Resenhas - Dom Casmurro

Morgana Gomes 02/06/2024

Dom Casmurro [Resenha do e-book e audiobook]
Há tempos não leio um clássico da Literatura Brasileira. Dessa vez fiz a leitura acompanhada do audiobook e foi uma experiência interessante ler junto com a narração do Rafael Cortez. Foram vários capítulos tentando entender Bentinho e o famoso caso de traição daquela que tinha "olhos de cigana oblíqua e dissimulada".
Não lembro de ter lido esse livro antes, de modo que apenas conhecia o caso por alto. O fato é que a narrativa deixa essa questão em aberto, talvez era a intenção de Machado de Assis. Embora Bentinho descreva toda sua relação com Capitu e Escobar, não fica claro que ele foi traído. Quando ele fala do filho e de suas características, estamos vendo pelo olhar anuviado de ciúmes de Bentinho que podia estar vendo coisa onde não tinha. Para ter certeza, precisaríamos ler a versão de Capitu sobre os fatos e penso que seria uma história e tanto!
Digamos que não há provas sobre a traição, mas há de fato um Bentinho bastante dependente emocionalmente não só de Capitu, mas principalmente de sua mãe. Boa parte do início do livro é um lenga-lenga de Bentinho enamorado de Capitu e sem coragem de se opor à promessa da mãe de tentar fazê-lo padre. Em outra parte é um ciúme sem fim. Seria Capitu uma espécie fuga não só do destino como padre, mas também dessa relação materna? Ou estaria Bentinho projetando a relação da mãe na própria Capitu para ficar envolvido emocionalmente e depois buscar algo com o qual possa se opor e tentar quebrar um vínculo?
Não tenho respostas para essas perguntas e nem para outras tantas, mas são questões que surgiram durante a leitura. Se houve traição ou não, o que chama atenção em tudo isso é que sempre existe alguém comentando, tentando provar por A+B que ela de fato o traiu. Por que essa obsessão de provar que uma mulher traiu o marido? Seria porque é algo mais escandaloso do que se fosse ao contrário?
No fim, com traição ou não, a verdade é que muito da relação se perdeu por orgulho, ciúmes, falta de diálogo e incompreensão. Talvez para nós, leitoras e leitores, reste ter de lidar com o fato de que não há uma resposta certa e que cada um(a) terá sua versão e interpretação da história.