Gracias por el fuego

Gracias por el fuego Mario Benedetti




Resenhas - Gracias por el Fuego


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Sofia124 07/09/2023

Li em alguma outra resenha por aqui que a escrita do Benedetti é sedutora e essa é a palavra ideal. O cenário da história é simples, embora o começo possa ser confuso, com vários personagens, mas a forma como tudo vai desenrolando prende a atenção do leitor completamente. Essa foi uma recomendação de amigos uruguaios, li em espanhol e por vezes as expressões tão típicas e referências ao humor político do país me obrigaram a pesquisar algumas coisas, o que pra mim só tornou a experiência de leitura mais interessante. Ah, e também é um livro que toca diferente já que estou vivendo em Montevideo, e me pareceu um retrato excelente da sociedade uruguaia. Enquanto eu saía nas ruas, observava as pessoas, conversava com os nativos e entendia um pouco de sua história, cultura e política, o livro era como uma aula, que aos poucos ia me ajudando a enxergar tudo de forma mais clara, dando sentido à vida que vejo aqui. E isso é uma sensação indescritível.

A história é bem psicológica, caminhando pelos pensamentos e hesitações de Ramón Budiño, mas toca nas questões mais existenciais e filosóficas da vida sobre o que nos move, as nossas incoerências e hipocrisias. Benedetti põe o dedo na ferida falando sobre amor, sexo, dinheiro, política e América Latina de forma minuciosa mas simples. É o segundo livro de autores uruguaios que leio e fico cada vez mais apaixonada pela literatura do país. Sem grandes plots, em um ritmo mediano que foca mais nos personagens e suas relações e por isso mesmo me cativou totalmente.
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alinenobile 12/02/2011

Indicação
Isto não é uma resenha mas uma indicação.

Este livro é feito nos moldes exatos para os adoradores da literatura sul-americana. Contém todos os elementos nas formas necessárias.

Além disso, indico a todos os fracassados depressivos da vida, que culpam país e pais por sua fraqueza e seu fracasso, posto que obviamente precisam de outrem em qual colocar a culpa e a causa de sua incapacidade e incompetência já que não podem suportar que o erro está todo em si.
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Rosa Santana 07/01/2011

Gracias por el fuego, de Mário Benedetti, editora L&PMPocket, 266 páginas.

Ramon Budiño, personagem narrador, é um homem de cerca de quarenta anos, casado com Susana e pai de Gustavo, um estudante de esquerda. Sua fonte de subsistência é uma agência de viagens, cuja compra fora financiada pelo pai, Edmundo Budiño, um figurão da mídia e da política uruguaia. Ocorre que o filho não aceita as tramas urdidas pelo pai (trapaças, enganações e subornos), com o objetivo de ganhar dinheiro, seja a que preço for e atingindo a quem for... Daí sua auto-condenação já que recebera dinheiro proveniente de tão abomináveis práticas, segundo seu senso ético-moral. Daí sentir-se “desacomodado em minha classe porque meu bem-estar econômico me dói como uma culpa, como uma má consciência”. (página 234)

Ramon nos leva com ele em suas profundas reflexões acerca da vida, do relacionamento familiar, de si mesmo: tanto no que tange ao seu papel de pai, como também ao de ser filho de Edmundo Budiño, homem tão influente, mas, em contrapartida, tão digno de desprezo... É aí, como filho, que ele mais se mostra: inadaptado, incompreendido, infeliz... Um filho que lamenta o fato de seu pai ter deixado de ser o “Papai” de um menino sensível, terno e amistoso, para se transformar no “Velho”, aquele asqueroso homem desprovido de princípios éticos. E é essa a sua incansável busca: descobrir em que momento isso se deu...

Com uma narrativa muito bem estruturada, o personagem vagueia no tempo fazendo uso de uma técnica magistral. Assim, no mesmo momento em que aparece refletindo sobre seu filho, esposa, trabalho, sobre fatos da vida presente, de uma frase para outra salta vinte, trinta anos e passa a relatar sua infância, seus traumas, alegrias e medos... E com a mesma maestria, volta ao “tempo real”. É o que a teoria da narrativa chama de “tempo psicológico”.

Mas esse tempo em que o personagem ‘se perde’, é um tempo circunscrito apenas à sua vida, à sua infância, como um meio, mesmo, de compreender-se a si e aos que o rodeiam, buscando, sobretudo, compreender o entrelaçamento da sua história com a de seu pai e as conseqüências disso na sua amarga e angustiante existência. O que conta, para Benedetti, é o homem e seu estar-no-mundo agora, assomando-se ao discurso de Carlos Drummond de Andrade, nos versos “Estou preso à vida, / à vida presente/ aos homens presentes”. E para resolver esse “tempo presente”, doloroso e difícil de aceitar, não poderá contar com nenhuma entidade mítica; nenhum Deus virá em seu auxílio, e, mais, ele não se transubstanciará em nenhum ente espiritual, não terá outras vidas para sair da situação em que se encontra. Transformá-la em algo mais aceitável, mais “palatável”, caberá a ele e puramente a ele. E apenas uma, e trágica, saída se lhe apresenta: matar o “Velho”! Só assim ele se resgatará de toda a infâmia que o cobre e se tornará livre!

