Nicole.Avancini 30/04/2024
Entre o fardo da história e a liberdade absoluta
Atendendo ao apelo de Sartre, de que a literatura seja um trabalho engajado, que retrate a realidade social e critique suas falhas, Beauvoir constrói uma bela narrativa com o cenário de Paris na segunda guerra.
a autora bem reflete as ideias principais do existencialismo sartriano em sua literatura: o ser, a existência, a morte, a liberdade.
mas não apenas reproduz fielmente a filosofia sartriana, como também aborda temas caros ao seu próprio pensamento filosófico: o casamento, o amor romântico, a situação da mulher, o patriarcado.
numa escrita sagaz e devidamente poética, somos levados a pensar a situação do ser humano em meio a uma guerra, em que a sensação de impotência é inevitável, mas que justamente por isso nos confere motivo para reafirmar o império de nossa liberdade como ontológica.
por um momento, achei que o final seria feliz e esperançoso, reafirmando o valor da vida, mas Beauvoir nunca perde o contato com a realidade. ela é idealista apenas quando se trata do amor. a esperança que resta é aquela da descoberta da liberdade, sobre a qual nem a morte pode exercer coerção.