Jô 15/04/2024
A premissa da história é interessante. De uma perspectiva que poucos sabem, o autor soube muito bem nos aderir a um universo da tecnologia, dos códigos e dos números. Pode algum leitor se sentir perdido, porém conseguirá ir se acostumando conforme entender as raízes de toda a trama. Somos apresentados a uma agência pouco conhecida e por um corpo de personagens com habilidades desconhecidas. Você é apresentado a uma perspectiva diferente de construção de um suspense envolvente. Pode somar isso ao fato da escrita dele ser extremamente fluída e simplória, algo que esperava o contrário.
Se passando hora nos Estados Unidos e hora na Espanha, a dinâmica do suspense se torna ainda mais envolvente. Apesar desses elementos que comprometeriam horas de um dia nas páginas deste livro, fui pego por uma jorrada de clichês. Enquanto a história se desenrolava, parecia que eu estava vendo um filme de ação estadunidense de sessão da tarde. Você pode encontrar vários esteriótipos comparando esses filmes com este livro: o uso das palavras ?maior? e ?os melhores? são facilmente encontradas na narrativa para descrever a NSA e sua equipe. Nos diálogos, piadinhas envolvendo mulheres e seu corpo. Além disso você tem um inimigo que deseja se vingar dos EUA que ameaça sua soberania. E sempre, o inimigo é o estrangeiro. A bola da vez foi um inimigo japonês vingativo e não um russo invocado ou um chinês comunista.
Durante toda a história, o autor colocou Tankado como o inimigo da história. No seu desenrolar, vemos que a situação é bem mais complexa, alimentando o clímax final da história. Porém, em momento algum Tankado deixou de ser o bonzinho, e se tornou o principal causador do caos em todo o livro. Fato é, podemos compreender, em partes, o por quê desta prepotência estadunidense que conhecemos até hoje nos filmes da Hollywood. O livro foi publicado originalmente em 1998, uma década de finalização da Guerra Fria e o posicionamento dos EUA como principal potência mundial. É a partir daí que podemos entender tamanhos esteriótipos presentes nesse livro, e consequente, também, nos filmes da época.
Os personagens não me conectaram muito. Torcia por Becker sair ileso de sua aventura na Espanha e ao mesmo tempo conhecia alguns detalhes culturais do país. Outros detalhes questionei por não saber a veracidade do que é narrado. Susan, por outro lado, está sempre buscando uma forma de solucionar o Fortaleza Digital e por isso, cada vez mais somos apresentados, através dela, da complexidade do seu trabalho na agência.
Mas nada superou o que eu já esperava: um final totalmente pré-moldado como nos filmes da Hollywood. A história se finaliza com os EUA crente que salvou o mundo dos países subdesenvolvidos vistos como sujeitos perigosos. O inimigo estrangeiro vencido e o final feliz para todo o sempre. Se já ouviu alguma história assim, esta aqui não será diferente. Porém, o que importa nesta história não é seu final, e sim seu conteúdo enraizado na decifração de códigos.
Considerando o contexto da década de 90 quando este livro foi publicado, eu invisto em um ponto muito positivo nesta história: o poder de dar a voz a um ramo totalmente desconhecido que trabalhe com códigos, com segurança, tecnologia e informação. Os interessados e atuantes na área de TI, computação e semelhantes, é, sem dúvida, um suspense obra-prima. Ignorando os clichês, qualquer leitor poderá encontrar nessas páginas uma nova experiência. Basta desbravar o desconhecido.