Sô 28/07/2017É um daqueles livros que parece ter como foco um tema específico, mas que acaba tendo outro completamente inesperado. O que eu esperava encontrar era uma história centrada no caso amoroso envolvendo uma professora de 40 anos com o seu aluno de 15 e todos os problemas por trás, mas me deparei com algo diferente. Esse livro não é sobre esses dois.
Quem narra a história é Barbara, professora de 60 anos que desenvolve uma amizade com a professora novata de cerâmica chamada Sheba. Sheba é dessas que entra num recinto e chama atenção instantaneamente, ao contrário de Barbara que é quase invisível. É casada há 20 anos e mãe de dois filhos. A amizade que desenvolvem acaba sendo muito mais significativa para Barbara, beirando a obsessão.
Num momento de vulnerabilidade, Sheba acaba confessando para Barbara que está tendo um caso com um aluno e inclusive encontra-se apaixonada por ele. Todos os detalhes sórdidos confessados por Sheba são registrados pela Barbara num diário. O que ela queria registrando tudo isso nunca fica muito claro, mas além dos registros das aventuras da amiga, ela acaba deixando muito dela própria nas páginas e o que encontramos é uma pessoa extremamente solitária. Barbara nunca se casou nem teve filhos. Sua única companhia é a irmã religiosa que mora longe com o marido. Seus dias passam ao redor da mesma rotina entediante com a sua gata. Um simples convite para um jantar acaba virando uma grande ocasião para ela. Há idas ao salão, compra de roupas novas e muita ansiedade em torno de algo que para muitos é algo rotineiro e banal.
Isso tudo até faria com que o leitor tivesse pena dela, mas o que acontece é justamente o oposto. Barbara é uma pessoa amargurada, egoísta e cheia de ódio para com o mundo. Tudo isso vai transparecendo aos poucos em comentários aqui e ali feitos por ela no diário. Numa das passagens, ela fala da amizade que ela tinha com outra pessoa antes da Sheba, que terminou de forma abrupta com a justificativa de que Barbara era intensa demais. São coisinhas assim que servem como pista para percebermos que ela não é lá muito normal.
Barbara é alheia ao próprio comportamento obsessivo e não consegue enxergar a si mesma como ela é realmente. Tem uma passagem em particular que mostra isso claramente, quando Bangs, um professor de matemática, recorre a ela para dizer que está apaixonado pela Sheba. Ela reage de uma forma que não só enfurece Bangs, como acabará definindo o futuro de Sheba. Nessa passagem, Barbara menciona que em certas pessoas pode ser detectada a semente da loucura, na qual dependendo das circunstâncias da vida, pode virar um broto e por fim florescer. Isso acaba fazendo muito mais sentido no caso dela do que de Bangs, no entanto, ela jamais percebe isso.
É um livro sobre a solidão, aquela tão profunda que te leva ao desespero e te transforma num monstro a ponto de acabar com a vida de outra pessoa para que você nunca mais se sinta sozinho e tenha uma companhia para os dias solitários. Mesmo que seja de uma forma deturpada.