Gabrieli Gudniak 19/12/2017Extremamente problemático.Daphne é a quarta filha da família Bridgerton, sendo a mais velha entre as irmãs, mesmo depois de duas temporadas, ainda não conseguiu um casamento. Apesar de ser muito querida por todos ao seu redor, os homens a veem apenas como uma amiga. Simon Basset é o mais novo duque de Hastings, ele tem problemas de gagueira e passou a vida toda escondendo isso da sociedade, sendo rejeitado pelo seu pai, pois, naquela época, fora considerado não mais que um idiota quando criança. Ele não tem planos de se casar e uma família é tudo o que ela quer, então os dois fazem um acordo, Simon finge a cortejar, ficando livre de todas as pretendentes e suas mães, enquanto atrai o interesse de outros homens para Daphne. Mas é claro que as coisas não saem como planejado e os dois acabam se apaixonando.
As únicas coisas que posso dizer em defesa do livro é que o livro começa divertido, Simon quase é um protagonista interessante, Daphne era perfeitamente aceitável e o casal tinha alguma química. No começo.
Vamos começar com uma visão geral antes de eu passar para todos os motivos que me fizeram odiar esse livro.
A escrita da Julian Quinn é leve, ela tem um bom timing para momentos cômicos, os personagens tinham pontos interessantes e — um milagre — ela escreveu crianças que são reais. Crianças que são inteligentes e têm personalidades, e não simplesmente saem por aí fazendo coisas idiotas para mostrar que são crianças. Tenho que dar esse crédito para ela. Eu realmente odiei o pai do Simon.
O outro único livro que li da JQ foi The Girl With The Make-Believe Husband, a Cecilia e o Edward eram adoráveis, respeitavam-se mutuamente e, apesar de ter sido errado a Cecilia manter a mentira por tanto tempo, até consegui entender a todo o problema em que ela tinha se envolvido só para ajudar alguém e como a situação era ruim agora. Foi divertido, nada profundo, mas conseguiu me entreter durante um período de tempo. Era isso que eu esperava de O Duque e Eu, não essa.. Coisa.
Vamos começar dos menores problemas para os maiores.
Os irmãos da Daphne. Era realmente necessário tê-los aparecendo, fazendo escândalos, sendo idiotas, intrometendo-se no casamento da irmã sem ninguém tê-los chamado, batendo em qualquer um que olhasse para ela? Não me passou a imagem de irmãos amorosos, só irmãos que acreditavam que a Daphne não conseguiria fazer nada sozinha, quando se ama um irmão, você precisa deixá-lo fazer algumas coisas sozinhos, para que eles aprendam. Não é assim que a vida funciona.
Simon. Todos os criados gostavam muito dele, enquanto ele ficava gritando e tratando todo mundo mal só porque estava de mau humor, deixando os empregados assustados. Eu não tenho nenhuma simpatia por pessoas assim. Simon via Daphne como uma empregada também, aparentemente, ou menos ainda, uma propriedade.
"—Daphne — [...] — se você não abrir esta porta agora, eu vou arrombá-la.[...] Nunca mais tranque uma porta para mim — exigiu.[...]
—Eu queria ficar sozinha.[...]
— Quero suas coisas de volta ao nosso quarto pela manhã. E você vai voltar para lá hoje. [...]
— Não. [...]
— Você é minha esposa! — rugiu ele. — Vai dormir comigo! Na minha cama. [...]
— Saia do meu quarto. [...]
— Este quarto é meu — [...] — Você é minha. [...] Você é minha eposa. [...] Legalmente, sou seu dono. [...] Posso fazer você me querer. [...] E, mesmo se não pudesse, você é minha. Você me pertence. Eu poderia forçá-la a me deixar ficar."
Essa é uma discussão deles, com algumas descrições cortadas, mas dá para entender como foi. As pessoas realmente acham isso normal? Acham isso okay? Certo, o livro se passa em 1800 e pouco, mas não é nesse século que estamos, tampouco este foi o século que a autora escreveu. O Simon não a forçou a nada, mas a ameçou e tentou coagí-la com sexo em certo ponto da discussão. Não preciso dizer o quanto isso é errado.
Por fim, a Daphne, que está muito, muito longe de ser flor que se cheire. Nós sabemos logo no começo do livro que, tendo crescido em uma família com muitos irmãos, ela também quer ter vários filhos, deixa isso bem claro para Simon. Só que ele não quer se casar, depois de ter sido pego com ela aos beijos por Anthony, o irmão mais velho, é desafiado a um duelo. Simon jurou nunca se casar, então aceita o duelo, mesmo sabendo que vai morrer, já que não seria capaz de atirar no (ex) melhor amigo. O Simon prefere morrer a se casar, e deixa bem claro que o problema não é a Daphne.
