Ana 20/01/2024
Certas coisas só são boas na nossa memória
Não sei se me arrependo de ter escolhido ouvir o audiobook ou não, se deveria ter deixado essa história que não terminei só no meu coração, se deveria ter lido todos os 4 livros de uma vez só aos 13 anos? A questão é: li com 18 e foi torturante.
A história é um clichê que funcionava há 15 anos atrás; que funcionava, arrisco dizer, até o fim dos anos 2010. Hoje, não funciona mais. Hoje, existem vários outros livros jovenzinhos para o público infanto-juvenil que dialogam sobre coisas muito mais importantes, que não passem uma mensagem tão problemática, com personagens tão distantes da realidade do pré-adolescente brasileiro médio.
A Fani e cia representam uma parcela tão pequena da sociedade brasileira, uma pequena elite social em que os problemas se resumem aos namoradinhos de escola sofrendo por perder a amada pra um intercâmbio, mães que podem pagar por faculdades como a PUC querendo que os filhos façam uma faculdade de elite para manter o nome da família, meninos de 17 anos que ganham carro ao passar no vestibular, perder viagens para Buenos Aires para ficar com a melhor amiga? enfim, é cansativo ver uma realidade paralela como essa e tentar só se divertir, sem fazer um recorte social (ao menos se você já é adulto e possui o mínimo de consciência de classe). Por esses motivos, preferia muito que a minha eu de 13 anos tivesse lido esses livros todos de uma vez, com sua ânsia infantil por literatura amorzinho, para que a minha eu de 18 não precisasse querer arrancar o baço ao ler coisas como a Protagonista sofrendo porquê o pai quer que ela faça duas faculdades, uma para agradar a mãe e outra que ela goste.
Sobre a trama em si, as coisas se desenrolam de forma cansativa e muito conveniente. Tudo nesse livro é extremamente conveniente. Até quando eu achava que viria um plot diferente, algo que seria realmente surpreendente, a Paula Pimenta conseguiu entregar o mínimo e de forma corrida e caricata. Eu entendo que a realidade da autora pode ter sido essa, mas cacete, podia ter se esforçado só um tiquinho pra fazer algo melhor.
Os personagens são rasos e se comportam de uma maneira extremamente infantil pra idade deles. Sério que com 18 anos na cara vocês não conseguem sentar pra resolver um problema? Não podem se escutar antes de tomar uma decisão? Vocês estão na faculdade, 🤬 #$%!& . Ajam como adultos. São adultos pra transar, mas não são pra ter uma conversa decente sobre mal entendidos?
A história tem vários pontos problemáticos. Relacionamentos amorosos problemáticos, relacionamentos familiares problemáticos, frases problemáticas e desconexas da realidade, arcos problemáticos e personagens problemáticos. Sério que é ok colocar duas pessoas de 18 anos desistindo de cursar faculdades dos sonhos só para viver um High School Sweetheart? Isso era ok em alguma época? Sério que era uma ótima ideia dizer para garotinhas de 14 anos que ?tudo bem você desistir do seu sonho por causa do garotinho que tirou seu bv??
Agora falando mais um pouquinho sobre a Fani: ela é uma pessoa ruim. Ela é medíocre, ela é infantil, ela é chata, ela é egoísta e extremamente conservadora. Pode parecer que não, mas ela é.
Enfim, acho que já até perdi o fio da meada enquanto escrevia, mas senti que para primeira resenha do ano eu PRECISAVA expressar o quanto certas coisas só funcionam quando somos mais novinhos. Às vezes é mais gostoso deixar a memória afetiva falar mais alto.
No mais, pretendo ouvir o audiobook do último livro quando eu quiser me torturar um pouco, já que eu tenho curiosidade 0 a respeito do final dessa história.
É isso, duas estrelas por conta da memória afetiva.