A Seca de 1915

A Seca de 1915 Rodolfo Teófilo




Resenhas - A Seca de 1915


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Paulo Silas 30/12/2010

Rodolfo Teófilo demonstra neste livro todo o seu descontentamento para com os governantes do Ceará dos primeiros tempos da república:

“A politicagem nos fez muito mal...” Pág. 33

É como uma suplicante voz que por muito ter visto a desgraça clama sem se deter. Penso então que esta dever ser a marca principal o livro a “Seca de 1915”: relembrar os nefastos fatos de outrora a fim de que “os coevos não os pratique e os pósteros os conheçam.” Pág. 34

E quão nefandos foram os fatos ocorridos durantes aquelas secas avassaladoras.

Eram tão escabrosos, tristes e repugnantes que muitos, principalmente na época do escritor, passaram a achar que tudo não se passava de uma história mal contada.

Até mesmo o consagrado escrito José de Alencar cometeu, segundo Rodolfo Teófilo, um erro para com o Ceará:

“ [...] um de nossos representantes, José de Alencar, com o grande prestígio do seu nome, afirmava à Nação que havia exagero nas notícias transmitidas pelo Governo do Ceará sobre a seca [...]. Esta afirmação, proferida por tão eminente brasileiro, nos fez muito mal.” Pág. 32

O pior é que os governantes da República acreditaram que houve excessos nos relatos...

Indignado com a descrença daqueles governantes que tão bem conheciam a Europa, mas que nunca puseram os pés no Ceará, Rodolfo Teófilo joga toda sua raiva ao mostrar os extremos mais virulentos da seca:

“O que diria se visse um pai no delírio famélico matar o filho para comer; uma desgraçada mãe, só ossos e pelangas, morta e resupina no meio da estrada, no seio uma criançinha esquelética procurando sugar gotas de leite do cadáver; um retirante animalizado, metido numa gruta, alimentando-se da carniça humana que encontrava nos caminhos; uma criança encontrada à beira do caminho, fechada na camarinha, caída de fome e chupada de morcegos, que lhe cobriam o corpo um lençol negro; um desgraçado retirante estirado na estrada, no marasmo da fome, sem forças para mover um músculo, cercado de urubus vorazes e famintos, que não esperam a morte da vítima, mas a apressam, vasando-lhe os olhos com o bico adunco, como um espinho a enterrar-se-lhe na pupila dilatada e negra (a luz apaga-se, e o banquete dos corvos começa); Joaquim Punaré, um negro hediondo, feroz como uma hiena, em Canindé, no delírio da fome, comendo uma criança com mel de abelha?!” Pág. 62

Também me admira em Rodolfo Teófilo suas ideias nacionalistas e um pouco anti-europeias. Isto se mostra quando ele comenta a 1ª Guerra Mundial:

“A esta calamidade, para acabar de esboçar a mortecor do quadro da seca, segui-se a guerra da Europa.

Não era o jagunço do Padre Cícero, broco e matador, de trabuco ao ombro e facho na mão, assassinando e incendiando, que vinha retrogradar muitos séculos a civilização, mas o homem culto da Europa.

Esta guerra foi uma desilusão para os que acreditam que a cultura do espírito destrói no homem os seus maus instintos.

Para mim, a besta humana é a mesma das primeiras idades da terra, quando andava nua e era antropófaga. Ela matava o seu semelhante para comer e hoje mata só para destruir. As atrocidades cometidas pelos povos mais cultos do mundo deixam o espírito de quem medita sobre elas em um mortificante desconforto.

Para que abrir escolas, cultivar a inteligência humana, se o cultivo intelectual do homem o aproveita, não para o bem, mas como um fator poderoso do mau?

Comparem-se os crimes do passado com os do presente. O homem moderno mata com mais arte, rouba com mais astúcia e corrompe com maior elegância.” Pág. 46

Enfim! O que dizer deste livro? Digo, que mesmo macabro, é um relato para não ser esquecido!
Raquel 23/07/2019minha estante
Ola, gostaria de saber onde conseguiu esse livro? Estou doida pra ter e nao acho... Por favor me responda!




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