Richard.Capiotto 19/04/2023
?A memória é uma vasta ferida?
Ainda estou digerindo o que acabo de consumir. Este é o terceiro romance de Chico cujo privilégio tenho em devorar, e junto com Budapeste segue fazendo jus à genialidade que encontramos neste grande compositor (para não me estender muito nas suas atribuições (?))
Não sabia o que esperar deste texto, uma vez que nem sinopse havia lido, e obtive uma experiência bem interessante, diga-se de passagem!
Chico nos apresenta Eulálio d?Assumpção (com P mudo, não se esqueça) em seu leito de morte, onde este vai preencher as lacunas do leitor através de devaneios? Ilusões? Alucinações? Descreva-as como quiser, mas este homem centenário irá nos contar a sua história, e a da sua família, através de relatos e pensamentos soltos que este a todo momento pede encarecidamente que seja escrito.
Como disse, o autor conseguiu me fixar junto a obra logo nos primeiros capítulos, porque o modo como a narrativa é construída nos instiga a descobrir mais sobre essa personagem; sobre suas relações, vivências e experiências como ser, afinal, estamos falando de um senhor que viveu cem anos, e que precisa expor o que foi; não só a si, mas o peso de carregar o teu sobrenome é a bagagem de ser um Assumpção. Fragmentos, afinal, o nosso narrador está acamado, à base de remédios e segue disperso numa grande teia de fragmentos memórias que são expostos pra o leitor montar esse quebra-cabeças e compreender a sua trajetória. Nos tornamos mapeadores de memórias na tentativa frustrante -ou não- de compreender este personagem e aqueles que o cercam. A escrita impecável de Chico me deixa extasiado pela beleza, sutileza e até brutalidade, afinal, somos cercados por um discurso machista, misógino, racista, xenofóbico e elitista na obra, praticadas pelo nosso companheiro enfermo.
Tudo é tão preciso e coeso, que me fez querer aplaudir este homem de pé, mais uma vez! CHICO, o autor!
Que leitura, meus amigos. Que leitura.