Julia G 24/05/2012Lulital - Pri BeletatoResenha Publicada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com
Aquele era o momento, eu estava ali e contemplava tudo ao meu redor. Eu via o sofrimento, eu via a tristeza e o desespero daqueles que eu mais amava. Uma escolha deveria ser tomada para que Lulital pudesse ser salva. O tempo corria e eu estava ali, sem coragem para decidir. De repente, o fim se aproximou.
Quando volta à cidade onde nasceu e passou parte da sua infância, Cindy não se sente tão feliz com isso. A cidade de Luanda, mesmo tendo em sua essência várias memórias boas para a garota, representava também sua pior perda, o motivo pelo qual ela e seu pai deixaram a cidade dez anos antes: o sumiço de sua mãe e a aceitação de sua morte.
As coisas, entretanto, não ficam assim tão ruins para Cindy como ela pressupunha. Logo que se encontra novamente com suas amigas e conhece pessoas interessantes (leia-se, alguém interessante) na cidade, aquela mudança começa a ser vista de forma positiva por ela. Até que um passeio, próximo ao bosque onde sua mãe desapareceu, desencadeia os mistérios há muito depositados no fundo das memórias dos cidadãos da cidade. Buscando solucionar os problemas conseqüentes a isso, Cindy acaba adentrando, junto aos seus amigos, em um universo novo, repleto de seres mágicos e lendas antigas. Mas para salvar esse reino mágico, ela terá de mergulhar de cabeça nessas lendas e vivê-las, o que pode custar muito mais que sua vida.
Magia: essa é exatamente a palavra para definir Lulital – a magia começa, de Pri Beletato. Imagine um lugar onde todas as lógicas do seu mundo são inválidas. Imagine aquele lugar que você sempre sonhou conhecer, ou onde imaginou estar nas suas brincadeiras de criança. O que senti, enquanto passava as páginas do livro, era como se tivesse voltado a ser aquela menina que sonhava ter asas, conhecer seres estranhos e uma realidade diferente. Com certeza Lulital é o mundo da minha imaginação de infância.
Notei semelhanças, nesse livro, com histórias já conhecidas, o que na verdade me agradou bastante. Durante a leitura, alguns momentos me trouxeram à mente O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa, das Crônicas de Nárnia, já que em Lulital há um portal e uma profecia que fala sobre um ser especial que viria a mudar a situação de opressão pela qual os seres mágicos passavam; ao mesmo tempo, esse mesmo portal de entrada me deu uma imagem de Alice no país das maravilhas, com uma queda em um mundo completamente diferente e, à princípio, incompreensível; outros trechos também me lembraram de Percy Jackson, como um labirinto de algo semelhante a um minotauro. Pri conseguiu, entretanto, conciliar todos esses ingredientes em uma mistura diferente e criativa.
Achei os personagens fofos, mas não consegui me identificar com eles, infelizmente. Senti como se a narração, mesmo tendo sido escrita em primeira pessoa, fosse objetiva demais, tirando um pouco o brilho das passagens. Li em um blog essa semana – no momento não consigo me recordar qual –, que a pessoa dizia ser detalhista, mesmo que para alguns leitores esses tipo de coisa pudesse tornar a leitura cansativa. Mas eu também sou, e muito. Faz toda a diferença, na minha concepção, dizer (só como exemplo) que “Cindy caminhou em direção ao lago” e que “Cindy sentia a adrenalina percorrer seu corpo, e o vento revolvia seus cabelos enquanto avistava ao longe o lago para onde se dirigia”. Claro que parece pura enrolação, mas a segunda frase mostra mais sentimento, mais envolvimento, simplesmente mais detalhes. Essa mesma objetividade acabou me afastando um pouco do romance. Lucas era um garoto que tinha tudo para me conquistar, e os momentos dos dois juntos eram uma gracinha, apenas.
Independente desses pontos, Pri Beletato conseguiu construir uma história encantadora, talvez um pouco mais infantil do que eu esperava, mas com uma personagem cheia de sonhos e de força de vontade que me despertou as lembranças mais puras da menina sonhadora que um dia eu mesma fui. Por ser seu primeiro livro, já mostra todo o potencial de uma escritora de sucesso. E apesar de ter sido em uma simples frase no último parágrafo, aquele final até então perfeito abre espaço para uma esperada continuação.
O trabalho da Editora Dracaena também foi valoroso. A capa é ainda mais linda pessoalmente, e a diagramação é maravilhosa, com páginas amarelinhas e fonte em um tamanho ótimo para a leitura. Os inícios dos capitulos são simples, mas bem feitos, o que dá um toque de carinho ao trabalho realizado para a obra. A revisão deixou passar alguns errinhos quase insignificantes, que não atrapalham em nada a leitura. Aproveito para agradecer à editora pela oportunidade de conhecer a obra.