Infinitas 04/09/2019
Zumbis não são muito comuns na literatura, e os poucos que encontramos são narrados a partir do ponto de vista dos humanos que tentam sobreviver aos ataques dos zumbis. Sangue Quente é o oposto pois ele é narrado por um zumbi, nos mostrando a vida deles, a forma como eles interagem entre eles e se organizam quando sentem fome, nos mostrando que eles podem ser organizados e unidos.
"Quando o mundo inteiro é construído com horror e morte, quando a existência é um estado constante de panico, é difícil ficar preocupado com uma coisa só. Os medos específicos se tornam irrelevantes. Nós o substituímos por um cobertor sufocante muito pior."
Sangue Quente se passa em um mundo destruído por uma "praga" que transformou a maior parte do mundo em zumbis. R, é um desses zumbis, ele não se lembra de nada de sua vida antes de ele ser o que ele é, nem como ele morreu e nem mesmo o seu próprio nome.
"Estou morto, mas isso não é tão ruim. Aprendi a conviver com isso. Desculpe não me apresentar de forma correta, mas não tenho mais um nome."
Em uma caçada em grupo, eles encontram alguns humanos e R acaba se alimentando do cérebro de Perry, que é o namorado de Julie, que R encontra encolhida e com medo num canto e ao invés de querer devora-la ele sente o desejo de proteger ela, R então a leva para o aeroporto e faz o possível para mante-la segura dos outros zumbis.
Julie no começo sente medo dele, alem de ter que superar a morte do namorado, mas logo ela percebe que R quer apenas protege-la, e ela terá que confiar sua vida a ele, então passa a tentar compreender R e aos poucos os dois começam a se aproximar e acabam descobrindo que eles tem algumas coisas em comum.
"Comer não é uma coisa prazerosa, mordo e arranco fora o braço de um homem. Odeio os gritos, porque não gosto da dor, não gosto de machucar as pessoas, mas agora é assim e é isso que temos que fazer."
Sangue Quente tem um ponto de visto bem diferente do normal. Amei ver o apocalipse zumbi pelo ponto de vista de um zumbi. O autor nos dá uma visão muito clara do que é ser um zumbi, o que se passa na cabeça deles.
R tem personalidade, ele quer mudar, ele quer evoluir. O autor foi fantástico na forma como escolheu nos contar a história de R, pelos olhos e pensamentos do próprio personagem, que passa a ser um zumbi, e a ligação entre R e Julie é forte e tão humano que as vezes, durante a leitura, acabei esquecendo que R é um zumbi.
"Vamos lutar contra a maldição e quebra-la. Vamos chorar, sangrar, desejar e amar. Vamos curar a morte. Nós seremos a cura. Porque queremos ser."
A leitura é muito envolvente, narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de R, as metáforas usadas são simples e profundas ao mesmo tempo. A capa chama a tenção, o titulo está em auto relevo e a imagem passa um clima apocalíptico. As situações criadas pelo autor são bem legais e criativas e me arrancou algumas gargalhadas, e mais do que isso, me fez gostar e torcer pela vitória de R.
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