Como funciona a ficção

Como funciona a ficção James Wood




Resenhas - Como funciona a ficção


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Israel145 24/01/2018

James Wood brinda o leitor sério com um livro excelente sobre teoria literária visto pelo ponto de vista de um crítico moderno e atualizado que aparentemente fez a lição de casa e devorou a maioria dos clássicos.
O bom desse livro é que Wood consegue falar do assunto (teoria) sem cansar o leitor, adotando um método muito simples: dividiu os 10 capítulos do livro em diversos sub-tópicos totalizando 123 ao longo de todo o livro. O leitor consegue acompanhar o raciocínio do autor numa prazerosa imersão nos detalhes que passam despercebidos ao leitor comum, principalmente os que não tem formação acadêmica específica na área (meu caso).
O livro traz tópicos sobre narrativa, detalhes, personagens, consciência, linguagem, diálogo, etc.
Os grandes nomes e as grandes obras estão todas lá: Flaubert, Stendhal, Dickens, Toltstói, Tchekhov, Conrad, e uma série de escritores contemporâneos. Vale aqui frisar que para ter um bom aproveitamento do livro é interessante o leitor conhecer pelo menos os grandes nomes e já ter lido pelo menos 1 livro ou saber do que o mesmo se trata para entender com clareza a mensagem de Wood. Vale frisar também que o livro tem diversos spoilers.
Seu didatismo em expor os pormenores que complementam a leitura de um leitor comum são de grande valia para aqueles que querem mergulhar em maiores profundidades. A grande quantidade de detalhes que o autor expõe faz com que o leitor absorva de imediato seus ensinamentos e o resultado é quase instantâneo. Nas próximas obras lidas já é possível perceber sinais e características de como funciona de fato um romance, seus mecanismos internos e os truques dos autores.
Livro para quem ama os clássicos e quer amadurecer como um leitor crítico e que quer aproveitar as obras em toda a sua profundidade.
Salomão N. 24/01/2018minha estante
Ótima resenha!
Vou comprar a edição nova se eu encontrar. :)


Israel145 24/01/2018minha estante
Obrigado, amigo! Esse livro é indispensável. Boa sorte na busca!


Walkí­ria Silva 24/01/2018minha estante
Tá na minha listinha de compras faz é tempo. Também irei comprar em breve a edição que ainda tem no mercado. Ótima resenha!


Israel145 24/01/2018minha estante
Obrigado Walkiria. Esqueci de colocar na resenha que o livro tb está recheado de referências teóricas pra quem quiser se aprofundar :)




LucasMiguel 02/10/2023

Apesar de ser bastante didático, é muito mais que isso
Eu tenho muito apreço por livros que falam de livros. Sejam eles sobre teoria literária, sejam obras sobre a chamada “arte da escrita”.
Este gosto exótico existe, talvez, pela vontade que sempre tenho de conversar sobre minhas leituras: saber a obra preferida de cada um; discutir impressões sobre uma obra lida em comum e especular, nas salas de espera, qual livro a pessoa está lendo, é sempre um grande prazer.
Como tais diálogos acabam por serem raros, livros deste tipo servem como sucedâneos razoáveis para um quase diálogo com o autor sobre as obras mais bem escritas, as técnicas utilizadas pelos escritores famosos e seus efeitos sobre o leitor.
O livro do crítico James Wood atende a estes propósitos com uma vantagem: é uma aula de literatura escrita com o rigor e a beleza de uma obra literária. A escrita de Wood é quase poética, sem nunca abandonar a finalidade didática.
Um livro curto e falsamente simples, cuja densidade por vezes se mostra apenas quando o levamos a sério o suficiente para encará-lo menos como uma autoajuda para escritores iniciantes, e mais como uma conversa profunda sobre as técnicas e os mecanismos utilizados pelos mestres na arte de transformar palavras em vida.
Aliás, um dos pontos altos do livro é justamente a total demolição que Wood provoca dos lugares-comuns dos cursos de escrita: personagens “planos” são sempre inferiores aos “redondos”? Narração em terceira pessoa é sempre onisciente e confiável? Um bom diálogo é aquele que oculta as intenções dos interlocutores? Tudo vai depender do entorno, do contexto e do poder hipnótico do escritor em fazer o leitor mergulhar no irreal e emergir ensopado de reconhecimento, espanto e alteridade.
Meu capítulo preferido, chamado “breve história da consciência”, aborda a evolução das narrativas desde o Antigo Testamento e seu interlocutor único (Deus); passando por Shakespeare e seus ouvintes públicos e silenciosos (plateia) até a narrativa do romance e seu relato direcionado ao solitário leitor que não mais perscruta as personagens como prece, nem como coro de um teatro, mas como o próprio deus inconfidente em sua onisciência plena.
Delicioso para os curiosos que gostam de enxergar os esqueletos e os alicerces da narrativa. Proibido para aqueles que não gostam que o mágico ensine o segredo do coelho que desaparece dentro da cartola e arranca aplausos e lágrimas do público que, mesmo sabendo haver artifício, optou pela pureza dos sentidos e dos sentimentos.
Deisi 02/10/2023minha estante
Tô lendo. Cem anos de solidão kkkkkk


