Isabel 23/06/2012Alguns temas e gêneros parecem já me parecem bastante esgotados. Fantasia, por exemplo: depois da onda vampiros/lobisomens/anjos, eu acreditava que até mesmo uma reencarnação de Tolkien falharia em achar uma centelha de criatividade aproveitável, algo que ainda não tivesse sido escrito. Para quem, assim como eu, também foi/é fã do seriado Sobrenatural, a coisa se agrava: não parece haver uma criatura mítica ainda não caçada por Dean e Sam – que, apesar de se distanciarem da aura romântica e de aceitação dos YAs, ainda possuem sua parte Fantástica.
Que eu estava redondamente errada e perdi muito em ignorar livros de fantasia nos últimos tempos é óbvio, mas resta saber que obra mudou minha opinião – neste caso, ela atende pelo nome de Firelight.
Neste livro, Jacinda, a protagonista, é uma draki, uma espécie de dragão que pode se transformar em humano. Mais do que isto: Jacinda é a primeira cuspidora de dragões em gerações, o que faz com que ela seja destinada a casar com Cassian, o futuro alfa do clã, o que ela odeia – além de não querer ser feita de mera reprodutora, Jacinda sente por sua irmã gêmea, Tamra, apaixonada por Cassian desde sempre e ignorada por ele desde que não incorporou (ou seja, não foi capaz de assumir sua forma draki) no início da puberdade.
Graças às propriedades mágicas do seu sangue e ossos e habilidade para achar gemas embaixo da terra, os drakis são caçados, os que os leva a viver escondidos em aldeias isoladas e protegidas magicamente. As regras também são bastante estritas: drakis não podem voar a luz do dia – o risco de um caçador vê-los é imenso. Jacinda, porém, desobedece esta regra juntamente com sua amiga Az – o que quase custa a vida de ambas.
Depois deste ato de rebeldia, a mãe de Jacinda – que não incorpora em solidariedade à Tamra e para não lembrar de seu marido, morto pelas mãos de caçadores – decide que o melhor para a família é que todos fujam da isolada aldeia do clã e se mudem para uma cidade.
Apesar de odiar toda a atenção que lhe é dispensada e o fato de ser “destinada” a Cassian no clã, Jacinda detesta ainda mais a cidade que é escolhida pela mãe como seu novo lar: no meio do deserto, sem contato com a terra, a natureza “viva” ou sua própria espécie, o lado draki de Jacinda começa a definhar como sua mãe objetivava. A única coisa que o mantém vivo no árido clima de Nevada é Will, um colega charmoso de Jacinda e que esconde tantos segredos quanto ela.
Firelight foi feito para vender – desde a capa (que é linda) até o precinho razoavelmente camarada para um YA. Não digo por que a autora escreveu exatamente o que gostaríamos de ler ou coisa do tipo, mas é perceptível pelas frases curtas e linguagem simples empregadas que Sophie Jordan queria uma leitura o menos complicada possível. E conseguiu: li Firelight em uma noite, movida em parte pela falta de sono e em parte pelo envolvimento que a história proporcionou.
Tento variar minhas leituras o máximo possível: desde YAs até os clássicos, de distopias a épicos. Contudo tenho meus preferidos, e quando se lê bastante do mesmo gênero é quase impossível não encontrar semelhanças gritantes – os famosos clichês.
Nesse aspecto Firelight está bem servido: o grande conto de irmãs gêmeas muito diferentes entre si; a luta pela aceitação por parte da família; as panelinhas dos populares e uma protagonista egocêntrica são elementos presentes – e como. Sinceramente, não me incomodei muito. Embora eu acredite que o livro formado somente de clichês perca completamente qualquer vestígio de enredo, não tenho muitos problemas se isso não interfere no desenvolvimento geral de forma significativa. Faltaram, contudo, explicações mais claras: ainda não entendi o que é um enkros, o temido inimigo dos drakis; ou até mesmo conseguir visualizar de forma inteira um draki completamente transformado - mesmo que as descrições de mudanças físicas existam e sejam muito boas.
Mas do que me entreter, Firelight abriu meus olhos para um gênero literário que eu deliberadamente ignorei desde o boom de Crepúsculo. Uma ótima companhia para uma noite de calor, tédio e insônia.
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