Autobiografia de todo mundo

Autobiografia de todo mundo Gertrude Stein




Resenhas - Autobiografia de todo mundo


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Victor.Hugo 12/06/2020

A lucidez do pseudo-desvario
Deixe-me organizá-las, as ideias a respeito deste livro, a fim de escrevê-las. Li "A autobiografia de Alice B Toklas" há pouco mais de 3 anos agora e ainda tenho algumas reminiscências dessa leitura que me foram úteis na leitura da outra autobiografia, esta de todos. 

Bom, devo dizer que, apesar de saber mais ou menos o que esperar, o prefácio me deixou um pouco atordoado; nomes e mais nomes sendo jogados simultaneamente e fatos se mesclando.. enfim, algo atordoante. Válido, ainda, mencionar que o livro é dividido em 5 partes a fim de, de certo modo mas não completamente, marcar os diferentes eventos da narrativa. Logo aqui, é mister que eu diga que não me afeiçoei ao livro; a princípio não por sua narrativa ? esta é desafiadora e envolvente ?, mas por seu conteúdo: eu simplesmente não me importava, não sentia qualquer empatia, personagens que não a própria Stein (cuja semi-ficcionalidade não pode ser negada de modo que se trata, sim, de uma personagem) não me eram conhecidos; parecia-me, no todo, um grande e impessoal diário de pessoas cuja existência nada me dizia. 

Não me tomem mal, não digo que o livro não tinha nada a dizer nem que nada me tenha dito. Digo, isto sim, que, mesmo tendo muito a dizer e algo me tendo dito, não me disse o que era necessário para que dele tomasse gosto (e o que era isso nem mesmo eu sei o que era!). Muitas passagens me foram marcantes (tanto quanto as pude registrar numa espécie de diário de leitura que irregularmente mantive), dentre as quais as sensações de Stein ao descobrir que Picasso comecara a escrever poesia (e seu júbilo com o "fracasso" deste) e seu medo de que lha roubassem, a poesia, algo de si, que a faz ser quem é, que a caracteriza; a reflexão sobre a dificuldade em se continuar qualquer coisa, marcada por um elã de recriar a magia irrecuperável da primeira vez em que se é feita tal coisa, ato cuja repetição infrutífera leva a decepções muitas (e a aplicação dessa reflexão ao campo da Arte, em especial da pintura); outra reflexão, agora sobre o que está fora e o que está dentro de cada um, em que a escritora afirma que, quando passamos a ser valorizados e reconhecidos, o que nos é de fora passa a ser também interno (e, aqui, observa-se a intensificação da espécie de crise de identidade que acompanha a narradora na história ? muito provavelmente motivada pela situação de fama em que se encontrava ? e retomada quando afirma, ao ver um fenômeno estranho, se seria ela ela mesma só porque seu cachorro a reconhecia e se isso, afinal, não significasse mais à identidade do cachorro que à dela); além disso, as marcadas mudanças na percepção de Paris e a visão de que se haviam pessoas demais no mundo de modo a não haver lugar em que não houvesse gente também se me pareceram de alguma especialidade. Sobre a linguagem, menciono que, trabalhando de maneira a buscar uma impessoalidade que torna a Autobiografia um tanto quanto seca em estilo, Gertrude Stein faz uso de técnicas impressionantes, marcadamente o não uso da vírgula: aflora a oralidade de um texto que tanto clama pelas diferenças entre o oral e o escrito, o lido e o ouvido; dá uma espécie de fluidez (dentro daquilo que uma obra steiniana se permite ser) ? aliás, a linguagem, ressalto, não foi o que me afastou da obra, pelo contrário, dava-me interesse (uma pena que não o bastante para compensar todos os outros lapsos..)

Dessarte, A autobiografia de todo mundo não me é, de todo, nem boa nem ruim mas sim mediana. Li, já, as duas autobiografias de G.S. e, embora sem colecionar tão boas experiências, tenho desejos de ler outras obras da autora ? algo minimamente estranho, mas que talvez prove algo da genialidade da autora (este comentário faço tanto menos pela verdade que pela tentativa de explicar essa minha vontade tresloucada).
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romulo mafra 20/11/2013

Um livro dificílimo de se ler. Quase beirando ao pedantismo. Com poucas passagens interessantes, mas, o fato de a escritora não usar o básico da pontuação, exceto algumas vírgulas (algumas!!!) e, claro, pontos-finais, piora ainda mais a leitura deste livro. Por pouco não desisti, mas, da metade para frente, fui passando os olhos nas páginas, sem muito interesse.
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