LucasMiguel 02/10/2023minha estante
Um dos meus escritores preferidos hehe




Daniel Moraes (Irmãos Livreiros) 11/01/2022

Como funciona a ficção, de James Wood
“Como funciona a ficção”, escrito pelo crítico literário, James Wood, autor do livro Upstate, publicado pela Sesi-SP Editora, é uma obra prima que todo escritor – e leitores, claro – deve ter em sua cabeceira, por conta de sua grandeza. Uma obra de grande relevância para o mercado editorial.

A obra, muito bem pautada, traz elementos que aborda a visão dos leitores de ficção sobre a estrutura da construção do livro. Pontos técnicos que embelezam o enredo que transforma a história em um best-seller.

Inegavelmente, quando a narrativa é bem construída e cativante, onde o leitor se vê preso ao livro, este se encontra com os personagens e segue a jornada lado a lado, página a página. Independente da construção que o escritor elaborou para aquela narrativa.

Com o intuito de manter a linearidade da obra, o autor expande seus universos e leva os leitores à locais jamais imaginados, de tal maneira que a obra ganha forma e expande a mente de quem lê o livro.

O autor escreve o livro não apenas baseando-se na ficção e a joga no papel, acima de tudo, utiliza meios para que a obra se torne factível, utilizando detalhes estilísticos, técnicas de escrita que, por mais que se mesclem entre um autor e outro. Essa é a literatura.

Com o intuito de apresentar os pontos fortes e de melhoria para os escritores e, consequentemente, os leitores, James Wood exemplifica os principais pontos de uma ficção de alta qualidade que merece ser lançada no mercado editorial.

Em contraste com sua interpretação ao que acredita como livros de alta literatura, Wood, transcreve personagens, linguagem e foco narrativo.

Ao detalhar os personagens, Wood explica o que são criações “planas” ou “redondas”, onde ele desmistifica o conceito de que os personagens redondos, as mais completas e bem elaborados pelos autores, sejam superiores aos personagens secundários, os planos:

“Se tentar distinguir personagens principais de secundários — personagens redondos e planos — e disser que eles se diferenciam na sutileza, na profundidade, no espaço que ocupam na página, terei de admitir que muitos personagens ditos planos me parecem mais vivos e mais interessantes como estudo humano, por mais efêmeros que sejam, do que personagens redondos a que estão supostamente subordinados.”

“Como funciona a ficção”, é uma obra espetacular e merece a atenção de todos os leitores que apreciam a boa leitura. Uma obra de extremo interesse para escritores e leitores que desejam se enveredar na arte da escrita. Um livro para ser constantemente consultado.

