Guilherme Duarte 04/06/2020
Ótima ideia, porém mal executada.
Estive em uma hype imensa para ler os livros de André Vianco até comprar os dois primeiros volumes: "Os Sete" e "Sétimo". Comecei a ler o primeiro assim que chegaram, afinal ouvi maravilhas sobre a história. Infelizmente, nunca fiquei tão decepcionado com uma leitura.
A premissa é sensacional: 7 vampiros, encerrados em uma caixa de prata encontrada em uma caravela portuguesa naufragada, são libertos após 500 anos de aprisionamento na costa do Rio Grande do Sul. Os responsáveis são jovens amigos, ávidos para ganhar dinheiro com a venda das antiguidades achadas no fundo do mar. História original e criativa.
Talvez o ponto positivo que mereça mais destaque no livro são os vampiros: são os personagens mais interessantes, e mantém a essência de matadores demoníacos, como as criaturas foram concebidas desde Bram Stoker. Nada de romantizações: são assassinos, cruéis, egoístas e eugenistas. Não há firulinhas como Crepúsculo (a única semelhança com os vampiros de Meyer é que os vampiros de Vianco também possuem poderes sobrenaturais, o que os torna mais interessantes). Mas os elogios param por aqui.
A história começa interessante nos primeiros capítulos, e o clima de tensão é ótimo até o primeiro vampiro despertar. Após isso, senti que o autor tentou criar suspense de uma forma pouco eficaz, utilizando de descrições longas, repetindo várias vezes, durante a narrativa e até dentro de um mesmo parágrafo, informações que já sabíamos, que já estávamos cansados de ler. O resultado foi que ao tentar criar tensão e mistério, acabou-se por me entediar em diversas passagens.
Os personagens (mesmo os vampiros) não possuem profundidade nenhuma, tendo o autor mais se preocupado em criar forçosamente o mistério e o suspense de forma prolixa do que explorar as nuances das características de cada um deles, que são muitos, iniciando aí o outro erro. A quantidade exacerbada de personagens secundários, que não acrescentam em nada no enredo, e acabam por confundir diversas vezes o leitor. Chega ao ponto de personagens que você julga serem importantes no início da história (como o Prof. Delvechio e o Padre Cantor) simplesmente sumirem durante todo o meio da história para dar espaço a pessoas que não vão durar um capítulo inteiro. A cereja do bolo da confusão: o autor decidiu espalhar a história por três cidades diferentes, Osasco, Porto Alegre e a fictícia Amarração. A técnica de em cada capítulo focar em um personagem, ou em um grupo deles,espalhados pelo Brasil, para tentar cobrir todos os lados da história não tem a mesma eficácia de narrativas semelhantes como de George R. R. Martin em Guerra dos Tronos, ainda mais com capítulos com tamanhos tão discrepantes (um de 50 páginas seguido por um de 2 páginas, por exemplo). Mas o trunfo de Martin em criar uma história com milhares de personagens e tantas localidades, assim como Vianco tentou fazer, residem nas quase 5 mil páginas de seus livros lançados até agora, com apoio de mapas e árvores genealógicas, sem levar em consideração a qualidade da narrativa de Martin que é incomparável, senão aos outros mestres da literatura fantástica.
Ademais, os erros de sintaxe que aparecem diversas vezes no livro são horrendos, fazendo com que várias vezes eu tivesse que reler as frases para tentar entender o que estava sendo escrito. 11 anos após a publicação da primeira edição, esperava uma revisão ortográfica mais rigorosa por parte da Editora Novo Século nessa "nova" que adquiri.
A conclusão é que as 456 páginas do livro são poucas para explorar a história e seus protagonistas. Paradoxalmente, também são páginas demais. Eu já estava tão ansioso para terminar o livro (por estresse, e não por interesse) que lancei mão da leitura dinâmica nas 100 últimas páginas. Captei só o essencial para entender o final que, diga-se de passagem, foi bem café com leite.
Com essa experiência, a sequência "Sétimo" ficará encalhado na minha prateleira por um bom tempo, até que a curiosidade seja maior do que a de ler qualquer outro livro entre as centenas que estão na minha lista de leituras futuras. Uma pena. Ficam as 3 estrelas pela originalidade e a boa intenção.