14 contos

14 contos Kenzaburo Oe




Resenhas - 14 Contos de Kenzaburo Oe


5 encontrados | exibindo 1 a 5


pitypooralfie 26/10/2023

19.10.21

Logo no primeiro conto, tive a impressão de que a forma de escrita do Kenzaburo é bastante semelhante a do Haruki Murakami; aquele jeito de narrar os acontecimentos e pensamentos dos personagens da forma mais clara e econômica possível. E eu, particularmente, amo esse estilo mais limpo.

Como todo livro de contos, alguns sempre agradam mais do que outros. Sinto que esperava muito mais do volume como um todo, mas consegui aproveitar bastante esse primeiro contato com o Oe. Gostei especialmente do modo como ele trata relacionamentos disfuncionais e fadados ao fracasso.

Quanto mais penso neste livro, melhores impressões eu tenho. Depois de algum tempo, a sensação que permanece é de uma leitura muito proveitosa, cheia de acontecimentos misteriosos e personagens multifacetados que eu amo. E isso tudo apesar das expectativas parcialmente frustradas.

Sem dúvidas, me deixou com vontade de conhecer mais da obra do Oe.
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Jacy.Antunes 08/10/2023

O homem sexual
Kenzaburo Oe, Nobel de Literatura em 1994, escreveu, além de contos, Uma Questão Pessoal : relato autobiografico onde ele escreve que pensou em matar o filho recém-nascido ao saber que ele teria uma vida vegetativa.
Alguns dos 14 contos dessa coletânea se destacam como A Conveniência: um rapaz que mora no quarto da casa de um ancião
não consegue se mudar para morar com a sua noiva porque quatro macacos o vigiam.
O conto mais mais perturbador e o que certamente ficará na minha memória é o Homem Sexual : o fetiche de um homem é descrito com naturalidade, sem viés pornográfico.
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Pablo Paz 22/10/2021

Tenho corpo, logo existo...
O filósofo F. Nietzsche (1844-1900) dizia que a filosofia ocidental (e a literatura em geral) devia pensar o Corpo. Esse conselho soaria estranho a um autor japonês como Kenzaburo Oe (1939-), aliás, uma das influências de Murakami.

Vai uma citação da obra: "Não há nada realmente importante neste mundo, nenhuma aflição, nada digno de angústia. Ponham-se então na pele daqueles que, sabendo disso, tudo têm de suportar em silêncio e continuar a viver, daqueles que têm de viver exultantes aturando estoicamente esta amargura que vocês, que ora correm rumo ao inferno, não conseguiram afinal suportar!"

Seus contos em geral não agradam a muitos leitores ocidentais exatamente por isso: ele PENSA e trata do corpo, como é comum na literatura japonesa, de forma muito natural, em especial da decadência física (doenças, abortos, rugas, sangue, impotência masculina, envelhecimento feminino...). Tão natural que, quando ele fala sobre aborto, masoquismo ou faz analogias como "cerveja tem essência de xixi" leitores cultos ocidentais tendem a ficar corados ou achar que se trata de mau-gosto, julgando o livro com frases como "o autor é bom, mas não gostei de todos os contos". Por trás desse tipo de opinião inteligente o que realmente dão é uma opinião puritana, tendo sobre o Corpo (e toda a sua decadência) um olhar moral que os japoneses, em geral, não costumam ter.

Ele trata de muitos temas mas, para mim, o que atravessa esses contos é esse "pensar o corpo" por meio de personagens tanto estoicos quanto hedonistas, porém sempre de modo holístico, personagens que gritam: "Meu corpo está em decadência, oh então estou vivo". Em suma "Tenho corpo, logo existo!". Algo que os escritores ocidentais, do centro ou da periferia, ainda têm muita dificuldade em naturalizar, e devido não só a nossa moralidade judaico-cristã que separa corpo (mau) e alma (boa), como também ao predomínio do Logos no mundo moderno, o "Penso, logo existo" do genial Descartes. É claro que há autores ocidentais que tentaram romper com tal dualismo, mas chocaram tanto que até demos, melhor classificamo-los, um nome para eles: autores malditos (Sade, Sacher-Masoch, Georges Bataille, Henry Miller, Anais Nin, Pier P. Pasolini e, no brasil, Cassandra Rios). O olho torto da crítica acadêmica para os livros de literatura erótica lidos por mulheres trabalhadoras não é só de 'falta de qualidade' ou de 'bom gosto' etc.; também tem a ver com esse puritanismo. (Por ex., nunca vi nada tão preconceituoso quanto classificar uma autora/obra de 'soft porn'. Ou é pornográfico ou não é, ahahah)

Se você quiser saber se é puritano, leia autores japoneses como Kenzaburo Oe. Se achar que 'o autor é bom, só que sei lá, não me agradou muito' é porque tu és bem puritano, mas o politicamente correto ou a caretice talvez te impeçam de dizer às claras. Esta coletânea, ainda que subjetiva em suas escolhas, é alta literatura e faz jus ao Nobel ganho em 1994.
Ana Sá 22/10/2021minha estante
A minha lista de "quero ler" que lute a cada resenha que você faz! ?