Em suma, é um livro que traz ainda mais conteúdo acerca da análise de livros que faz com que escritores e leitores a pensarem de forma mais concreta na produção ficcional. Uma obra excelente para releituras. Um livro de cabeceira.

“O verdadeiro escritor, aquele livre servidor da vida, precisa sempre agir como se a vida fosse uma categoria mais além de qualquer coisa já captada pelo romance, como se a própria vida sempre estivesse à beira de se tornar convencional.”

Livro altamente recomendado!

site: bit.ly/iLPost0701
Flávia Menezes 11/01/2022minha estante
Maravilhoso esse livro ?


Daniel Moraes (Irmãos Livreiros) 12/01/2022minha estante
Realmente um livro perfeito, Flávia.
Amei ler e indico para todos! =)




Taisa 28/01/2017

Por acaso um dia ouvi de uma menina que toda pessoa que gosta de escrever (principalmente escrever sobre livros) necessita ler "Como Funciona a Ficção" pois ele era como um manual de "como devemos avaliar uma obra". Então imaginem que iniciei esta leitura com uma ideia estabelecida do que me traria. Não foi bem isso que eu encontrei.

Logicamente o autor nos dá parâmetros, cita diversas obras e nos explica os diferentes tipos de narrativa, como a genialidade de um soube inovar e aproveitar melhor suas ideias, como o outro soube marcar tanto seus personagens sem ao menos descrevê-los com minuciosidade, prova que as vezes a falta de explicações e exposição tanto da trama quantos de seus participantes pode ser mais enriquecedora e estimulante (por criar esse ar de mistério) do que aquela em que o autor tenta justificar tudo. Há muita comparação entre diferentes pontos de vistas de autores consagradíssimos.

Outro ponto interessante é que ele deixa claro que nem os maiores escritores do mundo entravam em acordo do que era realmente bom na literatura, alguns acham desnecessários aquelas descrições sem fim do "Realismo" enquanto outros as defendem fervorosamente, uns achavam que o "fluxo de consciência" era a grande sacada enquanto outros afirmavam que ele era uma farsa, tudo isso embasado por questões na maioria das vezes filosóficas, cada qual tentando vender seu peixe.

Mais do que ajudar a avaliar acredito que a "grande lição" desse livro foi mesmo mostrar que nunca vai existir uma fórmula mágica (nem pra escrever nem para avaliar essa escrita), o que temos que fazer é tentar tirar proveito das diferenças que elas possuem, compreender qual era realmente o propósito daquele autor quando escreveu aquilo (incluindo as variáveis da época) e saber interpretar das entrelinhas o que eles querem mostrar.

Houveram muitas coisas aqui que eu já sentia mas não sabia explicar e foi TÃO bom ver tudo aquilo que eu pensava nominado nas páginas, o autor vai esmiuçando diferentes questões, transformando ideias que a principio são complexas em exemplos práticos e fáceis de entender. Sabe aquela pulguinha que fica atras da sua orelha na hora que você está lendo? Você está gostando (ou não) do livro mas na hora de explicar o porquê não consegue. Aqui ele te ajuda a responder essas perguntas.

Só abrindo um parenteses aqui, para quem não sabe James Wood é um inglês crítico de literatura, escritor, professor de literatura (crítica literária) de Harvard e colunista da revista The New Yorker. Iniciou a carreira como revisor, ganhou o prêmio "Young Journalist of the Year" (Jovem jornalista do ano) at the British Press Awards e em seguida se manteve durante anos como principal critico literário do The Guardian antes de ir para a América.

É, vale a pena escutar o que ele tem a dizer. Não pense que é todo pomposo e cheio da verdade, muito pelo contrário, o livro é quase uma bate papo descontraído, apesar do conteúdo carregado a narrativa é fácil.