E, em uma bela e radiosa manhã, que gostaria turva e plúmbea para combinar com seu estado de espírito, ele acorda decidido a cumprir a missão a que se propusera: matar o “Velho”, aquele ser abjeto, que “tapa, com sua presença odiosa a presença querida de Papai, que desaloja com sua espessa prepotência a sensação de segurança que Papai me dava. (231) Envidando conscientemente todas as precauções para que ninguém de nada desconfie, ele toma normalmente o café da manhã com o filho, e, apesar de sentir ímpeto de abraçá-lo, não o faz, para não sair do costume cotidiano... Vê na rua um amigo, com quem bate papo, passa na casa da cunhada, por quem é apaixonado e lhe pergunta se ela não se dispõe a segui-lo, ao que recebe um não, como resposta... Encontra-se com uma bela amiga e saem juntos para uma furtiva relação sexual; passa na empresa, toma algumas medidas “urgentes” e, munido de seu revólver, vai em busca do pai para, enfim, realizar o parricídio...

Contudo, o prazerosamente decidido (pág. 244) assassinato, não acontece... Uma vez no escritório do pai, o propenso assassino, enquanto espera seu alvo, é tomado por reflexões como “Suponhamos que ele abra essa porta e eu consiga ver seus olhos. Esse é o perigo. Porque nem sempre me olha com os olhos do Velho; de vez em quando me olha com os olhos de Papai. Ainda não estão definitivamente mortos, os olhos de Papai. Ou, se estão mortos, a capacidade histriônica, a magistral hipocrisia do Velho, permite que ele os imite. Mas como posso saber se é só falsificação? Sei que se me olhar com os olhos de Papai não poderei apertar o gatilho. E então tudo estará perdido para sempre. Terá me derrotado definitivamente e, a partir desse instante, serei um lixo.” (245).

Assim, outro problema se lhe divisa: ou ele pode matar o Papai, e isso ele não quer; ou pode ser magistralmente enganado pelo Velho, que fingirá ser o Papai para escapar da morte, e rendê-lo definitivamente... E nesse antitético estado, ele percebe que a solução melhor é matar-se a si mesmo, estatelando-se do nono andar: essa é sua vitória contra Edmundo Budiño, vulnerável, agora, porque verdadeiro e comum, diante da dor da perda do filho que, confessa, amava...

E, acima de tudo, essa é sua vitória, porque, decidamente, assassinara o “Velho”...
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Destaquei vários trechos, mas são longos, por isso transcrevo aqui apenas um deles, o que considero mais significativo:

"...vi que a morte está se vingando sempre das nossas vacilações; nossa vida se compõe de três etapas: vacilar, vacilar e morrer; a morte, ao contrário, não vacila diante de nós; nos mata e se acabou; o grande espião, a formidável quinta coluna que a morte instalou em nós, se chama escrúpulo; (...) não sou contra o escrúpulo; mas é a quinta coluna da morte; porque graças ao escrúpulo, vacilamos, e nos passa o tempo de gozar, de gozar esse minuto feliz que, como graça especial, foi incluído em nosso programa; passamos toda a vida sonhando com desejos não-satisfeitos, recordando cicatrizes, construindo artificial e mentirosamente o que poderíamos ter sido; constantemente nos estamos freando, contendo-nos, constantemente estamos enganando e enganando-nos; cada vez somos menos verdadeiros mais hipócritas; cada vez temos mais vergonha de nossa verdade; por que, então, não posso fazer possível o seu minuto feliz?; além disso, tenho curiosidade, reconheço, em saber se não poderá ser também meu próprio minuto feliz; talvez seja o de ambos; quero dizer que não temos que dar vantagem à morte, porque ela não nos faz a mínima concessão; depois que você estiver morto e eu morta, já não haverá retrocesso possível, não será possível voltar a esse instante que você me deseja desesperadamente e eu sou ainda dona de minha decisão(...)"

De Dolores, cunhada e alvo do amor de Ramon, para ele (203)




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Lia 29/10/2010

Se já amava Benedetti antes, depois de ler esse livro me apaixonei de vez. O que acho mais incrível é que ele escreve as coisas mais cruéis e doloridas de uma forma simples. Ele pega leve e vai fundo. Gracias por el fuego, é a história de um homem, Ramón Budiño, desiludido com a vida, que tem uma relação muito complicada com o pai e acredita que a única forma dele se salvar, salvar a sua família e o mundo é se o pai estiver morto. O livro é muito duro, mas acho que mostra com clareza como é difícil amar. Como o amor pode despertar em nós sentimentos e sensações que nos deixam a beira da loucura, como pode nos tornar mais fracos e vulneráveis. Apesar de triste gosto da forma com que Benedetti fala sobre isso. Talvez esse livro converse um pouco com A trégua.
Renata CCS 30/10/2013minha estante
Li A Trégua recentemente e me apaixonei pelo livro. Este me parece uma boa opção para o próximo Benedetti a ser lido!




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