Erick 21/01/2013Bem-Vindo ao Deserto do RealEm Bem-Vindo ao Deserto do Real, Zizek faz uma critica a ideologia, sendo esta a que fundamenta o estilo de vida ocidental. Antes de tudo, deve-se entender Real não no sentido de realidade, mas no sentido lacaniano de "Coisa que escapa a nossa apreensão, o princípio de distorção da realidade".
A partir dessa critica a ideologia que Zizek caracteriza a era moderna como "Paixão pelo Real", o período em que os conflitos chegam a tal ponto, que a realidade perde seu conteúdo totalizante. Para isso, ele conta uma anedota da antiga Alemanha oriental.
" Um operário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda sua correspondência será lida pelos censores, ele combina com os amigos: ' Vamos combinar um código: se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verdade; se estiver em tinta vermelha, tudo é mentita'. Um mês depois, os amigos recebem uma carta em tinta azul: ' tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes Ocidentais, há muitas garotas, sempre prontas para um programa - o único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha".
Zizek conta esse causo para exemplificar o atual sentimento dos povos: falta-lhes a tinta vermelha para expressar sua verdadeira condição, ou seja, só nos sentimos livres por nos faltar uma linguagem que articule nossa não-liberdade.
É nesse contexto de sensação de infelicidade generalizada que ele insere os grandes conflitos de nossa época: "guerra ao terror", "democracia e liberdade", direitos humanos" etc. Todos esses tópicos são postulados como Absolutos, o estado normal das coisas, quando é necessário se escolher um dos lados: ou se está do lado das "democracias ocidentais", ou dos "terroristas islâmicos". Zizek enfatiza que se deve evitar escolher um dos lados, " pois quando as escolhas são muito claras a ideologia se encontra em seu estado mais puro e as verdadeiras escolhas se tornam obscuras".
Após os atentados de 11 de setembro, estabeleceu-se o conflito do Bem contra o Outro. O Bem são todas as democracias ocidentais, capitaneadas pelos EUA, que lançaram uma guerra contra o terrorismo. O Outro é qualquer resíduo de resistência as imposições do Ocidente. Por isso deve evitar escolher, pois a democracia liberal não é uma alternativa ao fundamentalismo religioso, visto que o ocidente, a medida que dinamiza suas relações capitalistas, é reduzido a imobilidade social, ou seja, uma ordenação "democrática" que proporciona a falsa sensação de liberdades, implantando a " noção totalitária de um mundo administrado, em que a experiência mesma da liberdade subjetiva seja a forma como surge a sujeição aos mecanismos disciplinadores".