Franco 25/01/2020
A proposta do livro - ensinar uma forma (não fórmula) atemporal de estrutura narrativa - é bastante interessante e parte de premissas ainda mais interessantes - estudos antropológicos e psicológicos.
Assim, o livro funciona bem para aquele tipo de leitor curioso que, por algum motivo, quer tomar conhecimento de algumas curiosidades sobre a fantástica arte (ou técnica?) de contar histórias, sejam elas orais, escritas ou cinematográficas.
E o livro também funciona bem para o leitor interessado no próprio funcionamento da contação de histórias, já que dá dicas bastante diretas para entender melhor uma história e, inclusive, para contar/escrever uma história própria.
Aliás, talvez esse seja o grande apelo do livro: fornecer um breve, claro e versátil manual para criar uma narrativa afinada à tal 'Jornada do Herói', que, supostamente, é um padrão narrativo entranhado na humanidade enquanto coletivo cultural e orgânico (ao menos é o argumento do autor).
E há o bônus da análise pontual de diversas narrativas populares (filmes sobretudo), e também de análises mais demoradas sobre alguns blockbusters do cinema (como Titanic e Rei Leão).
Contudo, o livro tem algumas características que podem desagradar. A começar pelo viés místico que o autor deseja dar à teoria da 'Jornada do Herói'. Quer dizer, enquanto isso fala sobre roteiros e livros, ok; mas querer forçar isso como uma espécie de guia espiritual para qualquer pessoa durante as agruras da existência... bem, é uma sugestão que pode não ser do agrado de todos.
Há também uma nítida falta de explicação dos conceitos junguianos, justo quando eles são fundamentais para entender a razão de cada personagem (ou arquétipo) numa narrativa. Ou, se não faltou a explicação, faltou então coerência na explicação dada (não li Jung, então não tenho bases para avaliar com claridade... mas certamente este livro não nos dá essa base).
E há, por fim, uma falta de delimitação do alcance da 'Jornada do Herói'. O próprio autor reforça que não é uma fórmula e que ela é flexível, ajusta´vel; porém, ele leva a isso tão adiante que parece que tudo, absolutamente tudo, pode honrar em parte o conceito de 'Jornada do Herói'. Ora, se está/pode estar em tudo, então perde a graça da distinção.
Ainda assim, dou 4 estrelas. Busquei o livro interessado na arte/técnica da narrativa, e nesse aspecto ele é inquestionavelmente enriquecedor.