JCarlos 07/06/2012
Um regresso no tempo ao ano 28 DC e a busca pelo Jesus histórico
Nao há como comparar "Eis o Homem", de Michael Moorcock, com a fantástica série Cavalo de Tróia, de J J Benìtez.
Contudo, gritantes são as diferenças, apenas em comum o retorno no tempo à época de Cristo.
Bem. O livro “Eis o Homem”, tradução portuguesa de "Behold, the Man", foi escrito por Michael Moorcock, na decada de 60, tendo ganhado o prêmio Nébula de 67, e já causando protestos das comunidades cristãs, tanto é que o próprio autor afirmou que reembolsaria o valor de compra de cada exemplar àqueles que lhe escreveram opinando que devia ser morto ou, tirando isso, duramente castigado por escrever acerca do tema.
O autor é mais conhecido por escrever ficção-científica e criar personagens fantásticos como o albino Elric de Melniboné, na linha espada e feitiçaria, de Conan e Krull. Este livro, publicado em Portugal, por certo, deve ter tido restrições no Brasil, dado ao tema tratado, pois não houve lançamento nacional.
Na narrativa, Karl Glogauer, um frustado estudioso de psicologia, assombrado pelas teorias junguiadas de sua esposa Mônica, esta psicóloga formada, não mede esforços em se voluntariar ao experimento de uma máquina do tempo, viajando de volta ao ano 28 D.C., onde objetiva se encontrar com o Jesus histórico.
Glogauer é apresentado como realista, complexo, contraditório, emocionalmente e psicologicamente confuso grande parte do tempo. Logo de início é abordado no deserto, onde a máquina em forma de útero caiu e se avariou, sendo levado a João Batista.
Conhecedor dos fatos narrados na Bíblia, inicia sua jornada para encontrar Jesus de Nazaré.
Porém, o que encontra é frustrante e, tentando recriar os fatos conhecidos até então, representa toda a via crucis e os milagres de Jesus, sendo confundido com o próprio Cristo.
Brilhante, embora confesse que me angustiei com a construção do enredo. Talvez porque o tema incomode à minha cultura cristã, talvez porque a abordagem tenha excessiva em cima de arquétipos junguianos, onde o autor procura sugerir respostas alternativas aos fatos transcritos no Novo Testamento, aos temas da imitação de Cristo, da essência do Cristianismo, divagando sobre religião, psicologia, medo, fé e ciência. Talvez porque o texto possa soar, em algumas passagens, como blasfêmia.
O personagem mostra uma complexidade de caráter intrigante, com constante crises de nervos, fazendo com que a toda hora me perguntasse porque ele fazia isso ou aquilo e porque continuava a fazê-lo, sendo sabedor de toda a história, considerando sua condição de viajante temporal.
O livro é curto, portanto, tenho que não suficiente para uma maior construção do personagem. Talvez de forma proposital, pois instigaria o leitor a moldar a imaginação e se colocar no local do viajante, com toda aquela crise de nervos, incertezas e inseguranças, especulando sobre o que variamos e como nos comportariamos, se lá estivesse.
“Cristianismo não foi mais do que um nome novo dado à conglomeração de antigos mitos e filosofias. Tudo o que os Evangelhos fazem é recontar o mito do sol e truncar idéias dos gregos e dos romanos.”
“Não aconteceram milagres — esses foram inventados mais tarde, emprestados daqui e dali”.
“— Não pode ser — murmurou o louco. Podia a História ter mudado? Estaria ele numa outra dimensão em que Cristo nunca existira?”
“— Havia dúzias de messias na Galileia naquela época. Que tenha sido Jesus a carregar o mito e a filosofia foi uma coincidência histórica...
— Não pode ter sido só isso, Monica.”