Eu totalmente indico! Há DIVERSAS citações de obras maravilhosas, me via desesperada querendo anotar e ler tudo aquilo. Acho ele ainda mais válido para escritores, há tantas ideias, questões e inovações complexas analisadas de maneira tão fácil, sem dúvida muito enriquecedor e inspirador. É aquele em que você vai querer ler e reler e desejar absorver cada linha. Se tiver oportunidade leia.

site: leiturasdataisa.blogspot.com.br
Thallys.Nunes 28/01/2017minha estante
Excelente resenha, Taísa! Vai pra lista de leituras pro ano. =)


Taisa 28/01/2017minha estante
Obrigada! =)

Leia sim, é incrível!!




Lukas 28/04/2024

Ótima introdução
Eu senti a necessidade de aprender mais sobre teoria e crítica literária pra melhor comentar e avaliar algumas obras que leio, principalmente clássicos e posso dizer que esse livro serviu como uma ótima introdução ao assunto
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MK 15/04/2011

lúdico e certeiro
Além de ser uma edição muito bem cuidada, bom papel, fonte bacana, cores diferentes, a leitura flui maravilhosamente. Comprei o livro porque já senti isso ainda na livraria, onde tinha tentado iniciar a leitura de Barthes e travei - não questiono a competência, mas a fluidez... deixa tudo a desejar. Certamente a qualidade da tradução tem boa parte do mérito.

Quanto às análises de estilo narrativo, personagens, verossimilhança apresentadas, são bem-humoradas e consistentes, sempre baseadas em trechos de obras ótimas. Todo o livro é pontuado pelo contraponto a afirmações de outros teóricos e estilistas - especialmente Barthes e Forster, claro.

Algo que adorei foi seu comentário sobre a qualidade dos leitores e o quanto a experiência acumulada da leitura molda um tipo mais cauteloso e exigente de leitor.
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Nika 30/09/2011

Aprendendo como funciona a ficção
Em minha aprendizagem de escritora, terminei a lenta leitura de Como Funciona a Ficção, do crítico literário James Wood. A leitura andou vagarosamente por minha conta, não pelo livro. De fato, eu o senti como uma obra de leitura sem pressa, do tipo que se aprende absorvendo, tanto quanto lendo. Obviamente, Wood não fez uma manual de “como funciona” a ficção, falamos de literatura e não de máquinas. Provavelmente, o livro é mais sobre como funciona a cabeça do leitor ou do crítico, ou do leitor (apaixonado) e do crítico (controvertido) que Wood é. Ainda assim, senti-me levada pela mão na aprendizagem de como e porque determinados autores icônicos são reverenciados. Dos citados, li muitos, mas não em quantidade, e estou há quilômetros de ter lido todos. Alguns, eu conheci tão jovem e de forma tão pouco orientada que sequer entendi. Wood renovou-me a vontade de ler e reler clássicos e esclareceu-me o sobre o que enxergar na prosa dos grandes autores e dos grandes estilistas literários.
Os detratores do Wood o acusam de ser conservador, tanto em seus gostos, quanto no que ele preza e valoriza. Confesso que, em minha ignorância das modernas correntes e debates da área literária, o livro de Wood me soou confortável e acessível como uma xícara de café batido. E, mesmo que alguns críticos apontem isso, eu não senti empáfia no seu texto. Pelo contrário, é muito fácil somar-se ao encanto e à paixão do autor pela literatura contemporânea. Longe de pretender ensinar macetes, a obra de Wood se debruça sobre o já escrito e tenta encontrar suas partes. Tenta. Nem sempre consegue. E isto é o que há de melhor no livro: a conclusão de que falando de arte, podemos até localizar suas partes móveis, mas entender por que colocadas de uma determinada maneira elas funcionam e de outras não, fica fora de nossa alçada consciente. Nesse sentido, a metáfora do cozinheiro (que pode ser vulgar, mas não é incorreta) usada pelo autor em sua introdução foi caindo com mais força em mim ao longo da leitura. Pode-se dar a mesma receita e os mesmos ingredientes a cozinheiros diferentes, o resultado jamais será o mesmo.
Não foi uma nem duas vezes que, ao visualizar as peças móveis apontadas por Wood dentro de obras reverenciadas, percebia imediatamente já tê-las visto, de forma ruim e mal arranjada, em outros textos ficcionais. Imaginei que um escritor iniciante que muito estudasse o que ele aponta ali, conseguiria reproduzir, imitar, reconstruir, e elaborar sobre o caminho erguido pelos mestres e, ainda assim, não teria garantias de fazer uma boa ficção. Isso porque, depois que uma obra está escrita, você consegue entender de que forma aquilo funcionou, mas não antes. Claro que as diretrizes ajudam, mas o fato é que elas não determinam. Se você aplicar todas as técnicas ao texto, mesmo as melhores delas, terá um texto técnico, nada mais. Isso pode garantir um bom texto. Um texto vendável. Uma publicação. E haverá quem goste e haverá quem desfaça. No entanto, arte não é só técnica. Técnica é uma das suas armas de expressão. Uma ferramenta que a arte molda e subverte à sua conveniência. Quem vai determinar o valor do resultado? O crítico? O público?
Minha veia de historiadora aponta para o tempo. Aliás, essa é minha maior crítica ao livro de Wood, sua pouca atenção aos ritmos do tempo e da história. Ao fato de que, mesmo que obras que os transcendam, os escritores são criaturas grudadas no mata-moscas histórico que é o seu contexto, seu tempo, seu espaço.

