Nika 30/09/2011Aprendendo como funciona a ficçãoEm minha aprendizagem de escritora, terminei a lenta leitura de Como Funciona a Ficção, do crítico literário James Wood. A leitura andou vagarosamente por minha conta, não pelo livro. De fato, eu o senti como uma obra de leitura sem pressa, do tipo que se aprende absorvendo, tanto quanto lendo. Obviamente, Wood não fez uma manual de “como funciona” a ficção, falamos de literatura e não de máquinas. Provavelmente, o livro é mais sobre como funciona a cabeça do leitor ou do crítico, ou do leitor (apaixonado) e do crítico (controvertido) que Wood é. Ainda assim, senti-me levada pela mão na aprendizagem de como e porque determinados autores icônicos são reverenciados. Dos citados, li muitos, mas não em quantidade, e estou há quilômetros de ter lido todos. Alguns, eu conheci tão jovem e de forma tão pouco orientada que sequer entendi. Wood renovou-me a vontade de ler e reler clássicos e esclareceu-me o sobre o que enxergar na prosa dos grandes autores e dos grandes estilistas literários.
Os detratores do Wood o acusam de ser conservador, tanto em seus gostos, quanto no que ele preza e valoriza. Confesso que, em minha ignorância das modernas correntes e debates da área literária, o livro de Wood me soou confortável e acessível como uma xícara de café batido. E, mesmo que alguns críticos apontem isso, eu não senti empáfia no seu texto. Pelo contrário, é muito fácil somar-se ao encanto e à paixão do autor pela literatura contemporânea. Longe de pretender ensinar macetes, a obra de Wood se debruça sobre o já escrito e tenta encontrar suas partes. Tenta. Nem sempre consegue. E isto é o que há de melhor no livro: a conclusão de que falando de arte, podemos até localizar suas partes móveis, mas entender por que colocadas de uma determinada maneira elas funcionam e de outras não, fica fora de nossa alçada consciente. Nesse sentido, a metáfora do cozinheiro (que pode ser vulgar, mas não é incorreta) usada pelo autor em sua introdução foi caindo com mais força em mim ao longo da leitura. Pode-se dar a mesma receita e os mesmos ingredientes a cozinheiros diferentes, o resultado jamais será o mesmo.
Não foi uma nem duas vezes que, ao visualizar as peças móveis apontadas por Wood dentro de obras reverenciadas, percebia imediatamente já tê-las visto, de forma ruim e mal arranjada, em outros textos ficcionais. Imaginei que um escritor iniciante que muito estudasse o que ele aponta ali, conseguiria reproduzir, imitar, reconstruir, e elaborar sobre o caminho erguido pelos mestres e, ainda assim, não teria garantias de fazer uma boa ficção. Isso porque, depois que uma obra está escrita, você consegue entender de que forma aquilo funcionou, mas não antes. Claro que as diretrizes ajudam, mas o fato é que elas não determinam. Se você aplicar todas as técnicas ao texto, mesmo as melhores delas, terá um texto técnico, nada mais. Isso pode garantir um bom texto. Um texto vendável. Uma publicação. E haverá quem goste e haverá quem desfaça. No entanto, arte não é só técnica. Técnica é uma das suas armas de expressão. Uma ferramenta que a arte molda e subverte à sua conveniência. Quem vai determinar o valor do resultado? O crítico? O público?
Minha veia de historiadora aponta para o tempo. Aliás, essa é minha maior crítica ao livro de Wood, sua pouca atenção aos ritmos do tempo e da história. Ao fato de que, mesmo que obras que os transcendam, os escritores são criaturas grudadas no mata-moscas histórico que é o seu contexto, seu tempo, seu espaço.
A impressão de leitura completa está no blog http://sapatinhosvermelhosnika.blogspot.com/2011/09/aprendendo-como-funciona-ficcao.html