Maria - Blog Pétalas de Liberdade 04/09/2017Resenha para o blog Pétalas de Liberdade "Fazendo meu filme" é narrado pela Fani (apelido de Estefânia), uma garota de dezesseis anos, que mora com os pais em Belo Horizonte. O hobby da Fani são os filmes, ela ama ir ao cinema mas também ama colecionar os DVDs dos seus filmes favoritos, pois acha muito mais bacana poder assistir os filmes no conforto de casa. Deu para perceber que ela é mais caseira, né?!
"Eles ficam enfileirados na minha estante, todos os 55 filmes que já tenho. Assisti a cada um deles tantas vezes que cheguei ao ponto de quase decorar as falas. Inclusive anoto todas as minhas frases preferidas ditas por personagens, e - na minha opinião - os melhores livros são os roteiros. A Gabi diz que isso é obsessão, mas o meu pai falou que é um hobby até saudável, que, pelo menos, estou estimulando a imaginação e a criatividade. Mas eu digo pra ele que isso não é apenas um hobby... é vocação. Juro que um dia ainda vou ser cineasta. Ou diretora. Ou roteirista." (página 21)
A Fani tem dois irmãos mais velhos que não moram mais em casa, e está no segundo ano do Ensino Médio. Tem uma super amiga na sua sala de aula: a Gabi, e tem um amigo, o Leo, além da Natália, da Priscila e do Rodrigo (esses três últimos são de outra sala). Acontecem algumas coisas que trazem suspeitas de que o Leo goste da Fani não só como amiga, algo que até então a garota nem tinha imaginado. Além disso, a Fani está meio que a fim de um outro cara mais velho, e será que esse cara dá mesmo bola para ela ou é só coisa da sua cabeça?
"Terminei a lista e fiquei olhando. O que esses meninos têm a ver com o Leo? Nada! Todos eles são lindos de morrer e o Leo é...
O Leo é só o Leo. O Leo que gosta quase tanto de cinema quanto eu. O Leo que tem a mãe mais gente boa do mundo.O Leo que faz palhaçada para eu rir. O Leo que me protege sem eu nem estar correndo perigo. O Leo com quem eu gosto de estar junto em qualquer momento." (página 217)
Aí, além dessa coisa de saber se tem seu sentimento correspondido ou não, de tentar entender o que está acontecendo com o Leo e das dificuldades com os estudos, surge a possibilidade de um intercâmbio: um ano em um país diferente. Em "A estreia de Fani", acompanharemos o desenrolar desse e de outros acontecimentos na vida de nossa protagonista e narradora, numa fase em que a infância se distancia cada vez mais.
"Foi a primeira vez que eu tive a sensação de que eu era a responsável pela minha vida. A primeira vez que eu senti que a minha mãe não estava me tratando mais como criança, e em vez disso me deixar feliz, me deixou ainda mais desesperada, como se, de repente, eu tivesse caído na real de que tudo o que estava acontecendo era por minha culpa e de mais ninguém." (página 185)
A história é narrada de forma que até parece que estamos lendo o diário da protagonista, ainda que ela não seja contada em forma de diário. Talvez por isso e pela escrita super fluida da autora, a leitura tenha acontecido mais rápido do que eu imaginei pelo número de páginas. Os capítulos curtos também ajudaram, já que sou vítima daquela promessa fajuta de "só vou ler mais um capítulo", aí acontece alguma coisa que me deixa mega curiosa pelo que irá acontecer a seguir e eu leio mais UNS capítulos. "Fazendo meu filme" foi um dos primeiros títulos da Paula Pimenta, eu não sei se foi uma opção dela ou se foi inexperiência (que fique bem claro que eu não estou reclamando de nada!), mas o texto ficou com uma cara bem adolescente, em todo momento imaginamos realmente que é uma garota de dezessete anos que está escrevendo, uma garota de Minas Gerais.
A trama não é focada no romance, e sim na vida da Fani e nas mudanças que estão acontecendo com a proximidade da fase adulta, mas tenho que comentar que algumas atitudes do Leo tocaram o meu coração. Aquela carta foi linda! Ainda que haja o velho clichê da rivalidade com outra garota na sala, é muito bom ver num livro voltado especialmente para o público adolescente, um modelo de relacionamento que não prende, mas que estimula as garotas a aproveitarem as boas oportunidades que virão. Mesmo que de forma leve, "Fazendo meu filme" toca em muitos assuntos importantes para esses leitores, e fico contente por a Paula Pimenta ter falado sobre eles.
"Só gostaria que você se empolgasse mais", ele continuou a falar, já que eu não me manifestei. 'Porque ficar longe do conforto da própria casa já é difícil para quem resolve fazer isso com muita vontade. Viajar sem estar interessados pode transformar o que seria a melhor época da sua vida em um pesadelo...'" (página 272, palavras do pai da Fani)
Outra coisa que também gostei foi poder voltar um pouquinho no tempo e relembrar como era a adolescência sem essa febre de smartphones e aplicativos que estamos vivenciando hoje. Matar as saudades da época do Orkut e do MSN. Tecnologia é muito bom sim, mas o que percebo é que estamos nos tornando dependentes dela nesses últimos anos.
E, como não poderia deixar de ser, "Fazendo meu filme" me fez lembrar da minha própria adolescência, das minhas inseguranças e ansiedades daquela época, da vida na escola, das saídas com os amigos... e eu sofri! Sim, eu sofri, pois meu coração não aguenta ver adolescentes sofrendo, se desiludindo, vendo amigos se afastarem, tendo seus planos (tão bem arquitetados) frustrados. Acho que livros do tipo, principalmente os nacionais, me fazem me identificar muito.
O meu exemplar é a oitava edição lançada pela Editora Gutenberg, e não me lembro de ter encontrado erros de revisão. A capa é muito bonita, pela escolha das cores, fontes e ilustrações condizentes com a trama. As páginas brancas não atrapalharam em nenhum momento a leitura, talvez pelo bom tamanho de margens, letras e espaçamento entre uma linha e outra. No início de cada capítulo há um trecho de um filme (já coloquei vários que foram citados na minha lista de filmes que quero ver!), além do uso de um tipo de letra diferente para marcar "extras", como listas da Fani e bilhetes, uma capricho da editora que me agradou muito.
Enfim entendi o motivo de essa série da Paula Pimenta fazer tanto sucesso! O primeiro livro não tem um final verdadeiramente aberto, mas é impossível terminá-lo sem vontade de saber o que mais acontecerá com a Fani nos próximos volumes. Sendo assim, quero muito ler os demais. Fica a minha recomendação para quem procura um livro nacional apaixonante, seja você menino ou menina, adolescente ou adulto, tenho certeza que a história vai tocá-lo de alguma forma!
"A porta tinha sido fechada, trancando todos os meus sonhos. E quando eu abrisse de novo, não teria mais nada do lado de fora. Só o vazio." (página 308)
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