Lari / @palavrasdalari 30/07/2020
Por trás de um triste véu
Tentei encontrar um verso ou uma frase de impacto para começar essa resenha, mas não consegui. O choro me calou, todas as vozes que gritaram nesse livro me fizeram parar para escutá-las e levar adiante tudo o que eu senti lendo Por trás do véu.
Esse é o quarto livro da série Viajantes, e dessa vez, contará a história de Maala. Sim, a mesma maala que aparece em o bebê da firanghi, e que por julgamento meu, acabei julgando o livro pela capa, e me enganei.
Há pessoas que guardam as mais terríveis cicatrizes por baixo de um véu. Só que é preciso ser muito atento para notá-las, porque a vergonha e a dor as impede de expor.
Como toda tradição indiana, maala fora prometida em casamento a Ravi. Entretanto, ele acabou se apaixonando no meio do caminho por outra mulher, Sam, e as chances de uma possível salvação para Maala estava indo por água abaixo... Afinal, porque ela tinha essa urgência em casar-se? Porque o seu Baldi era tão grosseiro? E porque havia monstros que nem a mais clara luz era capaz de mostrar numa sociedade tão machista quanto a nossa?
Tantos questionamentos... Tantas peças de um quebra cabeça em que fui montando ao longo da história... Por trás do véu de Maala,a mulher corajosa, havia uma menina que temia seus primos, uma menina que temia seu pai, uma menina que temia o mundo... Por trás do véu, havia uma mulher sufocada pelos abusos que sofria, pelos pedidos de socorro em vão, pela vontade de sumir... E até morrer diante de tanta dor...
Por trás do véu há feridas que machucam e ardem e doem... Ahhh Maala, senti a sua dor, os seus medos, as suas angústias...
Ela era tal qual uma borboleta presa, até que Dylan surge em sua vida.
Tão ferido quanto ela, ele teve em seu passado, uma mancha do que a sociedade machista cruel indiana era capaz de fazer, e ainda fazia.. diante do seu passado, decide então construir um futuro em que meninas não passem pelo que sua irmãzinha passou.. até conhecer Maala e compartilhar junto com ela a sua dor, cuidando e tratando das feridas dele próprio e das dela...
Diante do seu histórico de homens machistas e cruéis, a borboleta se fechou em seu casulo, mas ele foi capaz de fazê-la abrir novamente seu casulo, e inclusive erguer suas asas e lentamente alçar voo.
Mas até onde será que Maala iria? E Dylan iria com ela nessa jornada?
Não consegui não chorar lendo essa história... Não consegui não sentir empatia, não consegui não me revoltar por ver um mundo tão filhadaputamente machista, e saber que esse mundo é tão real, me doeu.
Não consegui não torcer pela Maala
E não consegui não me apaixonar pelo Dylan.
Fiquei profundamente tocada
Profundamente marcada
E profundamente revoltada.
Amei a história, amei o jeito com que foi escrita, e só me doeu saber que há muitas borboletas que tem suas asas silenciadas e suas vozes cortadas por conta de abusos sexuais, físicos e psicológicos...
Mas o que me dá esperança é entender que apesar do mundo cruel, ainda temos voz suficiente pra gritar, para que cheguem em outras mulheres e que há várias Maalas guerreiras por aí... Há Maalas que levantam a sua voz sem medo...
Eu amei esse livro
Ele me fez refletir bastante... Me fez ter empatia e até entender que até com personagens a gente não pode nunca julgar!
Uma história de amor
De dor.
De sofrimento
Mas também uma história de superação
De felicidade
E de saber que sempre teremos o nosso pote de ouro lá depois do arco íris
Viva a maala!
Por trás do véu sempre há algo inesperado