Felipe 18/11/2009
Aventuras provisórias
A primeira impressão que tive da obra de Cristovão Tezza foi extremamente positiva com “O filho eterno” que é um dos livros mais corajosos já escritos. Para tentar chegar a uma opinião se Tezza é o tipo de escritor de uma obra só, ou todos seus livros têm qualidade resolvi ler “Aventuras provisórias”. O motivo pelo qual optei por esta obra em especial é que o secretário de estado da educação de Santa Catarina comprou milhares de exemplares para serem distribuídos nas bibliotecas das escolas estaduais e depois mandou recolher por o livro ter “linguagem inapropriada” para adolescentes. Ora, um livro que um burocrata da educação não entende deve ter alguma qualidade, pensei, e não me decepcionei. “Aventuras provisórias” é de qualidade comparável a “O filho eterno”.
O motivo de eu gostar tanto da literatura de Tezza é que ele parece escrever para mim. Ele parece saber os meus sentimentos e parece fazer questão de deixá-los em exposição na sua obra para que todos possam conhecer minhas fraquezas. Se meu egocentrismo deixasse eu perceberia que os sentimentos que Tezza trata em sua obra são comuns a todos os Homo sapiens.
Em “Aventuras provisórias” o enredo gira em torno de João; um homem de meia-idade estabelecido financeiramente que está em crise existencial típica da idade. Ele encontra Pablo, um amigo que não tem emprego, foi torturado durante a ditadura militar e tem como grande objetivo na vida de construir uma casa em uma comunidade hippie para convencer Carmem, a quem só viu três vezes, a ir morar com ele.
O ponto central da crise de meia-idade de João é sua condição de filho único de uma mãe solteira possessiva que parece fazer questão de que todos os relacionamentos amorosos do filho não sejam bem-sucedidos. João é o narrador, que conversa constantemente com o leitor, e fica em grande parte lembrando as mulheres com quem não pode ter uma relação duradoura, Dóris e Mara, e no tempo da narração está casado com Glorinha, que está grávida – talvez isto justifique a crise existencial.
A relação entre João e Pablo é outro eixo do livro. João ajuda financeiramente Pablo para que ele consiga construir sua casa na comunidade hippie. João inclusive visita a tal comunidade, onde de início pensa em ficar, mas que no quarto dia volta correndo para Curitiba. Quando finalmente Pablo termina sua casa e convida Carmem para ir morar com ele, ela aceita.
Apesar de não se tratar “Aventuras provisórias” de um thriller de jeito algum, Tezza consegue fazer um mistério sobre o destino de Pablo no fim do livro. O final é inteligente, tocante e trágico, para Pablo. Para João o final é feliz e acontece antes de seu filho nascer.