Paulo 17/01/2021
No volume de estreia do arco escrito pelo roteirista Chip Zdarsky, somos introduzidos a um Demolidor fraco, após sofrer um acidente, debilitado, e cometendo mais erros do que o normal. No mais recente, ele foi responsável pela morte de uma pessoa. Matt então percebe que é hora de parar. Mas até quando? O advogado cego finalmente está passando por uma fase boa de sua vida, mas não sem ser assombrado pela culpa dos anos de violência em sua atuação como Demolidor, e também não sem se questionar a todo o momento. Afinal, em sua ausência, o submundo do crime começou a se movimentar, e as pessoas estão sofrendo. Matt sabe que o sistema é corrupto, e que nunca conseguirá fazer o suficiente dentro da lei. Mas também sabe que, com os dons que recebeu, ele consegue fazer mais pelas pessoas, à margem da sociedade, e à margem da lei. E abandonar o manto de Demolidor, é abandonar às pessoas a própria sorte, à sorte de um sistema essencialmente corrupto, que nada irá fazer para ajuda-las. Mas voltar a vestir o traje de Demolidor é se entregar novamente a um ciclo de violência e pecados, que são contra tudo o que prega a sua religião. Assim, Matt não para de se perguntar sobre o que é certo e o que é errado, confrontando a sua própria fé, e diferentes ideias de justiça (inclusive de pessoas que vivem do crime).
Após uma primeira edição frenética, com bastantes cenas de ação, a “A Paz de Deus” dá uma pausa para um olhar mais introspectivo a essa crise de identidade que o alter-ego do Demolidor, e aproveita também para desenvolver outros dois personagens que vem protagonizando a fase de Zdarsky: Wilson Fisk e o detetive Cole North. Desde que assumiu a prefeitura de Nova York, Fisk consolidou seu império do crime, promovendo uma verdadeira caçada aos justiceiros mascarados e mantendo nula a aplicação da lei. Porém, desde a morte do Demolidor não há mais nada a conquistar, e com isso, sente que está perdendo a gana. Por isso, sente que está na hora de começar um novo jogo. Ele reparte seu império do crime, e parte em busca de mais poder, do verdadeiro poder. Ele precisa de legitimidade. Ou seja, ele precisa controlar o governo. Já North Cole continua tentando fazer o certo, dentro um sistema essencialmente corrupto. E em sua inflexibilidade, o detetive começa a sofrer represálias, de dentro da própria polícia de Nova York.
Enfim, a fase escrita por Chip Zdarsky continua ficando cada vez mais complexa, e tem tudo para se tornar um novo clássico.