A impressão de leitura completa está no blog http://sapatinhosvermelhosnika.blogspot.com/2011/09/aprendendo-como-funciona-ficcao.html
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Leonardo 04/07/2011

Belo exercício sobre a estrutura do romance moderno
Disponível em: http://catalisecritica.wordpress.com

A última vez que estive em Brasília, tomava um café na Mega Store Saraiva, no Shopping Iguatemi, quando avistei um senhor bastante distinto lendo um livro cujas letras eram azuis (na verdade, vejam na capa por vocês mesmos, pois sou daltônico e diferenciar azul de roxo, violeta ou lilás não é o meu forte). Fui pagar a conta bemmmmm devagar para tentar fisgar o nome do livro. “Como funciona a ficção”. Estava fisgado o peixe. Se há uma leitura que me dá tanto prazer quanto a literatura em si é ler SOBRE literatura. Gosto de ler sobre a interpretação de obras, técnicas de criação e narração, estilos literários. Como e por que ler?, de Harold Bloom, e Oficina de Escritores, de Stephen Kosh, são livros que me ensinaram muito não como escrever, mas como ler, e com este livro que acabei ontem à noite não foi diferente.

Fui atrás do livro lá na Saraiva e acabei localizando o livro. Para meu deleite, foi publicado pela Cosac Naify (o que pesou na balança na hora de me decidir pela compra). Fui olhar alguma coisa sobre o autor e vi que ele escreveu para o The Guardian, é crítico da afamada revista The New Yorker e ensina crítica literária em Harvard. Currículo ele tem, pensei, e acabei comprando o livro.

Para quem se interessa por literatura, o livro é obrigatório. Muito bem escrito, num ritmo leve, sem enrolar, sem formalismo, mas com bastante conteúdo. O autor demonstra um conhecimento absurdo acerca da literatura, e desfilam ao longo do livro diversas obras, de Faulkner a McCarthy, passando por Austen, Pynchon, Hemingway, Greene, Mann, Joyce, Dostoiévski, Tolstoi, Nabokov, Shakespeare e muitos, muitos outros, culminando com uma reverência a Flaubert (o romance moderno nasceu com ele, afirma, em certo ponto, o autor).

A partir da análise da técnica do estilo indireto livro, James Wood analisa o dilema do pensamento do autor versus pensamento do narrador, reflete sobre as metáforas, estilo, diálogos e muitos pontos que me fizeram repensar o ofício do escritor e a própria leitura.

Logo no início do livro, o autor é enfático a respeito das maneiras como se pode escrever um livro:

“A casa da ficção tem muitas janelas, mas só duas ou três portas.”

