Samarimanta 19/11/2011
O mórbido nunca foi tão atraente!
Nossa! Como começar essa resenha?
Comecei a ler esse livro por indicação do próprio autor, o brasileiro Dark Gero. A princípio imaginei que fosse mais um desses livros de terror - pior, de contos -, desses autores nacionais amadores. Nada contra, torço por todos e sempre leio e critico com a maior sensatez possível.
Mas eis que Obscura se mostrou uma surpresa estonteante!
Sim!
Nada de previsível nas páginas dessa obra maravilhosa. Há o mórbido, a escuridão, as paisagens sombrias e solitárias, aquelas coisas que morríamos de medo quando adolescentes (como o jogo do copo), o vudu, magia negra, e claro, fantasmas!
A narrativa é bem fluída e muito bem desenvolvida, o que não deixa a leitura cansativa em momento algum! Ele tem o dom de prender a atenção, isso é fato!
O livro assusta? Depende que quem lê. Eu me arrepiei em alguns momentos, fiquei com medo do escuro após ler até duas da manhã e fiquei chocada em algumas cenas. Mas para isso é preciso mergulhar na trama e se pôs no lugar dos personagens. li vários livros de meu autor preferido de terror, Stephen King (Long live the King!), mas poucos me fizeram sentir a sensação de medo que tive ao ler Obscura. Isso é bom? Isso é excelente! Um autor nacional fazendo em poucas páginas o que King enrola em oitocentas? Orgulho tive ao ler a última página!
Mas vamos à minha análise dos contos:
A CADEIRA DE RODAS: O clima do conto é aterrorizante. Aconselho a lerem ouvindo alguma música sombria de fundo (baixo as trilhas de filmes de terror). Uma jovem de favor em um casarão em uma cidade grande, com hóspedes estranhos e pouco amigáveis... e uma cadeira de rodas... Ai, ainda me lembro de algumas passagens de dar medo. O ponto negativo é que o conto mesmo não sendo pequeno, acaba rápido e ficamos meio que insatisfeitos, querendo mais.
ESPANTALHO: Comparado aos outros contos, este parece ser ruim, mas não é. É curto e objetivo, dá pra ver que o autor não se focou tanto no suspense e no medo, e sim no desfecho, que fez o conto valer a pena. É um conto inteligente e surpreendente, mas poderia ter sido melhor, se o suspense tivesse sido prolongado. De qualquer maneira, me agradou bastante.
CAIM: Um dos meus preferidos e o que mais me surpreendeu. Nossa! Um irmão querendo matar o outro por inveja entranhada. Como isso poderia acabar? Acredite, você não vai adivinhar! Não é um conto de terror e nem sobrenatural, mas mostra bem a pior parte do ser humano, e o suspense é insuportável.
O CEMITÉRIO SECRETO: Esse conto é em parte divertido. A crueldade com que Dark Gero acaba com seus personagens chega a ser sádica. É um conto com crianças, mas extremamente adulto. Você seria capaz de matar um jovem inocente para salvar sua própria vida e de seus amigos? Qualquer coisa a mais que eu fale será spoiler. Melhor ficar calada!
OBSCURA: O mais sombrio, tenebroso e inteligente conto do livro. Não é à toa que esse conto dá título à obra! Nossa! A personagem principal procura por sua filha desaparecida e é levada até uma ilha onde funcionara um luxuoso hotel, agora abandonado. O clima de solidão e melancolia me lembrou "O Iluminado" do King, mas a comparação acaba por aí. É o conto mais assustador, com jogos de palavras sacadíssimos e um desfecho de deixar qualquer um de queixo caído. Segundo Dark Gero, o conto foi inspirado no jogo "Silent Hill" e no livro da rainha Agatha Christie, "O Caso dos Dez Negrinhos".
Definitivamente uma obra de arte do suspense e do horror.
ARLEQUIM: Depois de ler o conto Obscura, tive certeza de que nada mais me surpreenderia. Mas aí comecei a ler Arlequim, e descobri o quanto estava terrivelmente errada. Arlequim, para começar, não tem uma classificação certa; o mais próximo que consegui rotulá-lo foi "drama visceral". Vi esta palavra em várias resenhas sobre o livro, e ela se encaixa perfeitamente, mas não serve para defini-lo. Juro que chorei enquanto lia, principalmente as últimas páginas, quando me aproximava cada vez mais do fim. E que fim!
Ariel, a Arlequim, é uma dançarina de uma boate de striptease, onde o tímido Samuel é levado por seus amigos. Arlequim a cada noite que dança escolhe um da plateia para agraciar com uma noite de prazer. E adivinhem quem ela escolhe. Depois daí, os rumos se perdem totalmente e Samuel é levado aos limites de sua sanidade e a lutar contra seus próprios conceitos em situações extremas. Eu gostaria de falar mais para incitar ainda mais a curiosidade de vocês e justificar o porquê desse ser meu conto predileto não só do livro, como de todos os outros contos que já li. Há algo de especial nessa história. Confiram, mas de coração aberto e mente aberta, sem pressa, para saborear cada momento! Tente segurar as lágrimas então.
Para mim não é um ponto negativo, mas as cenas de sexo são explícitas, com termos por vezes chulos, mas que só servem para deixar ainda mais real e à flor da pele.
Após ler esse livro, tenho certeza de que você ficará no mínimo curioso para conhecer as outras obras do autor. Ele me deu umas pistas do próximo enredo, mas não estou autorizada a espalhar por enquanto.
Enquanto isso, leiam Obscura, e logo depois, releiam. Vale a pena com certeza!