AgathaGalama 10/07/2020
Sete corpos num coreto
Irônico, engraçado, crítico. A obra é dividida em 2 partes: antes do incidente e o incidente
O livro começa contando a história da cidade, focando nas richas familiares entre os Vacarianos e Campolargos, passando pelo império, guerras (Farrapos e Paraguai), proclamação da República e Estado Novo, uma richa familiar caracterizada por violência e controle da cidade até o aparecimento de Getúlio Vargas para apaziguar as briga em prol do bem do estado do Rio Grande do Sul. Dessa trégua surge a amizade entre os filhos primogênitos dos patriarcas que logo se tornam os chefes das respectivas famílias: Tibe Vacariano e Zózimo Camporlargo que se casa com Quitéria. As narrativas continuam durante os cenário políticos até o golpe militar de 64. No início da década de 60 um grupo de pesquisadores escolheram Antares como objeto de estudo e através do diário do professor encarregado e dos comentários revoltosos dos habitantes, temos acessos as descrições das partes mais pobres da cidade e como são negligenciadas pelos poderes vigentes.
Com um alicerce já estruturado de contexto e personagens para o entendimento do leitor, o autor dá início á narrativa do Incidente.
O Incidente
Greve geral encabeçada pelos trabalhadores das fábricas. Os mortos levantam: um advogado, uma matriarca, um sapateiro, um bêbado, uma prostituta, um pianista e um cidadão injustiçado, e decidem descer para a praça da cidade e requerer que sejam enterrados. Em plena praça, os mortos despejam nos vivos, juntamente com o cheiro pútrido, informações que podem destruir relacionamentos e carreiras, mas principalmente daqueles que representam o poder público, a justiça, a polícia, o coronelismo, os bons costumes, a cultura. Os ratos surgem e reina o caos na cidade ás margens do rio Uruguai.
Na manhã seguinte, uma pequena revolução popular a pedras, tijolos e garrafas, liberam o coreto da praça.
Uma comissão é aberta para se decidir se seria publicado o artigo do jornalista a respeito do incidente e logo é decidido que eles irão fazer de tudo para aquele incidente cair no esquecimento popular como diz o delegado de polícia "viram o quê? Ninguém viu nada, porque nada aconteceu, compreende? E você também vai esquecer o que 'pensa que viu'... Está compreendendo?". E com o tempo eles conseguem contornar a situação de repórteres, alguns concluem que o incidente não se passou de um delírio coletivo, alguns dos que presenciaram morreram ou deixaram a cidade... Mas nas memórias dos mais novos o incidente ainda vivia.
"Um povo como o nosso adora as meias soluções, as compressas d' água quente. Nada é sério mesmo nesse país" d. Quitéria
O autor é crítico em várias partes do livro, mas em minha opinião as partes mais críticas do livro são quando os chefes da cidade estão reunidos para criticar o livro que retrata a sua cidade, na troca de informações do coreto e na reunião para decidir da publicação ou não do artigo. Nesses três pontos o autor consegue concentrar os principais defeitos da sociedade brasileira e criticá-la com ironia e golpes certeiros.