Pablo Paz 22/10/2021minha estante
Vindo de uma escritora, sinto-me lisonjeado. ?




Henrique Fendrich 17/02/2020

Kenzaburo me lembrou, nesses contos, outros dois escritores cujos nomes começam com K: Kafka e Kundera. O primeiro é responsável pela atmosfera absurda e pelo ambiente de opressão enfrentado por personagens. O melhor exemplo disso é o conto “A convivência”, também o que de mais gostei. O conto me lembrou muito “Blumfeld, um solteirão”, do Kafka.

Afinal, também ali há um personagem que enfrenta em sua própria casa um evento extraordinário e sem sentido (neste caso, a aparição de quatro macacos que o observavam continuamente) e também ali a trama prossegue para o ambiente de trabalho (onde se encontra, presumivelmente, as motivações para o estranho fenômeno). Achei esse o melhor conto.

Outro conto bastante kafkiano, apesar do formato de peça de teatro, é o que abre a coletânea, chamado “O armazém zoológico”, sobre uma cobra que fugiu do circo e supostamente teria engolido um estudante. Há até mesmo uma boa dose de humor na trama, mas também interessantes jogos psicológicos, em meio às irrealidades enfrentadas pelos personagens.

Pode-se falar ainda em “Os pássaros”, onde o personagem não “cria” para si macacos, mas aves. “Aghwii, o monstro celeste”, é também uma história que trata de aparições imaginárias, evidenciando ser esse um dos temas mais caros ao escritor.

Já sobre Kundera, a associação que pude fazer foi a partir dos contos de Kenzeburo que configuram “risíveis amores”, como aqueles de que o escritor tcheco se ocupa. São histórias de romances modernos, de relações complexas e, em certa medida, patéticas – perfeitamente risíveis, ainda que não sejam engraçadas. Também está ali a nota da sexualidade presente em Kundera, mas de um jeito que me pareceu até mais cru.

São desse time os contos “Salte sem olhar”, “Em outro lugar”, “Exultação” e “O homem sexual” (que é, sob o ponto de vista moral, o mais chocante deles, ao tratar de molestadores de mulheres em transporte coletivo).

O que também se destacou para mim foi a constância com que os contos se centram em pessoas jovens. É como se esse período de formação da individualidade fosse de especial importância para o escritor (vide o caso de “Seventeen”). E, de certa forma, isso justifica também a imensa quantidade de masturbações ao longo do livro.

Achei que os últimos contos, que são também mais recentes, são menos impactantes que os anteriores, provocando um estranhamento mais difuso, que não leva ao envolvimento do leitor. Há ali, sobretudo, o tema da deficiência mental, consequência do drama enfrentado pelo autor na sua família.
Maria 17/02/2020minha estante
Lembrou Kafka e Kundera e mereceu apenas três estrelas? :-P


Henrique Fendrich 17/02/2020minha estante
Se fosse só pelo conto "A convivência", a nota seria mais alta. Prefiro Kafka e Kundera mesmo =).


Henrique Fendrich 17/02/2020minha estante
Um dos contos está no nível do conto-pedófilo do Bukowski. Três homens que se esfregam nas mulheres no transporte público.


Henrique Fendrich 17/02/2020minha estante
Um dos contos está no nível do conto-pedófilo do Bukowski. Três homens que se esfregam nas mulheres no transporte público, às vezes até ejacular =p.


Maria 18/02/2020minha estante
Quero ler. :D


Alê | @alexandrejjr 30/12/2021minha estante
Excelente análise, Henrique. Interessante que o Kenzaburo tenha tratado de molestadores em transportes públicos, um assunto pungente na atualidade.




Siegfrito 18/01/2018

Crônica da vida moderna e dos maneirismos japoneses.
Todo país tem o seu Machado de Assis e, Kenzaburo Oe é o japonês mais próximo do nosso escritor que já encontrei.

A resenha é bem pessoal então, não quero julgar aspectos técnicos ou parecer um expert em literatura, porque não sou, mas o que achei de Oe foi que ele descreve bem o cotidiano e os modos dos japoneses com maestria.

Mesmo não tendo visitado o país, posso ver pela parcela de amigos nipônicos que tive, que a reserva, a boa educação e o modo de vida, regrado e parciomonioso descrito por Oe, se aplica a essa comunidade, aqui do lado do país.

Em "Seventeen", vemos um adolescente comum a qualquer cultura, em busca de aceitação, que, através da sua jornada pessoal no conto, traz às páginas questões inerentes à política da época em que foi escrito.

É como disseram no prefácio, os contos de Oe, são antes de contos, um relato ao próprio povo Japonês, mais que para outros povos. Sem dúvida é uma ótima obra para estudar antropologia e sociologia de uma ótica mais suave, mas como disse no começo, isso é uma opinião pessoal, uma vez que não sou especialista em nada.

Gostei.
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