Letícia 01/12/2021escrita de dar gostoPrimeiro livro lido da autora e já quero ler tudo dela! História baseada na vivência da autora, sem capítulos mas que se alterna em diferentes fases: lembranças do passado que a mãe Loré conta a seu filho sobre seu pai e os conflitos que eles viveram na ditadura argentina. No presente, mãe e filho estão num hotel na Argentina pois o filho quer ir atrás do pai, que não tem contato desde criança. Loré e Ramón, pai do seu filho, se conheceram através da militância contra a ditadura e, por isso, a ambientação daquele momento nos mostra que época assombrosa e aterrorizante, o medo de se expressar, de perder entes queridos, de ser sequestrado do nada. O silêncio e a omissão ao redor, corroborando com toda aquela opressão.
"(...) como fazia calor, usava uma saia de algodão leve que devia deixar transparecer um pouco as pernas, mas só um pouco, nada mais, e ao subir num ônibus escutou o insulto, agudo, vibrante de indignação, que um homem gritava da calçada: - Vá se vestir, [*****], ou vá mostrar o rabo numa boate!
Então soube que a ditadura não era exercida apenas pelos militares, mas também por uma parte da população sobre a outra e que não era só política como também moral, como uma água podre que ia se infiltrando por tudo, até nos recantos mais íntimos da vida."
Além do contexto histórico, o livro explora a relação de mãe-pai-filho, a injustificável ausência do pai e a busca do filho em descobrir quem é aquele homem por trás do que a mãe e as demais pessoas contam.