Em um determinado ponto, ele diz que

“os jovens ainda não leram literatura suficiente para aprender com ela de que modo lê-la.

Concordo plenamente com essa ideia, me incluindo aí, obviamente, na categoria dos jovens.

Mas o que de mais “ousado” ele afirma é quanto ao uso das metáforas:

“Num certo aspecto, a prosa complexa é muito simples, devido ao caráter matematicamente definitivo segundo o qual uma frase perfeita não pode admitir um número infinito de variações; não se pode aumentá-la sem algum prejuízo estético: sua perfeição é a solução de seu próprio quebra-cabeça; não havia como fazê-la melhor.”

Uma das metáforas perfeitas, que não havia como dizer melhor, para o autor, é uma de Tolstoi, que disse que os bracinhos dos bebês são tão rechonchudos que parecem amarrados com linha. Simples e perfeito.

Um belíssimo livro para quem, como eu, é apaixonado não só pela literatura, mas pelo modo como ela é feita.
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Carol 21/01/2012

Só alguém tão entendido de literatura conseguiria escrever um livro desses, falando de Henry James, Flaubert, estilo indireto livre e outros assim, tão leve e descontraído. Aí James Wood ganha muito pontos, conseguindo o que tantos críticos famosos falharam em conseguir. Desculpem o momento frase clichê, mas já dizia Eistein, se a pessoa não sabe explicar algo de maneira simples, ela não o entende suficientemente bem. E tem mais: se Milan Kundera, para dar um belo exemplo, escreve lindamente sobre a arte literária, Wood é menos romancista e mais crítico, prático e objetivo.

Como funciona a ficção é divido em capítulos que tratam da narrativa, dos detalhes, dos personagens, da linguagem, do diálogo, do realismo, além de dois capítulos dedicados a Flaubert (um sobre a narrativa moderna, que Wood considera derivada de Flaubert, e outro sobre o surgimento do flâneur, no qual o personagem vai andando pelas ruas e observando). Em cada capítulo, o crítico vai dando exemplos e destrinchando alguns trechos, partindo do particular para chegar a uma reflexão mais geral de tal ocorrência na literatura.


Ao decorrer do livro, Wood fala muito sobre o estilo indireto livre (além de uma overdose de Flaubert, é claro). Nesse estilo, a narrativa, em terceira pessoa, mescla as vozes do autor e do personagem, às vezes pendendo mais para um lado, às vezes para o outro. O autor transcreve uma passagem (maravilhosa) de What Maisie knew, de Henry James, e por cinco páginas discorre sobre as palavras muito bem escolhidas. Por exemplo, na passagem “tucked-in and kissed-for-good-night feeling”, James, modestamente, deixa seu próprio requinte literário de lado para dar voz à pequena Maisie. Ou como no conto Os Mortos, de Joyce, que começa assim: “Lily, a filha do zelador, estava literalmente com o coração na boca”. Mas é impossível ter o coração literalmente na boca, e pensa-se que Joyce era inteligente o suficiente para não falar tal bobeira. Mas Joyce escolhe por dar voz à Lily, que provavelmente usaria uma frase desse tipo para contar o caso para as amigas.

Interessante também a visão que Wood tem sobre os detalhes. O crítico Roland Barthes, em seu ensaio O Efeito de Real, argumenta que o detalhe “irrelevante” (quem colocou as aspas foi James Wood) está ali para causar um efeito de realismo descritivo, mas que na verdade nada tem a ver com o real. Barthes dá o exemplo de um trecho de Um Coração Simples, de Flaubert, onde é descrito o quarto da srta. Aubain. Vários objetos estavam no quarto, cadeiras de mogno, caixas e cartões, um piano, um barômetro. Segundo Barthes, todos os objetos citados tem seu papel na narrativa (mostrar condição social, estilo de vida, sugerir a desordem do personagem) – menos um: o barômetro. Ele está ali só por estar. É como se Flaubert dissesse “viu só como minha narrativa é real? nela encontra-se o que conta a história e também o que, como na vida, só estava ali por cima no momento”. Mas será que Barthes não peca ao chamar esse tipo de detalhe irrelevante? Não seria todo detalhe intrinsecamente ligado à narrativa, e portanto relevante? Carol Bensimon, nos Cadernos de Não Ficção 2 (http://issuu.com/naoeditora/docs/cadernos_2) da Não Editora, diz que “atendo-se ao supostamente essencial, me causa a impressão de que as coisas estão passando mais rápido do que deveriam”, e que, quando os supostos “excessos” são cortados de um texto, os personagens viram “meros executores de ações que precisam acontecer uma depois da outra rumo ao desfecho”.

