecimento que o irmão enquanto o irmão pensa não ter reconhecimento algum... Todos os personagens que transitam pelo romance tem sua construção psicológica muito bem guiada pelas mãos do autor. Todos possuem seus desejos, anseios e questões. Muito bacana conseguir fazer isso com tanta gente em um espaço relativamente pequeno para a quantidade de personagens.

Jim Anotsu continua com suas referências pop que o deixaram bastante conhecido, mas dessa vez consegue dosar a mão e fazer com que se tornassem mais orgânicas em relação ao romance. É impressionante a amplitude de referências musicais e literárias que ele consegue abarcar em seu romance. Nem todas são identificáveis (nem acho que devam ser) e outras são bastante nítidas. Outra opção que casou perfeitamente com o romance foi o estilo indireto de diálogos. Pode ser um detalhe mais técnico, mas tenho que pontuar que esse tipo de texto faz com que a ação seja mais fluida, sem a quebra de parágrafo e o início de um travessão para o diálogo. Colocar uma fala em um bloco de texto junto à descrição narrativa dá a sensação de movimento, de que as coisas ainda estão acontecendo enquanto os personagens ainda estão falando.

As ilustrações do livro são outro atrativo maravilhoso: comprei a versão em e-book (ainda não vi como ficou o livro físico), mas as ilustrações e a diagramação estão excelentes. Minha única ressalva vai para os problemas de revisão, com pequenos errinhos a cada duas ou três páginas que se tornam irritantes com o passar do tempo. Não é nada que prejudique a leitura ou altere o significado de alguma frase, mas acho que uma semana a mais no forno ou uma última leitura mais detalhada para pescar esses tipos de erros seriam muito bem vindos.

“A Morte é Legal” vem para confirmar a competência de Jim como autor e colocá-lo em alta conta dentro da literatura de fantasia atual. Consegue ser pop sem ser infantil; consegue ser romântico sem ser piegas e consegue o que todo autor quer: dosar muito bem estilo e diversão sem perder a mão para nenhum dos dois lados. Temos bombas de antiimaginação voando pelos ares ao mesmo tempo em que temos conversas internas sobre dor, perdas e sentimentos. O enredo é bastante inteligente e não subestima o leitor, as reviravoltas são bem pontuadas e tudo casa muito bem, flui muito bem. Um dos melhores romances que a Draco lançou nesse ano. Imperdível!
Bruna 20/09/2012minha estante
Se eu já estava com vontade de ler, agora fiquei ainda mais curiosa *---*




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