O problema é que nossa mocinha é uma mandona manipuladora. Ela convence um dos irmãos mais velhos a levá-la ao duelo, onde poderia muito bem ter levado um tiro se enfiando entre o irmão e Simon. Mente para o mocinho, dizendo que os dois foram vistos se beijando e que se não se casassem, ela seria desonrada agora, quando, na verdade, um who qualquer só havia visto ela andando nos jardins com alguém, um boato que poderia ser superado. Antes de aceitar se casar, Simon diz que não pode ter filhos e, tendo ciência disso, ela decide se casar mesmo assim. Tenho certeza que ela poderia ter salvado a vida dele simplesmente chamando as autoridades, já que duelos naquela época eram proibidos, ao invés de mentir para que ele se casasse.
Mais tarde, descobrimos que o Simon mentiu também por omissão, ele pode ter filhos, só não quer, por um motivo meio tosco, mas okay. Ele está usando o método de coito interrompido para evitar ter filhos. O caso é que é possível engravidar mesmo com o coito interrompido, porque o há um líquido que sai do pênis do homem durante a penetração que pode conter espermatozóides. Suponho que não sabiam disso no século 19 — e que a autora também não sabia. Então, tendo uma vida inteira pela frente, décadas de casamento ainda, ela ia acabar engravidando em algum momento. O que me faz pensar em todas as complicações que viriam, já que o Simon parecia estar muito certo de que a ejaculação fora evitaria totalmente filhos, então como alguém o convenceria de que o filho era dele? Essa seria uma história muito mais interessante do que a do livro.
Mas é quando a Daphne percebe isso que as coisas pioram ainda mais. Ela dá o ultimato de "sem filhos, sem sexo", que é quando ocorre a discussão acima. Manipular o parceiro com sexo não é certo. A Julia Quinn poderia ter colocado isso de uma outra forma, fazendo ela estar magoada e não querendo estar com ele, mas não, ela deixa claro que a protagonista está fazendo isso para conseguir o que quer. Entendem a diferença entra as duas coisas? Entre estar magoada e querer distância e manipular o parceiro?
Piora ainda mais quando o Simon, depois da discussão, sai para beber, arruma várias brigas, volta para a casa bêbado, mal se aguentando em pé e exigindo, de novo, que Daphne abra a porta. Ela ajuda ele a ir para a cama e, seguindo outra exigência, deita para dormir com ele. E então, nós temos essa cena:
"Ele se remexeu, agitado, e Daphne sentiu uma estranha e inebriante onda de poder. Percebeu que o tinha sob seu controle. Ele dormia e talvez ainda estivesse bêbado. Ela poderia fazer o que quissese.
Poderia ter o que quisesse. "
Então, ela abre as calças dele e realmente faz o que queria. Primeiro ponto, Simon estava bêbado e semiconsciente. Sim, ele estava gemendo e pedindo mais, mas uma pessoa bêbada é uma pessoa bêbada. Ela não tem controle total de suas capacidades, homem ou mulher, se alguém bêbado faz uma investida em você querendo sexo, você nega. Pior ainda é quando você faz uma investida em alguém nessa situação. Eu tenho uma palavra perfeita para isso: estupro.
Segundo ponto:
"Os olhos dele se fixaram nela com uma expressão estranha e suplicante, e ele fez uma fraca tentativa de se afastar.
Daphne o segurou com toda a sua firmeza."
Depois dessa cena horrível, o Simon fica perturbado, não consegue falar direito por causa da gagueira e vai embora. Ele não conseguiu pedir para ela parar, mas tentou se afastar e a Daphne não deixou. Veja bem, quando, durante o sexo, uma das pessoas pede para parar, com palavras ou não, e o outro não para, é um estupro. Eu me pergunto o que a autora tinha na cabeça ao escrever isso. Ela faz ideia de quantas pessoas são abusadas sexualmente enquanto estão bêbadas por ano? As pessoas que leram, disseram que é um livro maravilhoso, favorito da vida, tem noção disso?
O Simon deixa o castelo, vai para outra propriedade, enquanto Daphne decide ir para Londres e ficar na casa deles lá. Como se já não bastasse a cena odiosa, ele começa a se culpar pelo o que aconteceu, foi horrível ler isso. Ela está tão obcecada em ter um filho que a menstruação atrasa cerca de um mês, manda uma carta para Simon dizendo que estava grávida e ele vai correndo para Londres, acontece uma cena cujo único propósito era a reconciliação dos dois. E logo depois o Simon pede desculpas pelo o que aconteceu. Tudo foi tão errado.
Os dois viveram felizes para sempre, tiveram filhos e eu fiquei com um gosto amargo na boca. Não recomendo a leitura a ninguém.