DêlaMartins 27/02/2024
Culpa
Li "Complexo de Portnoy" do mesmo autor há algum tempo e, agora, "Nêmesis". Embora os dois tratem da complexidade humana, são muito diferentes. Ambos têm protagonistas homens judeus, mas o do primeiro livro era um canalha e, embora não tenha gostado dele, ri muito durante a leitura por conta dos absurdos que ele vivia. Em "Nêmesis", Eugene Cantor (Bucky), um professor de educação física que, durante as férias de verão de 1944 atua como monitor de um centro comunitário de férias em Newark, é cheio de culpa, angústia, dúvida.
O narrador, desvendado mais ou menos no meio do livro, conta a história de Bucky, órfão criado pelos avós maternos, que tentou ir para a guerra, mas por conta da forte miopia, não conseguiu. Então, imbuído de seus valores e de sua força pessoal, nos seus 23 anos e ainda recém-formado, se envolve com as crianças em férias, num calor escaldante durante a epidemia de poliomielite que toma conta de Newark, principalmente do bairro judeu. O grupo de crianças adora o professor, considera Bucky como exemplo. Crianças doentes, crianças mortas, muitas dúvidas sobre como agir, mas Bucky segue em frente. Num momento crítico da epidemia, ele resolve ir para um acampamento de férias como professor de natação para ficar perto de sua namorada e aí, suas dúvidas e culpa só aumentam. O tempo todo, Bucky se questiona sobre o que deve fazer, se questiona sobre sua fé e sobre a existência de Deus, sempre carregado de culpa (que, definitivamente não é dele!).
A história chega a um ponto chocante e até triste, ainda no acampamento, e o livro acaba de forma angustiante. Philip Roth mostra desde o início, a preocupação exagerada do protagonista, o envolvimento enorme e também exagerado com tudo. E, claramente já mostra que isso não vai acabar bem. Um final inesperado, mas avaliando tudo, é o único final possível para Bucky, sua culpa e sua moral absurda.