Jô 16/04/2024
Intensa porque ela trata de assuntos muito atuais como o racismo, lutas travadas a tantos anos, mas que infelizmente tiveram menos progresso do que merecem. Surpreendente porque achei sinceramente que esse seria o livro que eu menos gostaria. Electra é a mais jovem das irmãs e a mais rebelde também e achei que por isso eu sentiria um pouco de preguiça dela. Mas muito pelo contrário. No decorrer da história vi o quando ela é uma personagem muito forte. Todas as irmãs D?Aplièse são, mas Electra tem algo a mais. Culpa do nome dela ou não ela tem uma intensidade de sentir as coisas que foi muito bem construída na história.
Como de praxe, a narrativa começa com Electra se lembrando do que fazia quando descobriu que seu pai morreu, em uma sessão de terapia. Apesar de não acreditar muito na psicologia (ela julgava já saber tudo o que os psicólogos a diriam), ela dava uma última chance para o tratamento. Electra começou a trabalhar como modelo aos 16 anos e rapidamente se tornou um fenômeno mundial. A fama e o sucesso, em alguém tão nova e com uma inquietude ainda não compreendida dentro de si, a levaram para os caminhos das drogas (cocaína) e da bebida (vodca). Por muitos anos esse vício a acompanha, tentando esconder de tudo e de todos, principalmente de sua família. A morte de seu pai desperta nela algo muito mais intenso e ela mergulha mais fundo no vício.
Ela então começa a sua jornada de cura, se apoiando nas mulheres incríveis que tem ao seu redor, cada uma com uma força diferente. Mariam, Lizzie e Stella, Marina, Maia e suas outras irmãs. À medida que ela conhece mais sobre Cecily, a antepassada protagonista de sua história ancestral, ela se reconecta com sua essência. A história de Cecily, assim como a de Electra, é cheia de muito preconceito, luta, reviravoltas e batalhas internas. Duas mulheres que lutam para encontrarem a força dentro de si para seguirem seu propósito de vida.
A forma como a autora tratou a questão do vício foi muito interessante. Ela não tornou a história ao redor disso pesada, mas muito verdadeira. Mostrou que há caminhos para a vitória e que é possível sim se recuperar. Os personagens coadjuvantes que compõem a narrativa tanto de Electra quanto de Cecily são muito bem construídos, exercendo funções importantes no desenrolar da história e na evolução das duas protagonistas. A escrita, assim como nos outros livros, é bem envolvente e simples de ser acompanhada.
Eu só gostaria de ressaltar que o enredo da Electra estava tão interessante que eu queria que a autora tivesse elaborado ele mais do que o de Cecily. Quando aconteciam as trocas de ponto de vista eu ficava doida para voltar para o da Electra, para continuar acompanhando sua trajetória, me envolveu muito mais. Talvez o romance dela poderia ter sido melhor desenvolvido, se tivesse tido mais espaço. Ainda assim, a vida de Cecily, apesar de ter tido um começo lento, logo se tornou extremamente envolvente.
Destaco também a maneira como Lucinda Riley tratou os movimentos anti-racistas na história. Eles assumiram o protagonismo da narrativa das duas mulheres e se cruzaram inclusive com o mundo das drogas e do vício, a realidade triste dos bairros mais pobres de Nova York apresentados. Foi interessantíssimo ver Electra, aos poucos, descobrir sua voz no meio dessa luta tão importante e se apoderar de seu lugar.
O epílogo da história foi chocante (apesar de que eu imaginava que Lucinda Riley estivesse caminhando para essa revelação) e me deixou ainda mais empolgada para o próximo livro. Quero deixar registrado aqui nos anais da história minha suspeita desde o primeiro livro, para que depois eu tenha uma prova de que gostaria que acontecesse, caso venha de fato a ocorrer: espero ansiosamente pelo momento em que vamos descobrir que Pa Salt estava vivo e tudo isso que ele fez foi para dar uma empurrada nas meninas para elas irem construir a própria história. Lucinda, por favor, realize meu desejo, nunca te pedi nada. Não sei, porém, como me sentiria se isso virar realidade.