Marco.A.Antunes 08/08/2023
Tristes Trópicos
Difícil seria achar uma síntese melhor para esse livro do que a que me foi apontada por um monitor da minha escola quando eu disse que o estava lendo: ?É sobre as viagens de Lévi-Strauss.? É que a variedade de assuntos, histórias e temas para discussão é tanta que não cabe resumi-los de outra forma, de modo que extasia a sensibilidade.
Longe de se concentrar exclusivamente nos registros etnográficos dos povos indígenas brasileiros, ou mesmo da sua passagem pelo Brasil, Claude Lévi-Strauss abre um leque de narrativas que passam pela sua vida acadêmica, sua viagem pelo Atlântico, suas desventuras nos rincões amazônicos e suas memórias do Oriente. Trata-se de uma profusão de cores e sabores que o autor não se economiza em alargar ao máximo, muitas vezes com uma prolixidade apaixonada e prazerosa.
É verdade que muitas vezes me vi apenas passando os olhos por páginas e páginas, quase sem conseguir tocar no chão de tantas reflexões que ele trazia, talvez pela linguagem extremamente indireta e despreocupada com a objetividade do raciocínio, ou ainda porque eu estava muito pouco preocupado em de fato absorver todas as divagações do autor sobre os mais variados temas. Contudo, não deixei de me divertir muito com alguns comentários muito inteligentes que apareceram ao longo do livro e com o tom geral da escrita, que mais parece um diário pessoal e sincero.
Por outro lado, é de se espantar com o grau de displicência com o qual Lévi-Strauss trata das mazelas sociais do Oriente, não poupando seu vocabulário em estender críticas que, para mim, beiram à crueldade. Não se trata de uma represália ao autor, muito menos à obra, sobretudo por causa do baixo nível de compromisso que dediquei à leitura. É, na verdade, um aviso para não surpreender os outros que também queiram ler o livro.
No fim, foi uma leitura divertida e valiosa, a qual recomendo sem dúvida.