spoiler visualizarCris Lasaitis 16/02/2011
Time's Eye, Sunstorm e Firstborn
http://cristinalasaitis.wordpress.com/2010/01/09/leituras-de-2009/
Esta trilogia, escrita a 4 mãos, foi um dos últimos trabalhos do mestre Clarke (o último foi The Last Theorem, escrito em parceria com Frederick Pohl). São três livros bastante independentes dentro de um mesmo contexto e amarrados por uma protagonista.
Em Time’s Eye conhecemos a tenente indo-britânica Bisesa Dutt, trabalhando em uma missão de paz da ONU no Afeganistão. Quando, de repente, aparecem curiosas esferas no céu e o planeta é convertido em uma colcha de retalhos temporais: os soldados do século XXI encontram uma missão britânica do século XIX, que encontram os australopitecus, que são encontrados pelo exército de um tal de Alexandre, o Grande. Por sua vez, os astronautas da Mir fazem uma descida no deserto da Mongólia onde se encontram com o quase-nem-cruel exército de Gengis Khan.
Exilados de seus períodos natais, os personagens têm de aprender a viver nesse mundo estranho (que batizam de “Mir”), descobrir o que aconteceu e tentar entender qual é o recado que os “olhos” – as esferas alienígenas – querem lhes dar. Serão somente cobaias de um experimento de uma civilização tecnicamente muito mais avançada, que não os veria como algo mais do que formigas?
Os dois grupos seguem para a Babilônia, onde parece iminente o encontro mortal do exército de Alexandre com o de Gengis Khan – uma batalha que até eu (que odeio as guerras de paixão) gostaria de ver no cinema.
Em Sunstorm, a tenente Bisesa Dutt conseguira negociar com um “olho” o retorno ao seu século de origem. Após ter passado cinco anos em Mir, ela retorna exatamente ao mesmo dia do lapso. Reencontra sua filha, o exército a deixa de licença e, para quem não acredita na incrível história que ela conta, Bisesa consegue provar que seu corpo está cinco anos mais velho. Mas agora o mundo enfrenta uma outra ameaça: cientistas alocados na Lua detectam uma anomalia no fluxo de neutrinos do Sol e descobrem que dentro de poucos anos haverá uma tempestade solar de proporções catastróficas, que poderá esterilizar a Terra em uma tempestade de raios gama. As nações começam a se preparar para esse dia apocalíptico, as maiores cidades – a exemplo de Londres – constroem gigantescas redomas como escudos protetores. A civilização se mobiliza para construir em tempo recorde um enorme anteparo refletor para proteger o planeta dos raios mortais da tempestade solar.
A descoberta de que a tempestade seria causada por uma intervenção dos “olhos” – os firstborn, ou primogênitos - é corroborada pela curiosa história da tenente Bisesa Dutt: há uma civilização em outra galáxia que deseja que a vida em outros planetas não disperdice sua preciosa energia…
Não tendo conseguido destruir a humanidade em Sustorm, em Firstborn os alienígenas ainda colocam em rota de colisão com a Terra um objeto desconhecido, apelidado de “bomba Q” – uma espécie de armamento entrópico capaz de provocar cirurgicamente um “big rip“. Agora Bisesa Dutt, despertando de uma inexplicável hibernação criogênica, é conduzida às pressas até a colônia terrestre em Marte, onde está refugiado um dos “olhos” – afinal ela é a única pessoa com comprovado poder de negociação com eles. O livro apresenta os esforços da humanidade para contornar a ameaça e tentar compreender as razões (e conflitos internos) dos “olhos”, com direito até a uma viagem steampunk através de Mir e tramas políticas encabeçadas por trincas matrilineares de heroínas.
Time’s Eye é uma leitura interessante pela premissa absolutamente engenhosa. Sunstorm é um dos melhores livros de hard science fiction (ficção científica com embasamento técnico) que já li. Firstborn é, na minha opinião, um livro forçado e redundante, mas com um final surpreendente.
É uma série que gostei muito (apesar do último livro) e digno de coroar o legado de Sir Arthur C. Clarke. Digo mais: é uma série que deveria ser traduzida e publicada no Brasil. E de certo modo estou segura de que ela será – se dentro dois ou trinta anos, não sei. Se depender de mim para encher a paciência dos editores, tranquilamente o farei.