jota 17/09/2013Mas que calor...A figura de Michael Beard, cientista de meia-idade envolvido num projeto de energia solar (mais especialmente de fotossíntese artificial), desprezado pela quinta esposa (vários anos mais jovem que ele e que o trocou por um pedreiro musculoso, não sendo esse seu único caso de infidelidade), que o torna grande parte do tempo uma figura patética (não apenas através de ações desastradas, mas também em pensamentos), é mais uma grande criação de McEwan.
Poucas vezes li ficção em que ciência e ecologia são mencionadas a toda hora com enorme plausibilidade e sem aborrecer o leitor, pelo contrário. Aquecimento global, poluição, extinção de espécies vegetais e animais, busca de novas fontes de energia limpa e renovável, etc., são o pano de fundo desta história. Mas que tem mesmo como grande protagonista o autoindulgente, cínico, desastrado e não exatamente ético Michael Beard.
A ação se passa entre 2000 e 2009, tempo em que o Brasil oferecia ao mundo, e nosso demagogo (um pouco pior do que isso, na verdade) presidente de então alardeava aos quatro cantos, a excelência da energia limpa e renovável dos biocombustíveis, que o país poderia produzir em escala mundial e salvar o planeta da catástrofe anunciada do aquecimento global. Mas o Brasil é citado no livro não exatamente como exemplo para coisa alguma e essa história dos biocombustíveis brasileiros o próprio governo deixou que caísse no esquecimento geral...
Bem, o Financial Times - e McEwan mostra o quanto há de interesse não exatamente científico na ciência - diz que este é talvez o melhor livro dele. Mas eu ainda penso que Reparação e Na Praia são os dois melhores livros que li dele e que Solar não é tão brilhante assim. Mas é muito bom.
Lido entre 11 e 17/09/2013.