Carla Brandão 26/06/2016Em Os garotos da minha vida, Beverly nos conta sua própria história. Ela cresceu em uma típica família americana dos anos 50-60, na qual o pai manda e todos - inclusive a mãe - obedecem. Mas aceitar todas as regras como certas nunca foi muito a dela, que questionava desde o fato de seu irmão sentar-se em uma das cabeceiras da mesa de jantar só por ser homem até a necessidade de usar sutiã. As brigas com os pais, como se pode imaginar, eram frequentes e Bev muitas vezes fazia ou dizia coisas pelo simples prazer de chocá-los.
Sua vontade de transgredir e de fazer tudo o que sua família e a sociedade diziam que não deveria ser feito por uma moça, levou a uma vida totalmente desregrada. Ainda adolescente, acaba engravidando e, ao contrário do que diz a sinopse, escolhe se casar com Raymond, pai do bebê. Poderia ser a virada em sua vida, afinal, muitos jovens amadurecem quando passam por essa situação. Mas não Bev e muito menos Raymond. Assim como a esposa, ele não abre mão de suas noitadas com os amigos nem das bebidas e das drogas, até que a situação fica insuportável até para Beverly. Após tomar uma importante decisão, ela segue sua vida cometendo uma sucessão de erros.
A narrativa de Beverly não contém apenas a descrição de suas experiências, mas também seus sentimentos em relação ao que aconteceu com ela. Apesar de nunca ter sido a menina certinha, ela tinha sonhos grandes e precisou deixá-los de lado para viver uma vida que não tinha planejado. Sua frustração está presente em muitas de suas falas, e toca o leitor sem ser piegas. Tal sentimento, a princípio, a impede de construir uma relação verdadeira com o filho, Jason.
Conforme o livro vai se encaminhando para o final e trazendo os acontecimentos de sua vida mais perto dos 30 anos, a escrita de Beverly vai se tornando mais madura, como que acompanhando o crescimento de seu eu-personagem. O sarcasmo vai pouco a pouco dando lugar a questionamentos mais sérios e a uma vontade de correr atrás de objetivos que ainda podem ser alcançados.
Os garotos da minha vida não pretende em nenhum momento servir de lição para ninguém. Ele não é o retrato de uma jovem que fez tudo errado até o dia em que resolveu mudar e se transformou em alguém "melhor" e bem sucedido. Tampouco as memórias de uma mulher que se arrependeu da vida que teve e das escolhas que fez. É, sim, a trajetória de uma adolescente rebelde e cheia de opiniões fortes que precisou lidar com o caos no qual transformou a própria vida. Aqui não há moral da história, acompanhar o caminho percorrido por ela vale por si só. O que não impede que a gente torça para que ela finalmente se dê bem, como promete o subtítulo do livro.
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