Lucas1429 06/04/2024
À sombra do passe em flor
Assim o é. O despertar, o alvorecer, então, amadurecer. E a (con) sequência disto tudo. Nesta novela, ainda que o categorizem romance, o tempo é o merecido descanso para a dor da memória.
O narrador, sem nome, mas de documento, filho de gaúchos, efervescente na compleição da adolescência inquieta e ingenuamente definidora, remeterá anos depois, aos trinta, migrado em São Paulo, o réquiem para o qual a parceria juvenil de Jaime e a paixão longínqua de Laura contribuíram, na formação intelectual e emocional, forçosamente decisiva, sua inercia adulta.
Como passagem de vida significa arrebatamentos, melancolia também é item consciente da figuração humana. Este homem, psicologicamente fragilizado, é visto em cima do muro ao conhecer o toque do prazer de uma vizinha, ao reconhecer a vantagem corporal inexistente para conquistar garotas, a confiança necessária para desatrelar-se da figura de Jaime, amigo, o melhor. Do acidente fatal num balneário de verão que coibirá sua trajetória, ponto de partida para a íntima reconstituição violenta em não parar. Ao custo amargo, seja.
"Nada pode ser tão banal, mas não é bem disso que estamos falando." Não foi. Senão o protagonista tragicômico, Michel Laub, seu ventriloquo, onipotente.
Ficcionista contemporâneo brasileiro, porto-alegrense e conterrâneo de suas criações errantes, Laub propositalmente gosta de inferir às formações de seus objetos literários, antecessores ou predecessores, o contexto social como atributo causal de comportamento, pertencimento, às vezes, exemplo. É uma alegria uma caneta desafiadora em riste, em atividade, em pedagogia do que é viver - inesperado.