Cássio Cipriano 08/12/2022Uma narrativa previsível regada há muito hot explícito"Ele" estava na minha lista há um bom tempo e cheguei a ouvir opiniões mistas a respeito, de leitores que amaram e que odiaram. Resolvi ler agora porque estou numa fase de leituras mais hot. Já sabia que ia me deparar com alguns problemas, tais como o perfil mais heteronormativo dos protagonistas. Então, não criei muitas expectativas em torno disso e até achei que, dentro do possível, as autoras não foram tão problemáticas assim, mas reforçaram alguns estereótipos que me incomodaram bastante e acho bem característicos em obras LGBTQIA+ escritas por autores hétero (algo que representa mais a maneira como eles nos veem do que necessariamente a maneira como somos), por exemplo, o fato de Ryan Wesley (Wes) se colocar na maioria das situações como alguém que não merece ser amado, achar que está envergonhando, incomodando ou algo do tipo, e eu entendo que isso seja parte da construção de personalidade do personagem, que é um homem adulto gay assumido no meio esportivo, que é extremamente machista e heteronormativo, algo que inevitavelmente afeta a autoestima de Wes, mas ao longo da história a gente não percebe isso sendo retratado como um "problema". É como se ele se conformasse em ter que viver dessa forma, numa espécie de "submundo" por ser gay, e tá tudo bem, porque é assim que um gay tem que viver e se conformar, no meio dos héteros.
Outra coisa que me incomodou bastante é que há vários diálogos que reforçam a existência de "coisas muito gay" e os protagonistas não querem ser associados a essas coisas, e a gente sabe muito bem o porquê, né? Eles são padrão e, por isso, admitem ser associados ao estereótipo de "machão" no imaginário social ou daquele "gay que não parece gay". Em alguns momentos, eles também têm atitudes um tanto machistas, por exemplo, quando chamam atletas que estão treinando com "Vamos lá, garotas!" ou "Se mecham, mocinhas!", aquele velho estereótipo do homem que trata o outro no feminino pra fazer "chacota".
Por fim, não achei a narrativa tão interessante. A premissa é basicamente a de dois amigos que se conheceram na pré-adolescência, têm um breve envolvimento e se afastaram por conta disso, mas se reencontram já adultos e se reconectam. E é isso! Os acontecimentos na história são muito lineares por esse percurso. Não há muitos obstáculos, não há pontos de virada. É tudo bastante previsível e sem grandes surpresas. Os pontos culminantes ficam por conta apenas das cenas hot, que são bem explícitas, mas não achei bem escritas. É como estar lendo um filme pornô, e não vejo problema nenhum nisso, mas eu não esperava que a "cereja do bolo" ficaria só por conta do hot. Tipo, fora isso, é uma história bem sem gracinha, mas vale a pena por abordar um romance entre dois atletas bem-sucedidos, desafiando os padrões do mundo dos esportes e enfrentando preconceitos para ficarem juntos. No fim, tem momentos fofos e emocionantes, como o acolhimento de familiares, amigos e colegas de trabalho.