Tiago.Amorim 16/10/2015
A Balada Feminista de Halo Jones
A edição de capa dura lançada pela Editora Mythos reúne a obra completa de A Balada de Halo Jones, infelizmente a obra não é tão acessível, pois eu achei o preço um pouco alto, esse talvez seja um dos poucos pontos baixos, mas não é culpa dos artistas, enfim… A história como você pode imaginar, gira em torno de Halo, uma mulher normal com sonhos e desejos iguais a de qualquer uma. Ela mora com suas amigas no Aro, um lugar que é utilizado para segregar as pessoas mais pobres, sob forte controle de comida e suprimentos e com poucas oportunidades de melhoria de vida para os seus habitantes. É no Aro que podemos conectar a distopia dessa história com a nossa realidade, Moore nos mostra como a mídia é utilizada como entretenimento com único objetivo de distrair as pessoas da realidade, retrata como mesmo num cenário como esse ainda temos o consumismo e o mais interessante, na minha opinião, ele descreve a nossa necessidade de estar conectado com algo, mesmo que isso seja o seu pior medo.
No inicio do quadrinho achei a Rodice, uma das melhores amigas de Halo, muito caricata… aquela típica visão que pressupõe que para a mulher ser heroica ela deve ter características de homem. Moore até brinca com isso quando no começo do segundo tomo, interrompemos a jornada de Halo para estudarmos sobre a lenda de Halo Jones numa aula de história, e um dos alunos chega a questionar se Rodice seria um namoradO de Jones.
Nessa aula ainda não sabemos o que ela fez de tão extraordinário para merecer ser estudada, até que o professor revela que a maior grandeza de Halo foi romper as limitações da sua vida sufocante e simplesmente ter caído fora. Quantas vezes nos sentimos com essa mesma vontade, não é mesmo? Dali em diante, os traços de Ian Gibson vão se modificando, deixando a jovem Halo mais madura e em certos momentos dando um ar mais obscuro ao quadrinho.
Na capa dessa edição, A Balada de Halo Jones é descrito como uma obra de ficção cientifica feminista, e não temos como negar isso. Além do fato de Moore ter mudado a forma de apresentar uma heroína na 2000 A.D., que tinha como arquétipo mais comum a heroína masculinizada ou a típica, frágil e dependente mocinha. Halo passa pela opressão do patriarcado em vários momentos, seja pela culpabilização da vítima pelo opressor não ter o seu amor correspondido ou quando vemos a submissão que a mulher tem que passar para conseguir um emprego. As duas situações onde isso ocorrem são tratadas de maneira extrema, mas quando refletimos no nosso dia a dia percebemos que infelizmente são cenas que fazem parte do nosso cotidiano.
O gênio de Moore também se faz presente, quando ele consegue convergir diversos temas subversivos no mesmo quadrinho como por exemplo, a questão dos direitos dos animais quando os personagens questionam o uso de derivados de leite. E apesar da pouca representação no quadrinho, o único personagem negro é o mais rico, poderoso e generoso. São temas que ocupam alguns quadros, mas tem uma carga emocional muito forte para os olhos e corações mais atentos.
Uma das coisas mais interessantes que pude perceber, foi como a clássica história do herói se diferenciou no quadrinho. Onde normalmente temos a saída do herói em busca de um objetivo e o seu retorno trazendo boas novas para o povo, em A Balada de Halo Jones, temos uma heroína que sai da terra que oprime seus sonhos, em busca de novas possibilidades e nunca mais retorna. Egoísmo? Com certeza não. Simplesmente Halo não pertence a uma terra ou alguém, Halo pertence somente a sua própria jornada. Halo é livre!
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