Raquel 30/03/2012
Ássia - Turguêniev
Escolhi esse texto do Turguêniev porque, junto com Tolstói e Dostoiévski, ele reina entre os grandes prosadores russos do século XIX, mas não recebe tanta atenção aqui no Brasil como os outros dois. Em contraponto com Dostoiévski, Turguêniev é um escritor, podemos dizer, globalizado. Turguêniev viveu muitos anos em países da Europa e foi sempre reconhecido como um gênio por seus colegas ocidentais como Henry James, Zola e, principalmente, Flaubert.
Ássia mostra, em pequenas e rápidas 98 páginas, a essência da literatura de Turguêniev. Mesmo com um enredo que tem como espaço a Alemanha, a Rússia está em cada parágrafo do texto, muitas vezes debaixo de críticas veladas, outras vezes em citações de canções e textos que tocam a alma russa.
O narrador, também protagonista, é o russo N., como ele mesmo se apresenta, preferindo guardar sua identidade. N. viaja à Alemanha com um intento claro em sua mente: esquecer uma paixão avassaladora mas sem futuro que sentiu por uma dama a tempos atrás.
Durante uma festividade em uma pequena cidade Alemã, N. conhece Ássia (apelido carinhoso de Anna) e Gáguin, também russos que estão na Alemanha por algum motivo que N. desconhece, mas que, inevitavelmente terá que entender, se quiser realmente saber quem são esses jovens.
Gáguin, rapaz russo, de grande cultura, formado nas escolas de São Petersburgo, logo se torna um grande amigo de N., enquanto Ássia, cada vez mais misteriosa e escorregadia, cria entre os jovens uma tensão. O jeito com que Ássia se porta diante das pessoas, sua paixão pela leitura, seu desejo de não viver em vão e o mistério de seu passado começam a povoar a mente de N. e a prejudicar sua amizade com Gáguin.
Se for preciso definir, sim, Ássia é uma história de amor. Possui um enredo delicado e poético que nos enlaça nos misterios dos jovens personagens. Porém, essa definição é inútil quando temos na mão uma obra tão cheia de interpretações e rica em significados (como costumam ser as obras de grandes artístas, conhecedores da alma humana). Turguêniev parece querer ser sublinar. Por trás do enredo claro, vemos as mazelas da Rússia, a visão do autor sobre seu pais e a crítica ao sistema de servidão (que ele viria a atacar ainda mais claramente no maravilhoso Pais e filhos (que é de 1860-1862 e a edicão brasileira é da Cosac Naify).
O livrinho de Turguêniev me lembrou muito o livrinho de Goethe, Os sofrimentos do jovem Werther. A inspiração da estética romântica é paupável nos dois casos mas, ao mesmo tempo, essas obras conseguem tocam os leitores contemporâneos, já que não se prendem a um povo, uma época, uma história. Turguêniev e Goethe tratam de ser humano e, claramente, disso eles entendem bem. E, sem qualquer exagero, posso garantir que a genialidade literária, eles têm também, de sobra.
Resumindo: Turguêniev é o russo que você tem que conhecer e Ássia a russa por quem você irá se apaixonar.
(Resenha postada, originalmente, no meu blog: http://blogdaeditora.wordpress.com )