Karini.Couto 06/05/2024Um anticonto de fadas sombrio e originalDevoradores de livros trouxe um enredo original onde temos uma mãe em fuga com seu filho, isso já seria preocupante se ela e Cai não fosse parte das casas ou famílias, que diríamos que literalmente devoram livros para sobreviver, porém Cai é diferente, ele devora mentes humanas sendo uma perversão temida de sua própria espécie.
"... essa situação a lembrava um pouco de seu lado, quando sua casa era acolhedora: a calmaria fresca e escura da Mansão Fairweather, com seus corredores repletos de escuridão e bibliotecas banhadas por sombras.
Mas como assim devoradores de livros e mentes?
Devon é mulher e fértil, quando criança toda a história que seu "tio" contava parecia interessante, mágica... Tendo sido criada como uma "princesa" numa mansão, só que ao crescer descobriu que seu "reino" escondia muitos segredos sombrios.
As famílias, para manter sua espécie, fazem umas rodadas de casamentos arranjados com as poucas mulheres férteis que existe, Devon sendo uma delas. E pasmem, ao cumprir seu papel de procriar, as mães são separadas de seus filhos e retornam para sua casa de origem, casando-se novamente por um período e procriando de novo, até que tenha cumprido seu papel enquanto mulher nessa sociedade e descanse reclusa na mansão decadente da família.
Só que Devon teve um de seus filhos homem e devorador de mentes, o destino para quem nasce com essa condição é bem sinistro, na tentativa de salvar seu filho, ela foge e mesmo que deteste, o alimenta com mentes de pessoas que digamos, não farão falta. O menino, ainda uma criança, com o intelecto avançado devido ao que devora, está a beira de se perder. Com isso Devon precisa fazer novas escolhas, que requer se juntar a uma das famílias que possivelmente tem uma "droga" capaz de controlar a condição de Cai e quem sabe curar. Mas isso requer mais uma vez se submeter as leis e regras de uma das famílias.
"Devoradores de Livros" trouxe um enredo original, sombrio e com muitas críticas, apresentando a força do amor maternal, intrigas e segredos familiares numa sociedade discriminatória e cruel. Onde as mulheres não têm escolha sobre seus corpos, casamentos e se quer ou não ter filhos. São criadas com um papel a desempenhar, mantidas em rédeas curtas, sendo alimentadas especificamente com livros para as idades e etapas da vida, a fim de torná-las submissas e colaborativas.
Mulheres são criadas com uma alimentação cuidadosamente selecionada de contos de fadas e histórias de advertências. E crianças, quando se comportam mal, são forçadas a comer páginas secas e mofadas de dicionários. Eles devoram livros absorvendo todo o conteúdo expandindo as mentes. Homens devoram histórias sobre valores e aventuras. Eles não costumam ler, e sim comer..
Devon sempre deu um jeito de se alimentar de outras histórias enquanto "seu tio" não prestava atenção, tornando-a quem sabe "rebelde" e "pensante" e não o modelo exemplar pretendido.
Que enredo minha gente! Esse livro se tornou um fascínio e favorito em minha estante trazendo uma fantasia sombria sobre amor maternal, família, sociedade, amor queer com muita emoção, intensidade e comoção, sendo impossível não se ver completamente submerso nas páginas.
Nem sempre os finais são felizes e o que resta à uma mãe quando seu filho corre perigo e representa perigo aos outros?
Esqueçam qualquer conto de fadas que e pensem em um anticonto de fadas sombrio, e que nos mostra que o amor pode transformar qualquer um em Vilão a depender da situação em que se encontram.
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