Sobre personagens, Wood discorda fortemente de Forster, que em Aspectos do romance, classifica os personagens como planos ou redondos. Classificação essa amplamente utilizada em críticas e resenhas por aí. O autor sugere, brilhantemente, a classificação dos personagens em transparências (personagens relativamente simples) e opacidades (relativos graus de mistério).

Agora, devo alertar: se você for optar por ler a tradução para o português, leia antes esses comentários da tradutora Denise Bottmann (http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/03/12/tradutora-de-como-funciona-ficcao-critica-edicao-368236.asp). Como funciona a ficção é para os escritores e para os leitores, também. Não é um guia, mas seu fator direto-ao-ponto é interessante – e verdadeiro, sem firulas.

Mais em http://apesardalinguagem.wordpress.com
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Wellington Ferreira 30/09/2012

Ótimo
Leitura obrigatória para quem almeja se tornar um bom escritor, eu disse, um bom escritor.
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Adriana Scarpin 12/02/2016

No primeiro capítulo o autor discorre amplamente sobre o discurso indireto livre, aquele que é caracterizado pelo personagem narrador mas que obviamente sofre a interferência do autor e vice-versa.
No segundo capítulo Wood demonstra o quão influente foi Flaubert não apenas para a literatura mas também para o cinema que nem sequer havia sido inventado.
No capítulo 3 há as considerações sobre o flanêur flaubertiano, aquele personagem tão atento que registra as coisas ao seu redor como uma câmera, diferindo do que fazia Balzac que descrevia de forma muito mais dispersa.
No quarto capítulo Wood discorre sobre a tangibilidade do detalhe, contradiz Barthes no que se refere a um significante inútil apresentado entre os detalhes e pontua que um bom escritor nunca explica a presença do detalhe.
No capítulo 5 Wood exemplifica os conceitos de personagens redondo e plano de acordo dom E.M. Forster, dois quais ele não concorda pois designios espaciais não seriam adequados.
No sexto capítulo Wood monta uma retrospectiva da evolução da consciência na literatura, tendo como pontos-chave Diderot, Stendhal e Dostoiévski.
No capítulo 7 há algumas considerações sobre a empatia, tanto do autor em relação aos seus personagens quanto destes entre si, além de pinceladas sobre a filosofia moral.
No oitavo capítulo há uma variada exemplificação sobre a linguagem de certo autores, evidenciado os mais diferentes tipos de metáfora.
No capítulo 9 ocorre as intermitâncias do diálogo segundo as visões de Naipaul e Henry Green, este último sempre batendo na tecla dogmaticamente de que o diálogo é a única forma de se descobrir o personagem.
No décimo e derradeiro capítulo Wood arremata sobre o que afinal seria o realismo, se um gênero, um estilo, uma forma de verossimilança, uma realidade...

Enfim, no geral é um excelente livro com depurações estilísticas muito perspicazes sobre os mais diversos autores, indicando no final das contas que a literatura é um veio de infinitas possibilidades.
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Sanoli 29/05/2016

Em um paragrafo!
Para ler nossa resenha, por favor, acesse nosso blog! Obrigado! Bjs :)

site: http://surteipostei.blogspot.com.br/2016/05/como-funciona-ficcao.html
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