Isabel 01/12/2012Capas de livros são importantes para mim. Mais do que algo que somente protege o miolo, capas são uma amostra grátis uma ideia geral do livro e (porque não?) uma espécie de objeto decorativo.
Já comprei e deixei de comprar uma quantidade ridiculamente grande de livros graças a sua arte de capa. Algumas editoras (muitas grandes, aliás, anulando a desculpa da falta de dinheiro para capistas decentes) escorregam feio nesse aspecto, me fazendo crer num problema de visão coletivo dos envolvidos com a produção; outras me deixam boquiaberta, admirando suas capas por minutos e minutos como uma obra de arte em um museu.
Comprei Aprisionada pela capa (que é ainda melhor ao vivo graças a textura) e apesar deste ter me oferecido uma leitura mediana, servirá muito bem para enfeitar minha estante.
Para quase todos nós, a data da morte é algo incerto. Por um lado é extremamente positivo, já que a suposição de longevidade nos faz construir coisas, e não somente usufruir delas – mas a dor de quem perde um ente querido repentinamente e o medo de que não cheguemos vivos em casa a noite é bem real.
Em Aprisionada, a ciência moderna criou uma geração forte, saudável e quase imortal, mas com filhos de, digamos assim, menos sorte. Não há a exclusão de um acidente repentino, mas há a existência de um prazo de validade para a tal “segunda geração”: 20 anos para as mulheres e 25 para os homens
Com só a América do Norte sobrevivente ao cenário-base de distopias (guerra, fome etc) as coisas estão uma bagunça, a escassez do povo em contraste com a opulência das grandes casas – uma espécie de nova aristocracia, com os governadores de casa comandando um batalhão de empregados (em sua maioria, órfãos literalmente leiloados para a labuta).
Não é só essa “nova aristocracia” que relembra uma retomada dos velhos costumes (ou atuais, se considerarmos outras partes do mundo): garotas são seqüestradas e vendidas para casamentos forçados com os governadores de casa. Para algumas meninas – crianças órfãs e prostitutas, por exemplo – ser escolhida é uma benção; para outras, uma maldição.
A sempre cuidadosa Rhine se torna uma dessas garotas, escolhida pelo Senhorio Vaughn para casar-se com seu filho, o governador Linden, graças a heterocromia de seus olhos – um é verde e o outro castanho. Aos dezesseis anos, ela é a “esposa do meio”: Cecily, de treze e Jenna, de dezoito, também se casam com Linden.
A casa é bastante confortável, suas esposas-irmãs são quase sempre uma boa companhia e Linden realmente a ama – mas Rhine quer sua liberdade, e quer voltar para Rowan, seu irmão gêmeo e única família que lhe resta no mundo. Completando com a excentricidade de seu sogro (que passa os dias dissecando cadáveres, a fim de encontrar uma cura que faça Linden ultrapassar a data mortal do aniversário de vinte e cinco anos), a fuga é a coisa mais lógica a se fazer.
Aprisionada é tão morno que nem sei exatamente o que não gostei nele. O desenvolvimento é um pouco lento, mas isso geralmente não é um problema (adorei Delírio, por exemplo, que compartilha dessa característica). A escrita da autora é bastante bonita e poética, mas estruturalmente ela cometeu o erro de colocar poucos “problemas de percurso”, mistérios e subtramas – graças a isso eu não ficava curiosa como o usual entre uma sessão de leitura e outra.
Rhine crê ser bastante calejada – e de fato é, mas detesto quando personagens reafirmam quaisquer características sobre si mesmos. Isso revela uma certa insegurança do autor: talvez Lauren DeStefano tenha tido dificuldades de enxergar Rhine como uma pessoa real, e viu a auto-declaração como a única maneira de expressar sua personalidade. Erro, erro, erro.
Linden é um pouco ingênuo demais, e tomar uma menininha de treze anos como esposa não me inspira simpatia. A única personagem que de fato me apeguei foi Jenna – seu escudo em forma de introversão me pareceu o mais crível e bem desenvolvido dentre todas as personalidades no livro.
Aprisionada é uma trilogia e, mesmo tendo classificado o livro como mediano, provavelmente lerei seus outros volumes – minha curiosidade e a aparência da minha estante agradecem.
Publicada originalmente em http://distopicamente.blogspot.com.br