Alle_Marques 21/10/2021
Tudo acontece com Tom Sawyer
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[...] Com bastante diligência e muita atenção, Tom logo pegou o jeito e seguiu caminhando rua abaixo, com a boca cheia de harmonia e a alma cheia de gratidão. Sentia-se bem do jeito que um astrônomo que acabou de descobrir um planeta novo sente. E se pensarmos simplesmente em um prazer forte, profundo e completo, a vantagem estava com o menino, e não com o astrônomo. [...]
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É tudo muito conveniente, Tom parece sempre está no lugar certo e na hora certa (mesmo para as desventuras, já que até elas terminam em coisas boas), e mesmo ele sendo o protagonista, fica difícil de acreditar que tudo sempre acontece com ele ou perto dele.
Além disso, para gostar realmente da obra, é necessário uma boa vontade e uma suspensão da descrença gigantescas para os absurdos que a trama conduz, entre eles o de três CRIANÇAS cruzarem um rio sozinhas e no meio da noite, passarem uma semana se divertindo em uma ilha deserta, preocuparem uma cidade inteira e voltarem apenas para assistirem seus próprios funerais como se a vida fosse uma grande brincadeira, e mesmo depois disso tudo, depois dos vários perigos que eles correram, das várias tragedias que poderiam ter de fato acontecido aos meninos, ainda assim, não receberam nenhum castigo, nenhuma bronca e nenhuma repreensão por parte dos adultos, isso por si só já exigiu mais boa vontade do que eu estava disposta a dar.
Em certo momento da leitura cheguei até a pensar se o Tom não tinha certo grau de psicopatia, isso pelo egoísmo dele em alguns momentos, pelo seu impulso, pela sua aparente dificuldade em distinguir o ‘bem’ e o ‘mal’ e pelas diversas travessuras que ele apronta que, como fica claro na obra, ele mal sente arrependimento por elas e quando sente, é sempre após ser repreendido. Mas claro, foi apenas uma impressão, um pensamento rápido.
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Não duvido que na época tenha sido uma ótima leitura, tem algumas passagens legais, engraçadas e marcantes, quem sabe até consiga agradar algumas crianças de hoje, mas acredito que não tenha envelhecido tão bem, é problemático, por vezes monótono e repetitivo e, como já disse no início, ‘é tudo muito conveniente’, isso quebra o encanto do livro, ele exige muito e entrega pouco. Ainda assim, ainda pretendo ler “As Aventuras de Huckleberry Finn”, imagino que será igual, mas pelo menos já saberei pelo que esperar.
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