Carolina 07/02/2022
Eu li A Sociedade Industrial e seu Futuro
Assisti à série Manhunt: Unabomber (Netflix)
Reli a Sociedade Industrial e seu Futuro
Assisti ao documentário Unabomber: Suas Próprias Palavras (Netflix)
É assustador.
Kaczynski é diferentão - super dotado, com um coeficiente intelectual de 167, tímido, o esquisito da escola, entra em Harvard com 16 anos, cada vez mais isolado, termina seu doutorado aos 25 e é contratado como professor, trabalha um curto período, apenas o suficiente para juntar dinheiro e comprar um terreno, larga a carreira acadêmica e se muda para o meio da floresta, mora numa cabana 2x3 que ele mesmo construiu, sem eletricidade nem água encanada, é conhecido por ser quieto, bem educado, reservado e não incomodar ninguém.
Se fosse só isso, seria uma figura super interessante e simpática. Um cara que desiste da sociedade e resolve ir viver de forma mais primitiva ou selvagem, além de ser genial e escrever um artigo sobre as mazelas da tecnologia em nossas vidas.
Mas Kaczynski é um psicopata. No documentário que assisti, há vários trechos de uma entrevista que ele deu após ser preso e também trechos dos diários que manteve por muitos anos. Fica claro que suas motivações sempre foram totalmente egoístas. Desde criança ele é violento e vingativo. Não suporta se sentir rejeitado, e sua raiva chega aos extremos de querer matar o que odeia, é uma personalidade cainita.
Estou usando o termo personalidade cainita como uma referência a Caim, que matou Abel, na Bíblia. Este tipo de comportamento existe desde os primórdios da humanidade - pessoas que sentem muita inveja, muita raiva/ódio, alimentam aquele ódio em seu coração e reagem de forma violenta.
O manifesto é lúcido quando aponta problemas reais da sociedade causados pelo uso de tecnologia, é claramente inteligente. Até porque Karcynski não tem nada de louco, ele é frio e calculista, controlado e consciente, por isso nunca feriu pessoas próximas a si, pois sabia que poderia ser pego. Escolheu ferir desconhecidos distantes, para que pudesse matar vários em sua "vingança do sistema" e não ser descoberto. Deu certo, realmente não foi, o que o entregou foi o estilo de escrita em seu manifesto.
Este artigo analisa muito bem uma série de problemas de se viver em sociedade. Ele aponta a "escravidão tecnológica", nossa dependência da tecnologia, a falta de escolhas que temos.
Explico. Todo o nosso estilo de vida nos OBRIGA e nos amarra ao sistema. O problema não é a tecnologia em si, mas o sistema. Se ter um smartphone fosse algo opcional, não haveria problema, pois não há problema com o aparelho em si. Mas quando eu não consigo viver sem um smartphone, e não tenho a OPÇÃO de resolver não ter um telefone sem que aquilo afete tremendamente a minha vida, e ainda tenho que trabalhar para ter dinheiro suficiente para trocá-lo quando se tornar obsoleto, consertá-lo, e gastar uma boa grana com isso, o sistema me prendeu e há algo de errado.
Kaczynski defende a volta a um modo de vida mais simples e barato, que nos dê escolhas. Essa ideia é algo muito atraente para mim, pois tenho grande simpatia por esse estilo de vida mais natural. Mas diferente de Thoreau que propõe uma ação pacífica, Kaczynski propõe uma reação violenta. Ele quer que seja feita uma revolução, quer ver o circo pegar fogo, o sistema quebrar e ser substituído por um estilo de vida mais frugal.
Obviamente eu discordo que isso daria certo. E o próprio Kaczynski sabe. A humanidade má, sedenta por poder, nunca vai viver pacificamente. Se a revolução que ele propõe fosse colocada em prática, o egoísmo das pessoas encontraria novas formas de opressão. Ele argumenta que apenas esquerdistas fariam isso, mas é claro que não é bem assim...
Se o próprio autor do manifesto é um cara violento, que quer matar pessoas que o desagradaram, não é difícil entender porque ele propõe tal solução. Mas não é possível dar-lhe razão.
É possível analisar todas as questões altamente relevantes que ele aponta como causa do problema, mas é preciso ignorar totalmente as soluções violentas que ele sugere. Vieram de uma mente doentia que gosta e sente prazer em matar pessoas.
A preocupação de Kaczynski não é com o bem da humanidade, com a qualidade de vida das pessoas. Não são as pessoas, é ele. Ele, sua raiva e sua vingança contra o sistema.
Vale a pena a leitura, com consciência das questões que apontei.