Pedro_hsds 06/06/2024
"O corpo do meu pai, nunca foi apenas dele".
O livro, conta a história de Pedro, um jovem negro que navega pelas memórias e traumas de seu pai, Henrique, um homem que desde de jovem enfrentou os mais inimagináveis absurdos em decorrência de sua pele preta e do lugar onde viveu sua vida, por ser um dos ambientes mais racistas (se não o mais) de todo o país, o Rio Grande do Sul. Apesar de todas as dificuldades, Henrique cursou faculdade de letras, se tornando professor de escolas da rede pública, sendo ele dono de um conhecimento ímpar, desde muito jovem entendeu que sua maior arma seria seu conhecimento e tentou ensinar isso aos seu filho, bem como aos seus alunos, todavia, diante de todas aquelas armas apontadas para si, na fatídica noite em que foi cruelmente assassinado, seu conhecimento não lhe serviu de escudo.
No decorrer da história, Pedro recorda com um misto de sentimentos os ensinamentos de seu pai, e passa a compreender o motivo de imprimir tanta ênfase ao ensinar-lhe a "Nunca baixar a cabeça para ninguém." Seu pai, sempre lutou para ser reconhecido em uma sociedade racista, e ensinou Pedro a valorizar a educação como forma de resistência. Ainda, presenciamos um relato sensível sobre como o pai enfrentava o preconceito diário, tentando manter a dignidade e força diante de tantas humilhações, em situações escancaradas e estruturais.
A morte brutal de Henrique é um marco na vida de seu filho, bem como na nossa como leitor. Não foi uma surpresa que a partida dele tenha ocorrido desta maneira, bem como não se trata de uma situação isolada ainda hoje. A violência policial é rotineira e particularmente direcionada aos negros, assim como fora particularmente relatado na obra, pois os corpos negros antes valiam e hoje continuam valendo menos que os brancos, aos olhos míopes desta sociedade racista.
Nesta senda, Pedro tenta entender sua história e identidade enquanto lida com este trauma, até perceber que "lembrar é uma forma de resistência," e que sua própria existência é um ato de resistência contra o racismo sistemático que destrói vidas e sonhos, conforme ensinado pelo seu pai.
Por fim, podemos concluir que a jornada de Pedro, trás à tona a profundidade das injustiças sociais e raciais ao ponto do maior questionamento do livro reverberar dentro de nós sem parar: "Quantas vezes um homem negro precisa morrer para que sua vida tenha valor?" Definitivamente a narrativa pessoal do personagem torna-se uma voz poderosa contra a opressão, destacando a importância de reconhecer e valorizar as vidas negras, e precisa de visibilidade!