Gabriel 19/11/2016
Corrida maluca.
Se ao finalizar o primeiro volume de “A Roda do Tempo” o leitor ficou um pouco desapontado com a história apresentada por Robert Jordan, a segunda parte da série, “A Grande Caçada”, pode ser a chance dele se reconciliar com o autor. A busca pela conhecida e mística Trombeta de Valere, que contém poderes inimagináveis ao soar de uma simples nota, oferece, a meu ver, uma aventura tão empolgante e acima de tudo mais subliminar que a apresentada em “O Olho do Mundo”, cuja história remetia em diversos trechos a “O Senhor dos Anéis”.
A julgar pelo título da obra e baseando-se nas informações oferecidas sobre o curioso instrumento mágico no livro inicial de “A Roda do Tempo”, custei a achar que “A Grande Caçada” seria uma espécie de “Corrida Maluca” ou “Pegue o Pombo”, mas o resultado, no entanto, não foi bem esse. Muito melhor que isso, a história procura surpreender o leitor, tangenciando os acontecimentos a rumos que ele não esperaria que fossem tomados, obtendo, na minha concepção, êxito quanto a esse aspecto.
Diferente do que ocorre em “O Olho do Mundo”, onde há uma predominância de capítulos sob o ponto de vista de Rand, nesse livro Jordan busca equiponderar um pouco mais a participação dos personagens, oferecendo trechos centrados na percepção de outros protagonistas e até mesmo em indivíduos que desempenham papéis secundários. Nesse segundo caso, considero interessante que Robert aproveita essas partes para apresentar lugares e elementos que só serão importantes mais para frente na história, o que chega até a causar estranheza no leitor, que não consegue situar a primazia tais trechos no plot principal. “O que é isso? A trama acontecendo em São Paulo e o cara me dando informações sobre o Acre”. Mas, posteriormente, as peças desse imenso quebra-cabeça se encaixam e as dúvidas somem.
Rand passa por alguns conflitos dos cabulosos durante a obra. O protagonista já não sabe em quem confiar, e muitas coisas não tão bem explicadas a ele estão gerando medo sobre o que pode acontecer no seu futuro. É interessante também a oportunidade de saber nesse livro um pouco mais sobre a Aes Sedai e suas facções, que permeiam em alguns aspectos a trama principal. A política, por sinal, área que tenderá a ser abordada no meio da série, começa a ser abordada na obra. Mas, de todos os personagens e elementos apresentados aqui, o que mais me chamou atenção nesse volume foi o Loial e seu povo, os Ogier. Apresentando-se carismático ao leitor, espero fortemente que ele volte nas próximas partes da saga.
Diferente do que ocorre no primeiro livro, em “A Grande Caçada” há uma maior fluidez nos fatos, o descritivismo que alguns consideram exacerbado é amenizado nesse segundo volume, conquanto o estilo que pareça ser típico de Jordan de deixar os acontecimentos acontecer de maneira mais lenta até a metade da obra, quando entram então na trama mais ação, persista aqui. As últimas cinquenta páginas do volume, assim como em “O Olho do Mundo”, são bastante turbulentas, acontecendo várias coisas ao mesmo tempo e em intervalos muito pequenos. Só que dessa vez, a escala é superior, o que gera um sentimento de emergência muito maior, sem que o autor perca o fio da miada e apresente um desfecho confuso.
Assim, considero a segunda parte de “A Roda do Tempo” melhor em grande parte dos aspectos que a sua anterior, acertando em pontos que considero cruciais para envolver o consumidor literário. Se o ledor já se sentiu fascinado com o início dessa gigante saga, “A Grande Caçada” deve fazê-lo ganhar mais gosto por toda série e sentir vontade de devorar os seus próximos volumes. Agora, é esperar o que a Roda há de tecer para os seus personagens.