Mari Moraes 13/07/2021
Mas não deu pra salvar uma linha
Bom, eu sempre tive antipatia com Nelson Rodrigues, sua escrita sempre me pareceu pretensiosa e suas críticas sociais sempre me pareceram vazias.
Ele de fato expõe muitos cenários e cotidianos da vida em sociedade constrangedores e recrimináveis, mas não acho que isso chega a ser uma crítica de forma alguma, e nessa peça consigo exemplificar com clareza o porquê.
O fato de Ritinha ser uma boa moça, porém depois descobrimos que ela é uma prostituta, e aí na narrativa ela logo é tratada como uma mulher que não vale a pena, porém depois descobrimos ainda que ela sofria uma chantagem sexual, e ela volta a se tornar a coitadinha, o grande mártir, numa flagrante intenção do autor de dar um ?motivo? pra ela ser uma prostituta, como se mulheres não pudessem ser prostitutas ou fazer o que quiser da vida.
Outro exemplo, Edgard, que é pra mim uma personagem bem grotesco e [*****], no entanto, ele é visto como o grande mocinho, ele é retratado como o único homem de caráter que fica num dilema moral, de aceitar o dinheiro ou não, e no fim ele escolhe não aceitar, porém durante a peça ele chantageou e se aproveitou de mulheres e pintou outras de frígidas e recatadas demais, em suma, ele é um grande bosta!
E pra mim isso invalida totalmente as ?críticas? de Nelson Rodrigues, ele não critica sociedade nenhuma, ele expõe algumas situações sociais, mas é totalmente conivente com elas, o que podemos notar pela sua narrativa e pela maneira que ele constrói a história.
É uma crítica vazia, se é que chega a ser uma crítica.
Além disso, suas obras não são atemporais, e já estão mais que datadas pro momento social que vivemos hoje, fazendo até um grande desserviço para o senso crítico de algumas pessoas de aceitarem suas obras como um exemplo de uma grande denúncia social.