z..... 05/02/2019
Edição Martin Claret (2004)
Clássico francês do século 19, costuma aparecer em listas de livros destacados da literatura mundial. Na sugestão de uma delas busquei a leitura (101 Livros - Coleção Super Essencial).
Lembra outros livros do contexto, em que o meio é sedutor à ascensão social para jovens personagens, trilhando-se esse caminho com ambição fútil e maquiavélica. Especificamente da literatura francesa, é o que pareceu-me, por exemplo, a leitura de 'Madame Bovary' e 'Educação Sentimental' (ambos de Flaubert, registre-se, posteriores a Stendhal, mas de comum realidade).
Além da expectativa de crescimento ambicioso, evidencia também a futilidade que a almejada sociedade vivenciava cotidianamente. A leitura seguiu nesse rumo, numa história que não é bonita, mas interessante enquanto olhar histórico sobre o meio e sobre a disposição de caráter pelos objetivos.
É uma obra volumosa, em que fui movido mais por curiosidade que prazer (a não ser que o prazer seja sinônimo de reflexão).
Julien Sorel é o protagonista, tem pretensões de crescimento social, mas é limitado pelas barreiras que a sociedade criava em distinguir drasticamente, com preconceitos, ricos e pobres. O jovem, por mais talentoso e também bonito que fosse (uma das valorizações fúteis na sociedade), não passava de um provinciano filho de um marceneiro (em outras palavras, um Zé Ninguém no meio que queria se integrar).
Dois caminhos para os objetivos, que relativamente permitiriam o acesso: exército e sacerdócio. O primeiro estava em declínio (referência ao império napoleônico) e assim o segundo foi escolha fácil, que o permitiu "entrar no meio", onde, com desfaçatez e interesses egoístas, foi oportunista em conquistas que julgou vantajosas. Caso da confiança como preceptor, que o levou a se tornar amante da mulher do acolhedor (Senhora de Renal) e, posteriormente, amante da filha de um nobre (Mathilde de La Mole), ao ser credenciado como secretário .
Algo a se interpor em seus objetivos? Sim, numa ação que surpreende pela disposição do jovem em achar o que seria solução, semelhante a de Raskolnikov (analogia para conhecedores). Que crápula ambicioso! Mas de spoiler é só.
O sujeito foi sórdido, porém, interessante que a sociedade tem dessas coisas e isso, na cabeça de desajustados como ele, é sugestivo de que "os fins justificam o meio".
A sociedade se assenta em coisas vãs e espera-se nada menos que isso das pessoas. É o que seria natural e o contrário é até menosprezado. Aspecto ilustrado, por exemplo, no olhar de desprezo dos empregados à Julien, pela falta de tato em certos requintes.
O jovem também passa a se gabar em futilidades, como a sensação de "grande conquista" no adultério que comete com bonita, rica e bem afamada mulher.
As maiores emoções reservam-se no desenrolar final, com disposição surreal na Sra. de Renal e muito mais na jovem Mathilde. Talvez elas sejam a evidência da busca de novos rumos na sociedade de imposições fúteis, amando por amar, e não por interesses próprios como Julien e tantos outros. Pelo menos é o que concluí e escolhi associar na história e na percepção de vida (ainda que em disposições que não concorde).
Encerro com trecho de um diálogo que extraí do capítulo IX - Livro II (O baile), que nas entrelhinhas traz um retrato que esta resenha tentou evidenciar:
"...No século XIX já não há paixões verdadeiras. É por isso que há tanto tédio na França. Cometem-se as maiores crueldades, porém sem crueldades.
- Tanto pior! disse Julien. Pelo menos quando se cometem crimes é preciso cometê-los com prazer; é o único lado bom, e só se pode justifica-los um pouco por essa razão."