Nica 24/03/2012A arte do re-encontro "Eu escrevo para acreditar em um mundo diferente do que vejo."
Leila Krüger
Reencontro é o primeiro livro da autora gaúcha Leila Krüger e, devo adiantar, um "tapa na cara" no que diz respeito a arte de amar. Essa resenha foi uma das mais difíceis para mim. Como na resenha de A Fada, Reencontro me lembrou da minha infância, das minhas perdas, dos meus encontros e desencontros, mas, acima de tudo, da saudade e dor que sinto pela ausência de minha mãe. Foi um livro intenso e que me trouxe muitas emoções. Espero que consiga mostrar um pouco do maravilhoso exemplo de amor e superação que esse livro é.
“O amor... é só ilusão. – sentenciou Ana Luiza”
O livro conta a história de Ana Luiza, uma jovem linda, com uma vida aparentemente perfeita - estuda em uma ótima faculdade de Odontologia, mora em um bairro nobre, próximo ao Parcão, em um apartamento excelente -, porém, a vida de Ana está longe de ser perfeita! Ela não está satisfeita com suas escolhas, seus pais estão sempre brigando. Ana não tem muitos amigos, somente Nana, sua fiel e escudeira companheira, sua melhor amiga. Além de Nana, a única pessoa que parece se preocupar com Ana, é sua Tia Ella, empregada da família há anos e que não critica suas atitudes, seus vícios, apesar de discordar.
“Aquela fora sua primeira grande curva, ela achava. Uma escolha, a primeira curva. Uma fuga. No fim ela percebia que era tudo uma escolha. E não escolher era uma escolha.
Não escolher na hora certa também.”
Em Reencontro, veremos a vida de Ana Luiza se desenrolar, veremos seus altos e baixos - muitos baixos, na verdade -, veremos suas perdas, relembraremos seu passado e descobriremos como as escolhas que fazemos e as experiências pelas quais passamos nos desenham, nos moldam para o futuro. Ana Luiza conhecerá Rafael, que apesar de grande resistência por sua parte, se tornará seu melhor amigo e aquele por quem Ana se apaixonará. Apesar de negar isso com todas as suas forças!
“Rafael Benedetti , era o nome dele. Um nome forte.
Um nome bonito. Agora eram oficialmente amigos.”
Rafael era também aluno de Odontologia e músico nas horas vagas. Tinha uma história de vida dura também. Perdera pessoas queridas. Perdera seu pai para outra família. Tivera que crescer e ajudar sua mãe a segurar a onda... Mas, era um sobrevivente. Era, como Aninha mesma falava, um sonhador. Acreditava no Amor, acreditava que a vida tinha seus propósitos. Colocava isso em suas músicas. Tinha sempre palavras bonitas. Ana não gostava muito disso, provavelmente porque sabia que ele tinha razão...
“-Ah, Rafa... O amor tá mais pra tempestade em alto mar do que para lago.
- O amor não é perfeito, longe disso. Mas é bonito. É simples... É inexplicável. É forte e ao mesmo tempo amável.”
Reencontro... Um livro de amor, de superação, de perdas, de segundas chances. Que trata do mundo das drogas, que mostra aonde este pode levar as pessoas: ao fundo do poço ou, pior, a morte. Trata de doenças como o Câncer e de como ainda se pode ter esperança, FÉ, mesmo quando tudo parece estar definhando... quando tudo parece estar culminando para um final!
“Deus... – ela ironizou. – Acho que o cronômetro d’Ele não funciona direito.
Mas ele não parecera dar importância à declaração cáustica dela: Há tempo de lutar, e tempo de viver em paz. Acho que, agora, é tempo de lutar."
A obra de Leila Krüger é contada em terceira pessoa, como se Ana Luiza estivesse nos contando, mas de uma perspectiva exterior. Nos faz refletir sobre nossas escolhas, certas e erradas, nos faz repensar nossas crenças, nos faz repensar nossas amizades. É um livro altamente reflexivo e intenso. Sofremos com Ana Luiza todas as suas derrotas e vibramos com suas melhoras. Sabe aquele livro que você consegue imaginar, sentir, viver as cenas? Esse é Reencontro.
A história é linda, emocionante e traz um alerta para os jovens de nossa sociedade que acreditam que a vida deve ser vivida de maneira inconsequente e imprudente. Através da dor, ela faz seu ponto. Ela nos mostra que nem a bebida, nem as drogas são libertadoras. Ao contrário. Ela nos mostra que os jovens ficam cada vez mais presos às coisas erradas, sofrem muito mais do que aliviam suas dores.
“Ana Luiza era a menina do olhar longínquo, perdia-se em sua distância... Bebeu uns três drinques. Levantou-se daquela mesa suja de bar sem saber para onde ir.
Anoitecia... É que não havia nenhum lugar onde ela quisesse estar, muito menos em sua casa, que nem era um lar...”
Chorei com Ana Luiza, me apaixonei, a odiei, a amei, senti raiva, senti pena... Uma personagem como muitas que já passaram por nossas vidas, sejam amigas ou conhecidas. Uma vida que, se abandonada, estaria para sempre perdida! Uma vida que, apesar de todo o sofrimento, de toda a dor que emana de seu ser, pede por socorro! Implora por, nada mais nada menos que, AMOR!
“A lua era cheia. Ana Luiza adorava a lua cheia. O olho do céu bem aberto. Olho de prata que via tudo. Sem perceber, ela descansou sua cabeça no ombro dele, vidrada no olho do céu. Daquele olho ela não tinha medo. Não era como o olho das pessoas.”
Enfim, espero que tenham se interessado. Como eu disse, essa resenha foi uma das mais difíceis de escrever. Eu realmente me envolvi, lembrei de minha infância (citações como As Paquitas e meu livro favorito Meu Pé de Laranja-Lima), lembrei do sofrimento de minha mãe quando atropelada, lembrei dos seus olhos, acamada e incapaz, lembrei, ainda, da dor de perder esse amor... seu falecimento, sua ausência! Por isso Reencontro é um dos meus livros favoritos a partir de agora. Vocês devem se perguntar: Como? Você sofreu! Mas foi através da dor que me descobri, foi através da dor que aprendi o que é amor, foi através da dor que hoje sou quem sou!